Nunca um processo é imediato. E o estágio inicial é sempre o mais complicado. Porque, sem os resultados imediatos, surge toda sorte de questionamentos.
Por conta disso, hoje deixo uma história interessante, para que os mais antigos recordem e os mais novos conheçam. Boa leitura.
Os Campeonatos Brasileiros de 1977 e 1978
“É inadmissível o Flamengo
disputar Campeonato Brasileiro como coadjuvante. Lugar do Flamengo é no topo,
seja do Brasil, da América ou do Mundo.”

As únicas unanimidades são Zico,
Júnior e Toninho, justo os “craques de seleção”. A esses, juntam-se o
voluntarioso Rondinelli, o líder Carpegiani (trazido quase de graça do Inter
por conta de seus recorrentes problemas de lesão), outros nomes como Valdo
(vindo do Joinville-SC), Luís Paulo, Merica, e as novas contratações, o
atacante Cláudio Adão, igualmente recuperado de séria lesão, trazido do Santos,
e o uruguaio Ramirez (para a reserva de Toninho, em tempos de Copa do Mundo).
Completam o elenco apostas baratas como Osni (Bahia) e Dequinha (filho do craque
dos anos 50, de mesmo nome). Nenhuma estrela de primeira grandeza, nenhuma
contratação vultosa. Não há dinheiro. Desconfiado, o torcedor questiona esse
tal “protagonismo” da nova diretoria.

O Flamengo também vai bem e vence
seu grupo na fase seguinte. É verdade que perde para o XV de Piracicaba (0-1,
no interior paulista), resultado que causa certo burburinho, mas uma expressiva
vitória sobre o Cruzeiro de Nelinho (3-1, para 80 mil no Maracanã) já começa a
trazer certa empolgação para o torcedor. O time agora vai para a terceira fase,
e se passar já chegará às Semifinais.

Não há muito tempo para lamentar,
pois poucas semanas depois já terá início o Brasileiro seguinte. Exatamente 35
dias após ser eliminado da competição de 1977, o Flamengo estreia enfrentando o
Fluminense, já pelo Nacional de 1978.
Dessa vez o Flamengo derrota o
rival (1-0) e larga bem no campeonato. E, tal como no ano anterior, faz boa campanha
na Primeira Fase, vencendo com larga margem sua chave. Além da vitória no
Fla-Flu, destaque para as difíceis vitórias contra Portuguesa (2-1 no Maracanã)
e Remo (1-0 em Belém), além da goleada sobre o Bangu (4-1) que “revelou” o
jovem Radar, autor de quatro gols e rapidamente promovido a celebridade
instantânea. O destaque negativo é a derrota (2-3) para o América, em uma bela
e aberta partida.
Na Segunda Fase, começam os
problemas. Sem Zico e Toninho, servindo à seleção, o Flamengo faz uma campanha
extremamente irregular. Atua bem nos empates contra Corinthians (1-1 no
Morumbi) e Botafogo (1-1), mas tropeça contra Operário-MS, Comercial-SP, perde
novamente para o América (0-2) e somente consegue sua vaga através do índice
técnico. O time base que vai a campo nessa fase é formado por Cantarele,
Ramirez, Rondinelli, Dequinha e Júnior; Merica, Carpegiani e Adílio; Júnior
Brasília, Radar e Luís Paulo.

Antes do início do Estadual, a
pressão por dispensas e contratações vultosas vai ao limite. O tal lema “Flamengo
protagonista” vira sinônimo de chacota e risos. A percepção geral é de que
há alguns bons jogadores, mas o time é fraco e sem peso, um amontoado de promessas
e jogadores bichados que não conseguem ajudar Zico e Júnior a formar uma
espinha dorsal consistente e que sirva de apoio à subida dos novos talentos. As
apostas em Carpegiani e Cláudio Adão já são consideradas fracassadas. “Foi um
erro grosseiro a contratação desses dois jogadores”, comenta-se abertamente nos
corredores da Gávea.
É pouco, dizem os jornais,
esbravejam os detratores, murmura a torcida.
Mas será esse o time.
Vai começar o Estadual. Talvez o
mais importante da história do Flamengo.