segunda-feira, 9 de setembro de 2013

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Buongiorno, Buteco! Segunda-feira passada eu reclamei bastante da postura do time e do resultado da partida de domingo retrasado no Pacaembu, contra o Corinthians. Escrevi que compreendia o momento de dificuldades do time no ano e que não poderia esperar títulos e nem um time vencedor, técnico ou com muitas estrelas, porém tampouco aceitava falta de dignidade em campo e vexames com a camisa rubro-negra. Após a conquista de três pontos contra o Vitória no Maracanã no meio da semana, o Flamengo rumou para o Mineirão enfrentar o ataque mais positivo do campeonato com uma linha defensiva praticamente nova, por conta de desfalques, e alguns jogadores importantes e experientes em condições físicas precárias. O adversário, "mordido" pela eliminação na Copa do Brasil, queria vingança. A partida, naturalmente, despertou boa dose de ansiedade em muitos dos torcedores e amigos do Buteco, até pela instabilidade do time e alguns resultados desagradáveis fora de casa no campeonato, como contra o Bahia em Salvador, e contra o Corinthians, em São Paulo.

Não direi que o resultado foi satisfatório. Está longe o dia em que, como torcedor do Flamengo, direi que perder de pouco foi lucro, até porque o Cruzeiro não chegou a criar um caminhão de oportunidades que me permitisse escrever hoje que o placar não traduziu o que foi a partida. Muito pelo contrário, traduziu sim: o Cruzeiro dominou a partida, teve mais posse de bola e volume de jogo, porém foi muito bem marcado pelo meio de campo do Flamengo, que protegeu sua zaga e, na medida do possível, bloqueou também as jogadas pelas laterais. Em uma roubada de bola pelo meio e um rápido contra-ataque no início do segundo tempo, contudo, o Cruzeiro inteligentemente explorou o lado mais fraco do sistema defensivo rubro-negro, o esquerdo, e um cruzamento certeiro encontrou Ricardo Goulart sem marcação para finalizar com êxito e fazer o placar do jogo. Sem dramas, o Cruzeiro não foi tão avassaladoramente superior como muitos esperavam e teve a vitória na exata proporção que o seu futebol permitiu. Triste foi ver um Flamengo em campo sem qualquer poder de reação, sem conseguir articular jogadas pelo meio e sem condições de finalizar, de agredir o adversário. Bom foi ver Mano escalar o meio com a formação mais competitiva vista até aqui no campeonato, a explicação para o time não ter sido atropelado como no domingo anterior.

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Mano tem poucas opções no elenco e é difícil exigir dele um time mais agudo ou que articule melhor com as peças que dispõe. Por isso, não vou cornetar as opções que fez. Entretanto, intriga-me a situação de Elias. A impressão que passa é que ele jamais se recuperará das dores que tanto o incomodam no músculo da coxa. Ontem Elias praticamente se arrastou em campo. Sim, é um jogador importante, mas precisa estar inteiro. Não seria o caso de dar um tempo e permitir que o jogador se recupere e, assim, possa voltar a ser o melhor jogador do time?

Para os próximos confrontos, provavelmente Samir conquistará a vaga na quarta zaga, ao lado de Chicão, e Cáceres e Luiz Antonio serão mantidos no meio ao lado de Elias (espero que 100%). A questão é como tornar o time mais incisivo com as peças disponíveis no elenco. Adryan é um bom finalizador, mas não é jogador para acompanhar lateral. Bruninho, da mesma forma, parece ter características de jogar mais centralizado; porém, aparente ser mais veloz. Talvez possa ter mais chances.

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Final de primeiro turno e o Flamengo situa-se a exatos três pontos acima da zona de rebaixamento. Em 57 pontos disputados, conquistou 22, com cinco vitórias, sete empates e sete derrotas; saldo negativo de quatro gols, com 19 gols marcados e 23 sofridos. Apenas quatro times da Série A tiveram pior desempenho do que o Flamengo no setor ofensivo durante o primeiro turno do campeonato. Podemos dizer que, em seu primeiro ano à frente do Departamento de Futebol do Flamengo, a nova Diretoria transformou-o em nível administrativo, no extra-campo; porém, na atividade-fim, dentro de campo, o resultado e a qualidade de seu trabalho são rigorosamente idênticos aos de criticadas gestões anteriores, inclusive na montagem de um time que tem enorme dificuldades em articular jogadas ofensivas, em finalizar e marcar gols, bem como que orbita a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro da Série A.

É preciso levar em conta a herança que receberam e que, no futebol, há uma boa margem de erro e o fator imprevisibilidade. Gabriel, por exemplo, com 23 anos, foi a revelação do Brasileiro/2012, porém demonstra uma insegurança inesperada. Marcelo Moreno, consagrado e experiente, começou empolgando, mas parece desanimado e mais propenso a jogar a responsabilidade nos outros do que em se esforçar para melhorar, apesar de que as características do time, que não cria, não lhe favorecerem. O certo é que, antes do campeonato, falou-se em campanha digna, mas o que se vê é uma indigna luta para se afastar da ZR.

Os erros já foram neste espaço apontados e discutidos: sem ter a pretensão de esgotá-los, o elenco foi formado por jogadores que, individualmente, podem até ter vaga em vários times melhor colocados neste mesmo campeonato e sequer podem ser chamados de ruins; contudo, curiosamente, são quase todos péssimos no fundamento mais elementar do futebol, que é a finalização, e por isso formam um conjunto sofrível, um time rombudo e incapaz de agredir os adversários. Além disso, o elenco carece de peças em algumas posições, o que obriga a improvisações que muitas vezes impedem o treinador, que não teve participação na escolha dos atletas, de repetir a melhor formação possível. É o caso da lateral direita reserva e do segundo atacante, por exemplo.

Até mesmo erros grosseiros, tais como apostar apenas em uma opção de negociação para cada posição e viagens ao exterior, curiosamente à Disney, no momento do fechamento da janela, foram repetidos, assim como em gestões anteriores, levando ao desespero a torcida. Para uma Diretoria que foi eleita com um discurso de gestão profissional, o erro é patético e até desrespeitoso com quem apoiou e confiou num histórico movimento em busca de mudanças na gestão do clube.

De minha parte, é claro que o apoio continua. Sou inclusive sócio-torcedor e compreendo o momento difícil e de transformações pelo qual o clube passa. Porém, espero algo mais para que o ano termine com um mínimo de tranquilidade. Acho que Wallim Vasconcellos deve isso à torcida.

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Acredito que, diante desse quadro, as perspectivas até o final do ano estão bem definidas: no Campeonato Brasileiro, o time deve buscar, o quanto antes, chegar à zona de conforto, ou seja, aos 45 pontos que permitam com segurança permanecer na Série A em 2015. Nada mais se pode esperar de uma equipe que quase pare um caminhão de porcos espinhos para finalizar em direção ao gol adversário. Não acredito em rebaixamento e acho que o time permanecerá na Série A. A Comissão Técnica deve apenas ter atenção para uma peculiaridade desse campeonato, que é o alto rendimento do primeiro time que frequenta a ZR, o que pode eventualmente aumentar a faixa de corte para o rebaixamento. 

Na Copa do Brasil, um clássico regional nas quartas-de-final e, se o time passar, outro clássico regional ou um time médio (Goiás) até uma eventual final contra um adversário peso-pesado. Nada é impossível diante desse quadro. O que vier será lucro.

Rumo aos 45 pontos (ou um pouquinho mais) deve ser o lema.

Bom dia e SRN a todos.