segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Dilemas

"O tempo e a paciência são dois eternos beligerantes." (Leon Tolstói). Sábado pela manhã, logo após subir o Ficha Técnica de Flamengo x Grêmio, ao bater um agradável papo matinal com os estimados amigos do Buteco, em especial em um diálogo com a amiga @AdrianaFlaPetropolitana, comentava a respeito dos problemas de fadiga muscular que começavam a vitimar algumas das principais peças do time titular do Flamengo nas últimas semanas. Primeiro foi Marcelo Moreno, seguido por Leonardo Moura e agora Elias. Até Carlos Eduardo, que não é titular, mas tem salário de estrela, contundiu-se. A consequência imediata, a partir da constatação de um problema dessa ordem, quando se tem uma comissão técnica responsável e profissional, é o início de um processo de "rodagem do elenco", utilizando o linguajar comum no meio futebolístico. E quando não se tem um elenco homogêneo e qualificado, o curso desse processo resulta inevitavelmente na queda de rendimento e pontuação do time. Nada mais óbvio. Diante desse quadro, será que Mano poderia ter feito algo muito diferente do que fez no sábado?

Com Leonardo Moura, Elias e Carlos Eduardo fora, por contusão, e Luiz Antonio, suspenso, Mano optou por escalar o meio com Cáceres, Val, André Santos e Paulinho, além de Fernandinho. Quais eram as opções que estavam a sua disposição? A não ser que esteja me esquecendo de alguém, Amaral e Diego Silva, como volantes; Gabriel e Adryan, como meias, e Rafinha, Nixon e Hernane, como atacantes. Convido os amigos a uma reflexão serena e indago se a escalação de algum desses jogadores teria feito diferença significativa. Na minha opinião, Mano teria sido mais feliz acaso houvesse optado por Adryan ou Nixon, mas reconheço que nenhum dos dois produziu até o momento o suficiente para garantir a posição de titular.

O fato é que o Grêmio iniciou a partida com um esquema obsoleto, com três zagueiros, porém marcando com dez jogadores em seu campo e com os atacantes marcando por pressão a saída de bola dos nossos zagueiros, o que deixava Chicão, González, Cáceres, Digão (fraquíssimo) e João Paulo (muito mal) sempre com pouco tempo para pensar no que fazer com a bola. Lembro, nesse ponto, que a dupla Barcos e Kleber Gladiador, hoje, no futebol brasileiro, é muito acima da média e representa o que de melhor há entre os chamados clubes grandes.

Resultado: sistema defensivo pressionado pela agressiva marcação do Grêmio, um meio de campo totalmente perdido e sem articulação, com Val perdendo lances fáceis, como se fosse um principiante, Fernandinho totalmente fora do ritmo do jogo, tendo dificuldades para acompanhar os lances; Paulinho tentando, mas errando tudo e André Santos praticamente sozinho se movimentando pelos dois lados do campo, tendo à frente um Marcelo Moreno isolado, sem conseguir dar sequência a qualquer jogada. Com isso, González e Cáceres, além de tentar alguns lançamentos de forma infrutífera, pressionados, acabaram perdendo bolas importantes. A bola batia na defesa do Grêmio e voltava, como um paredão. Assim, logo aos 7 minutos, numa bola perdida por González, Chicão foi obrigado a cometer falta em Kleber Gladiador. Pará cobrou, André Santos "abriu" na barreira e Felipe MDP ficou parado olhando. Gostaria de saber quanto custa o ingresso para ver o lance dali, da linha do gol. É uma posição privilegiada, sem dúvida.

O fato é que o quadro provavelmente teria sido o mesmo acaso Amaral, Gabirel, Adryan ou Nixon houvessem sido escalados: dificuldade na armação e bola batendo na defesa do Grêmio e voltando em perigosos contra-ataques. Prova disso foi o que ocorreu na etapa final.

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Como primeiro tempo a torcida vaiou muito Val, que, ao meu ver, não foi bem, mas também não teve atuação atuação tão desastrosa que merecesse as infrutíferas e irracionais vaias direcionadas apenas a ele, talvez por isso Mano tenho optado por tirá-lo. Entretanto, penso que a partir daí teve início uma reação em cadeia nada proveitosa para o time. Adryan entrou em campo para executar a função que André Santos executara no primeiro tempo, ao passo que André Santos foi recuado para a função de Val, tendo Nixon entrado no lugar de Fernandinho. Ocorre que, ao contrário de Elias, quando jogou como segundo volante, ou do próprio Val, no primeiro tempo, André Santos foi burocrático e limitou-se a jogar defensivamente, guardando a posição, o que prejudicou muito a atuação de seus companheiros e o time coletivamente. Adryan, mais técnico, foi melhor do nos passes, porém inferior na movimentação que André Santos apresentou na primeira etapa. Contudo, buscou o jogo e não se omitiu. A improdutividade do time, porém, acabou sendo a mesma nos dois períodos e a defesa do Grêmio permaneceu impenetrável.

