sábado, 19 de outubro de 2013

"libertas que sera tamen"

Bom dia butequeiros,

faltando apenas 9 rodadas para o fim, já é possível afirmar que o Campeonato Brasileiro de 2013 é um dos mais fracos dos últimos anos. Nivelado por baixo, clubes como Atlético-PR, Vitória e Goiás encontram-se na parte superior da tabela. Os jogos, em sua grande maioria, são horrorosos, verdadeiras peladas. Os jogadores mal conseguem trocar 3 passes certos, a bicuda impera, a bola queima no pé, os atacantes parecem mirar a arquibancada na hora de chutar a gol. Ao final de 380 jogos, quantos serão memoráveis, quantos ao término poderemos pensar, foi um ótimo jogo? 

Paulo Baier, que completará 39 anos de idade no próximo dia 25, é um dos destaques, assim como Alex, do Coritiba. Vitinho, que começou a se destacar no Botafogo, foi rapidamente levado pelos russos. Neymar se foi. Bernard também. Um jogador muito acima do peso é um dos artilheiros. Na falta de elenco, garotos ainda verdes são puxados dos juniores e caem de paraquedas nos gramados. Várias vezes, aliás, para correr por jogadores cujo prazo de validade já está, há muito, vencido.

Como a paixão fala mais alto, somos praticamente "obrigados" a assistir quase que religiosamente (ou com grande frequência) aos jogos do nosso time. Mas a verdade é que o campeonato é fraco. E porque é tão fraco? Porque, dentre outros motivos, os clubes são ou estão fracos. Não há bom campeonato com clubes falidos, que vivem com a corda no pescoço e que mal conseguem pagar a folha e manter seus jogadores.

Os clubes no Brasil são, historicamente, desorganizados e mal administrados, em especial os clubes cariocas. Registre-se, apenas, que não somente clubes do Rio, mas também de outros Estados enfrentam dificuldades, como é o caso, por exemplo, do Palmeiras. Diga-se de passagem, o Flamengo é um dos poucos, senão o único clube que teve sua dívida levantada e auditada por uma empresa do porte da Ernest & Young (não por acaso a dívida mais do que duplicou). Porém, mesmo com todo o esforço no sentido de organizar, profissionalizar e bem administrar o clube, o que noto é existência de toda uma estrutura, todo um conjunto de regras, práticas e personagens que praticamente inviabilizam o fortalecimento e o enriquecimento do CRF. Aliás, não apenas do Flamengo, como dos clubes brasileiros em geral (há exceções odiosas). Aos clubes parece ter sido dado o papel de vaca leiteira, que tem a função de amamentar os mais diversos sugadores, enquanto a nós, torcedores, cabe o restolho, o desfrute de um leite aguado ou azedo.  



Assim o que vemos são Federações, Concessionários, Entes Federados, Empresários, Jogadores, Técnicos e outros ganhando seus milhões, muito bem, obrigado, enquanto os clubes vendem o almoço para pagar a janta ou se contentam em montar times medíocres (que machucam a pelota e nossas vistas). Agentes mandam nos clubes, que, enfraquecidos, se curvam, sob pena de não conseguir contratar ninguém. Os clubes tornaram-se reféns.

Acredito que precisamos rever a Legislação especial trabalhista dos jogadores de futebol. A Lei Pelé confere direitos demais aos atletas (se é que podemos chamar assim, já que muitos sequer se portam como tal) e deveres em excesso pros empregadores, os clubes. Não vejo razão para um trabalhador qualquer, no caso de rompimento do vínculo, ter direito a 50% do que teria a receber até o final de um contrato de trabalho por prazo determinado, enquanto que um jogador de futebol de um grande clube, que muitas vezes ganha em 1 ano o que um trabalhador comum não ganha a vida inteira, tem direito a 100% do valor. Pode-se argumentar que 90% dos jogadores ou mais são empregados de times pequenos, mas então que se crie normas próprias para situações distintas. Parece haver uma tímida iniciativa em se discutir a Lei do Passe (http://www.espn.com.br/noticia/361698_dirigente-revela-conversa-com-marin-para-volta-do-passe-ao-futebol-brasileiro) O ideal deve ser algo intermediário, entre o que já foi e como é hoje em dia.

Por outro lado, o que fazem as descartáveis e odiosas Federações com o dinheiro fruto da renda bruta - o que por si só já é um absurdo - da arrecadação de um jogo? Como podemos sair do vermelho se nem 1/3 da renda gerada pelo responsável pelo espetáculo chega aos cofres do clube? Os torcedores abrem a carteira, mas o dinheiro não chega.

Há que se considerar que o mercado da bola é mundial. Concorremos inclusive com mercados inundados de dinheiro obscuro, fruto de atividades ilícitas, máfias, lavagem de dinheiro ou exploração de povos (Sheiks). Não é tão simples contratar bons jogadores a preços reduzidos.

Por fim, sou fortemente a favor da desoneração dos clubes de futebol. A princípio, os clubes se tornariam empresas, mas isso não ocorreu. Clubes são associações sem fins lucrativos, cuja finalidade não é a obtenção de lucros, mas sim títulos. Dinheiro é meio. Reinvestem o que ganham no próprio clube. Não há acionistas, não se paga dividendos. A atividade encerra mero entretenimento, desporto, lazer. O Governo já arrecada demais, em cima de tudo, de todos e concede vantagens e benefícios a quem apresenta lucros bilionários, como Bancos, Seguradoras e ruralistas. A fome de arrecadação do Estado não encontra limites, sentimos isso na pele, mas é preciso um basta. Não me parece justo, nem razoável, que sejamos obrigados a conviver com clubes falidos e com times medíocres, porque o Governo tem que arrecadar mais e mais. Arrecadação, frise-se, que ainda seria justificável, caso nos fosse devolvida em forma de serviços ou outra contraprestação qualquer, mas que na realidade alimenta uma rede de corrupção sem fim, um Estado paquiderme e o pagamento de uma pornográfica taxa de juros.

Libertem os clubes de futebol! Deixem que sejam fortes. Queremos e merecemos assistir um Campeonato Brasileiro de qualidade.