quarta-feira, 5 de junho de 2013

Os opostos Julinho e R11


O futebol brasileiro, como todos sabem, já viveu um tempo romântico nos quais os torcedores compareciam aos estádios não apenas para torcer por uma vitória dos seus clubes de coração, e saborear lances artísticos dos craques que vestiam a camisa do seu time. Iam igualmente para assistir partidas envolvendo clubes que nada tinham a ver com os seus e jogadores que viviam acima das paixões clubísticas por que faziam do simples ato de jogar bola uma arte que se foi, num tempo para sempre perdido no passado;

Assim era com Pelé, que atraía multidões multicoloridas aos estádios que se deleitavam com seus dribles em arrancadas verticais que terminavam dentro dos gols. Com Garrincha, que fazia com que seus marcadores tivessem a mesma cara do "João" como o Mané os denominava e que sabiam qual seria o drible a ser aplicado, mas não conseguiam evitá-lo. Com Zico, que tocava apenas uma vez na bola para dominá-la e mais uma vez para passá-la com esmerada precisão, marcando um encontro, cara a cara, do atacante com o goleiro rival. Com Gérson, Rivelino, Tostão, Amarildo e tantos outros que faziam mais belas as tardes de domingo;

Com esse espírito n'alma fui levado por um tio para ver Garrincha jogar em um belo dia de maio de 1959, mas eis que entrou em campo com a camisa 7 o seu reserva, o arisco ponta-direita Júlio Botelho, o Julinho, num amistoso entre Brasil e Inglaterra, escalado que foi sabe-se lá por que, no lugar do "anjo das pernas tortas". Quando o locutor do Maracanã anunciou tal disparate, 160 mil pessoas ensaiaram uma vaia jamais vista no ex-maior do mundo, fato que se repetiu quando as equipes entraram no gramado e continuou depois que a partida foi iniciada. Bastava Julinho tocar na bola para a turba enfurecida ser dominada por ímpetos de entrar em campo para escorraçá-lo dali para sempre. O que fez o jogador perseguido? Levantou o dedo para as arquibancadas numa atitude mal-educada? Balançou as genitálias, by animal Edmundo, para a torcida da seleção? Não, nada disso, preocupou-se em fazer o que sabia, que era simplesmente jogar bola. E, num bom passe para o centro-avante Henrique,este abriu os trabalhos logo aos 3' de jogo, oferecendo o primeiro cala a boca à massa. Mais algum tempo depois, bola rolada para o incrível ponta e este num dos mais bonitos lances da história do "Maraca" fez uma fila de ingleses correndo desesperados atrás de si e decretou o 2º tento da partida, num belo gol. 2 a 0 para o Brasil indicava o pequeno placar à época. E o povo aplaudiu de pé. E Nelson Rodrigues jurava "que havia escutado exaltados pedidos de bis, como numa ópera";

Os ânimos foram arrefecidos e o que era hostilidade tornou-se amabilidade com o reserva de luxo do Mané. Ao final do jogo, novamente num gesto educado, nenhuma palavra de rancor proferida pelo nosso craque, que até agradecia os aplausos metamorfoseados de uma vaia monumental;



Dito isso, voo no tempo baixando o nível para chegar em Renato Abreu, o personagem da semana pela rejeição que desfruta por grande parte da torcida e, também, por suas reações intempestivas às manifestações negativas dos rubro-negros em relação ao seu comportamento dentro das quatro linhas, que não contempla a sabedoria de responder às críticas com boas atuações, panaceia para os males do futebol, pois não precisa repetir recitais dos ídolos do passado para calar a galera, basta jogar com raça, jogar bem, cumprir a sua obrigação com as pernas e os pés, fechar a boca para não falar asneiras e não bater de frente com os torcedores. A consequência imediata passa a ser a obrigação do treinador em escalá-lo se não quiser ser defenestrado do cargo, ou seja, ele transfere com inteligência a necessidade imperiosa de sua escalação para o Jorginho. E sai de cena com a consciência tranquila;

Fato é que, nesses tempos bicudos e de vacas magras, o Flamengo tornou-se refém de um volante marrento para ganhar um joguinho aqui, um pontinho ali, já que as coisas estão tão feias que, quando ele não entra em campo, o time não anda, não joga, não corre, não se empenha. Logo, ele cresce e o treinador desaparece por que sem o R11, Jorginho não tem encontrado soluções para os problemas do time do Flamengo, apesar do longo tempo disponibilizado para os treinamentos;

É triste, embora intelectualmente obrigatório, reconhecer isso para quem desejava vê-lo fora do elenco no início deste ano, mas no primeiro erro da atual gestão, renovaram o seu contrato. Não há jeito, temos que ir com ele no time. "Ruim com ele, pior sem ele", dizem por aí nas esquinas, praias e botecos. É o que vemos nos campos quando a bola volta a rolar.

SRN!