Discutir sobre o Maracanã deixando a paixão de lado é
realmente uma tarefa muito difícil dado o imenso envolvimento emocional que a
maioria de nós tem com o estádio. É, entretanto, um exercício importante para
compreendermos as opções que estão diante da nova diretoria do clube e o custo
político e econômico de cada uma delas.
Creio que, certamente, o desejo de todos é que o Flamengo
volte a jogar no Maracanã. O novo presidente, assim como alguns membros da sua
equipe, já deu declarações nesse sentido e não poderia ser diferente. O custo
político de perder o velho Maraca para um rival seria altíssimo, do tipo que
poderia mobilizar uma oposição enorme contra a transição para o modelo de
gestão profissional. É uma decisão perigosa, do tipo que vai desagradar muita
gente qualquer que seja e que pode trazer retaliações pesadas num futuro não
muito distante.
Acontece que o Maracanã, desde sua construção, foi sempre um
estádio público e dessa maneira se associou as memórias afetivas dos torcedores
dos quatro grandes clubes do Rio, sem contar com, os agora pequenos, América e
Bangu. Vale lembrar que o Santos de Pelé também mandou alguns de seus jogos
mais importantes no velho Mario Filho. Pensem por um instante em como nos
sentiríamos se o governador e o prefeito – que são vascaínos – entregassem o
estádio ao Fluminense só para sacanear o Flamengo. Outro aspecto é que tanto a
construção quanto a manutenção, além das inúmeras reformas do estádio, foram
custeadas com dinheiro público, sem distinção de clubismo. E há ainda na mesa
as inúmeras disputas que envolvem a posse do complexo como a demolição do Célio
de Barros, do Parque Aquático, da antiga sede da Funai e da escola Friedenreich
que, podem ter certeza, vão dar muitas dores de cabeça a quem levar a
licitação.
O edital de concessão do estádio foi feito para deixar de
fora as disputas clubísticas e tentar tornar o complexo rentável e atraente
para a iniciativa privada. Da forma como está escrito, inviabiliza quase
completamente a geração de receitas para o clube fora dos dias de jogo além de
também não permitir ganhos com publicidade estática para os parceiros do clube
ou mesmo a venda de camarotes. Também dificulta a venda de carnês para toda a
temporada já que o consórcio vencedor pode marcar shows ou eventos no estádio
em datas inicialmente agendadas para jogos do Flamengo e de seus rivais.
Existe ainda a questão do custo de se jogar em um estádio do
porte do Maracanã. Não é exagero estimar que, com as obras que foram feitas
para a copa de 2014, certamente esse custo será ainda maior, tornando
deficitários jogos com menos de 15 mil presentes. O grande problema é que
metade dos jogos do Flamengo no ano não dá esse público e isso não é culpa
apenas dos deficitários jogos estaduais. Vejam que partidas contra Figueirense,
Portuguesa e Atlético-GO nas noites de 5ª feira dificilmente atraem grande
público, mesmo jogando no Maracanã que é infinitamente mais acessível que o
Engenhão. Isso só muda se o Flamengo estiver fazendo uma campanha muito boa ou
vier numa daquelas arrancadas com as quais um administrador sério não pode
contar.
Sob esta ótica, jogar no Maracanã é, em princípio, optar por
prejuízos sistemáticos aos cofres do Flamengo apenas para agradar a torcida. Uma
medida que não condiz com os valores pregados pela equipe que venceu as
eleições no clube e com a qual eu, pessoalmente não concordo.
Tenho a opinião que o novo Mario Filho terá um futuro com
pouco brilho, como aconteceu com Wembley que se tornou um elefante branco, caro
e com pouquíssimo uso. Justamente por isso, ainda vão haver muitas reviravoltas
nesse tema e acredito que, por isso mesmo, o Estado nunca vai permitir que o
Flamengo construa um estádio próprio de grande porte, que decretaria a
inviabilidade econômica do Maracanã como complexo esportivo.
Vejo para o Flamengo uma pequena gama de cenários possíveis,
sendo o mais desejado deles assumir o controle do Maracanã, preferencialmente
sozinho, ou ao lado do consórcio que ganhar a licitação. Esta segunda opçao demandaria
uma mudança no edital que, creio, não pode mais acontecer, de forma que as
outras possibilidades que vejo são:
·
Negociar uma parceria mais vantajosa para o
Flamengo mandar seus jogos no Engenhão, incluindo a venda de metade dos
camarotes e negociação de publicidade estática para os patrocinadores do clube;
·
Fazer uma parceria com algum clube pequeno, como
a Portuguesa da Ilha e fazer uma reforma em seu estádio para que o Flamengo
possa mandar lá seus jogos;
·
Construir um estádio para 25 a 30 mil pessoas na
gávea;
·
Negociar com os governos das 3 esferas
(município, estado e governo federal) a cessão de um terreno novo para erguer
um estádio grande para 65mil com possibilidade de expansão da capacidade no
futuro.
Pessoalmente, sempre fui favorável a construção de um
estádio moderno na gávea, especialmente com a chegada do metrô. Um estádio com a capacidade mínima exigida
para o campeonato Brasileiro, creio que com 20mil lugares, seria bem vindo e
não precisaria custar muito. Seria integrado ao museu, a uma mega loja do clube
e, se for o caso, poderia ter seu uso reduzido no futuro ficando para jogos
festivos e divisões de base. Clássicos e jogos de grande apelo seriam
disputados no Maracanã, mediante uma negociação que, creio, seria favorável ao
Flamengo já que o velho estádio tende a ficar às moscas sem a presença da
Magnética.
Todos os cenários são complicados e tem prós e contras além
de inúmeras questões políticas e financeiras envolvidas. Como torcedores,
podemos ter as nossas preferências por um ou outro, mas os caras que decidem não.
Eles têm que saber exatamente o que estão fazendo e eu acredito que, pelo menos
nesse aspecto, estamos muito bem servidos.
Apesar das últimas manifestações
públicas do departamento de futebol...
Abs e SRN