sábado, 17 de agosto de 2013

De uma Off-Rio: Lucidez e Lirismo Utópico

Dia desses estive no Aeroporto tentando mandar minha energia (ki, para os nerds) para os nossos Mulambos queridos. Eu só não sabia que o Fla  não ia dar as caras na partida que se seguiria, mas isso é assunto passado. O que importa é que nessa ida ao Aeroporto eu experimentei o desgosto. Passavam jogadores na minha frente, e mesmo animada com a presença ilustre da Delegação Rubro-Negra, eu olhava os rapazes e sentia que faltava algo. Mesmo o nosso Mascote Léo Moura,  no Mengão desde 1912, não garantia, e nem poderia garantir só,  a identificação do elenco com  a minha definição de Flamengo. A identificação que, em campo, nos tiraria desse marasmo, dessa mediocridade de ter como meta real (ainda que mascarada por muitos) o meio da tabela.

Sempre que vejo algo sobre a nossa Era Áurea, me sobe um sentimento de perda de algo que nunca tive, saudade de coisas que devido a minha pouca idade, jamais experimentei. E sempre me perguntei como poderia ver no Flamengo de hoje, o Flamengo de verdade. A resposta estava no Mengão 80. Perdida em meio as minhas filosofias Rubro-Negras, achei o primeiro passo a ser tomado.  Vamos anunciar para geral, o que está em falta (além de alguns reforços básicos) para o nosso time achar sua estrada de tijolos amarelos.

Precisa-se dum mágico, dum príncipe ( Rei, já temos ), dum guia. De alguém que que nos jure amor eterno, e que sempre esteja disposto . Que quando as coisas estejam difíceis,  carregue o caixão. Que grite quando preciso, que não abandone o barco. Nunca. A não ser que o seu peso o esteja afundando.

Não por uma, nem por duas vezes me peguei  tomada por uma ímpar emoção de frente a TV, entorpecida pela beleza de grandes lances do passado. Sim. Tínhamos aqueles em quem confiar.  Humanos, errantes, heróis. Nós ( assumo aqui a voz da Nação), com toda pureza de outrora, nem vimos escapar por entre os dedos o tempo d'ouro do Rei Antiabsolutista - Sinistro e Boladíssimo Zico. Tempo onde qualquer um poderia ser mais feliz vendo o outro sorrir, e, quando os números de alteravam, todos estavam entregues a causa em meio ao grande grito.

E eu que sempre estive, e até hoje tenho estado embargada na nostalgia no meu mundo Rubro-negro, me pergunto como pode um bonde chegar a seu destino sem um guia. Tradições antigas  que são a receita perfeita para  o sucesso de hoje pedem por alguém que chegue e sem usar apenas palavras, nos diga que não desamparará seus sanchos¹. Que vai entregar seu coração, sua alma. Não precisamos de mais um que nos crie falsas expectativas. Vão estes nos honrar e/ou nos amar amanhã? Precisa-se de um ídolo que daqui a 30 anos ainda esteja imortalizado nos nossos bandeirões. E em nossa memória e coração.

Aí tem gente que quer me convencer de que no mundo de hoje isso é impossível,  que já era o tempo do amor a camisa, e blá blá blá, e  mimimi. Eu acredito no resgate aos velhos valores. Não é possível que o futebol tenha virado um negócio e  perdido, nos gramados, a sua épica, sua lírica. Me lembro de algumas coisas de minha tenra idade, um pouco anormais, mas que fazem jus a Mística Rubro-negra. Como quando eu amarrava sacos nos pés antes dos jogos mais tensos ². Como quando eu pendurava o meu primeiro Manto Sagrado na janela do único  quarto da minha antiga casa, e suplicava a ele que o Mengo vencesse aquela partida. Como quando eu fazia promessas absurdas (entre elas ficar um dia sem beber  água³ ), não para entidades religiosas e sim para um Flamengo  que sempre acreditei ser onipresente e onisciente, que como o Éter, para Aristóteles, tudo permeia. Que tem sua parte física, mutável e sensível a atividade humana, mas que também tem sua parte  abstrata que acompanha todos os rubro-negros sinceros.  Pois, para mim, não pode ser verdade que algo tão intenso em nossas vidas seja apenas concreto. 

Precisa-se de um ídolo. Não qualquer famosinho que venha para receber um salário  obeso, e nos deixe amanhã por 10 reais a mais em outro clube. Tem, e há, de ser um  homem que seja para e pelo Flamengo. Que seja capaz de despertar no coração dos caras que vestem nosso Manto em campo, um sentimento real pelo Fla. Porque somente a relação empregador-empregado não vai sustentar a Mística Rubro-negra. Nunca. E porque esse sentimento, uma vez instaurado, será capaz de nos levar ao topo do mundo novamente. 

Pinta de malandro, cabeça de gênio militar, e coração incendiado de guerreiro. Isso é Flamengo. 

Bruna Uchôa Travassos é frequentadora do Buteco do Flamengo e dona de uma irremediável mania de por love no futebol.

LEGENDA 
1-Referência a Sancho Pança.
2- De tanto ouvir a expressão ''Pé Frio'' pensei que esquentar os pés poderia ser útil.  Não.  Não é brincadeira. Eu realmente fazia isso.
3- Não houve a necessidade de privação de água. Infelizmente, o Fla perdeu naquela partida.