quarta-feira, 26 de junho de 2013

Há (mais de) 50 anos...


O jornal "O Globo", como muitos aqui devem saber, publica semanalmente pequenas matérias intituladas "Há 50 anos", nas quais expõe cópias de episódios ocorridos e narrados há meio século, e sempre há aqueles relacionados ao futebol da época. Na terça-feira da semana passada mostrou a seguinte publicação referente ao ídolo Dida, datada de 18 Jun 1963:

"Por que Fla mandou Dida voltar ao Brasil!

O início da madrugada de hoje foi agitado no Galeão, pois chegava da Europa o Flamengo. O presidente do clube, Fadel Fadel, nervoso, queria ver se o assunto Dida não seria focalizado nas entrevistas, mas o chefe da delegação, Marcus Vinícius de Carvalho, não se fêz de rogado: "Mandei-o de volta porque apareceu embriagado no hotel em Paris, entendendo erradamente o que era dia livre. Jogador que bebe não viaja comigo e mandaria voltar tantos quantos necessários. Agora, o que o Flamengo fará com ele, é problema do presidente. Ao seu lado, Fadel Fadel só se preocupava em repetir que o Flamengo será candidato ao título carioca de 1963..."

Vemos que o jogador cometeu um ato considerado como transgressão pelo chefe da delegação, em Paris, recebeu ordens para retornar ao Brasil e o presidente Fadel Fadel desejava tratar o assunto intramuros, como deve ser feito, porém, o intrépido Marcus Vinícius de Carvalho colocou a "boca no mundo", logo ao desembarcar no aeroporto do Galeão. Imaginem o prato cheio que isso foi para a imprensa à época;

Retrocedendo mais 13 anos, valho-me do depoimento do escritor Ruy Castro no livro de sua autoria "O vermelho e o negro", em sua página 104: "Zizinho saiu do Flamengo porque numa conversa infeliz com um cartola do Bangu, o vaidoso presidente Dario Mello Pinto (que, no passado, já vendera Domingos da Guia) admitiu que o negociaria se lhe fizessem uma proposta séria. A proposta foi feita e Mello Pinto ainda poderia ter recuado. Mas não recuou. Então, foi Zizinho quem, magoado, disse que, sendo assim, preferia ir embora. Sua identidade com o Flamengo era tanta que não poderia conviver com a ideia de que o clube pensasse em vendê-lo. E lá se foi ele para o Bangu ainda a tempo de ser eleito o melhor jogador do mundo na única Copa que disputaria, a de 1950";

Assim é o Flamengo desde quando eu, ainda guri, pulava os muros dos estádios para torcer pelas vitórias do Mengão. Parece genético como a cor dos olhos, os traços do rosto e a textura dos nossos cabelos. Quando não é o dirigente a vazar o que ocorre internamente, aparece um jogador e "sopra" nos ouvidos de um ou outro jornalista. Outro dia, o ex-treinador Jorginho saiu disparando que havia um X-9 dentro dos vestiários, pois tudo que se tratava com o elenco, logo depois já estava circulando nas mídias;

Felizmente já foi pior, mas ainda está longe do ideal para um clube maior que milhares de empresas brasileiras, pois seja há 63 anos com mestre Ziza, há 50 com Dida ou no presente, a língua solta de alguns, às vezes, parece um tapete vermelho estendido a partir do pé da escada de um avião trazendo o Papa para visitar o país, embora com os azuis o seu tamanho venha diminuindo e medidas mais severas estejam sendo adotadas para manter os vaidosos longe dos holofotes e microfones, com a finalidade de permitir que o clube funcione em paz. Desejo que a partir de agora com a chegada do discreto Mano Menezes, o clube acabe de vez com a alimentação dessas intrigas e futricas tão ao gosto de alguns setoristas que cobrem as suas atividades diárias;

Há problemas que temos que tratar domesticamente, sabemos disso. Um dia, todos no Flamengo aprenderão essa premissa definitivamente.

SRN!