O time só conseguiu concluir a gol, ainda que sem maior perigo, aos 42 minutos da segunda etapa após a entrada de Hernane, que, apesar de sofrível tecnicamente, deu mais agressividade ao esquema tático. Nos contragolpes, o Grêmio, com Barcos, já havia perdido dois gols cara-a-cara com Felipe: num, o "Pirata" concluiu em cima do nosso goleiro; no segundo, no travessão.

No varejo, apesar dos 72% de posse de bola improdutivos do Flamengo, foi jogo para 3x0 pro Grêmio e o placar acabou nos sendo até generoso. De saldo para mim, como torcedor, a perda da confiança no jogador André Santos. Observem que não se trata de esperar um desempenho técnico que esse jogador não pode atingir, mas de não mais acreditar em comprometimento com o time. Ficou a impressão de que não gostou de ter sido recuado para executar a função de volante e fez pirraça mesmo.

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Conforme comentava com alguns amigos do Buteco ontem no post do Melo, e seguindo a linha do primeiro tópico da coluna de hoje, o elenco é limitado e podemos perfeitamente pensar na reformulação para o ano que vem. Hoje, porém, Cáceres e González, com todos os defeitos que possam ter, são jogadores que enfrentam os adversários sem medo. Chicão foi outro que veio a agregar nesse aspecto, assim como Marcelo Moreno. André Santos poderia ser outro. Enfim, o Flamengo muitas vezes se deixa intimidar dentro de campo e precisa desses jogadores mais experientes. Dos jogadroes da base, Luiz Antonio parece maduro. Sábado Digão, Val, Fernandinho e até João Paulo, uma moça diante de um inexpressivo Pará, estavam visivelmente intimidados diante do Grêmio. Cáceres e Chicão, principalmente, seguraram o time nesse aspecto. Jogaram sem medo. Poderia ter sido bem pior. Reflitam a respeito disso.

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As situações de Fernandinho e Val são diferentes e eu diria opostas: nascido em 16.3.1993, o primeiro tem apenas 20 (vinte) anos e é um jovem que pode ou não vir a se firmar no clube, sendo natural que sinta a responsabilidade e o momento de pressão ao ser lançado no time titular; já Val completou 30 (trinta) anos no último dia 22. Não há como ter o mesmo nível de tolerância com Val que, ao meu ver, deve-se ter com Fernandinho. Ao contrário de Val, Paulinho, com 25 (vinte e cinco) anos de idade, não sentiu o peso da responsabilidade de jogar pelo Flamengo. Longe de ser um craque, Paulinho é um jogador apto a executar funções visando o esquema tático e não tanto as jogadas individuais. O problema é que, pelas limitações do elenco, tem sido constantemente titular ou entrado para ser solução, quando deveria ser o oposto. Paulinho não tem medo de jogar pelo Flamengo. Pode até não ter o nível técnico ideal para estar no elenco, mas medo definitivamente não tem. Val tem e é muito difícil que um dia não venha a ter, considerando a idade. Fernandinho talvez um dia venha a não ter, mas atualmente tem. Resta avaliar se vale a pena esperar, no caso dele.

Apostas são assim: algumas dão certo, outras não.

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Quero o Adryan como titular e acho que pode haver alguém, no Buteco, que queira tanto como eu que ele dê certo com o Manto Sagrado, mas com certeza não há quem deseje mais que isso aconteça. Pergunto-me, no entanto, o que ocorreria se ele perdesse alguns lances em sequência e um turbilhão de vaias como as que vitimaram o Val fossem direcionadas a ele? Como, aliás, já ocorreu com o Adriano Imperador em seu início de carreira?

Dito isso, talvez seja o caso de dar uma sequência a ele. Ou não... Confio na avaliação do sensato Mano Menezes.

Lembro que Adryan, nascido aos 8 de outubro de 1994, ainda tem apenas 18 (dezoito) anos. 

Repetindo: 18 (dezoito) anos.

Acho que Adryan dará certo, mas no caso dele será preciso ter paciência, antagônica ao seu beligerante inimigo tempo.

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Falando em dilemas e na fadiga muscular de alguns jogadores, quarta-feira teremos, no Maracanã, o jogo de volta das quartas-de-final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro.

A par das expectativas para a partida contra o Cruzeiro, as quais gostaria de saber da parte dos amigos do Buteco, também gostaria de saber o que os amigos pensam a respeito da capacidade desse elenco de suportar simultaneamente as duas competições: dá pra levar as duas ou temos que fazer uma opção?

Não vou pipocar: time titular para ficar entre os dez o Flamengo tem; elenco parece que não. Ou será que estou enganado?

Bom dia e SRN a todos.