sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Maraca é nosso?

Semana passada, abordei por alto a questão do Maracanã ao fazer um balanço das minhas expectativas para 2013. Na discussão nos comentários, o tópico foi abordado novamente e achei que valia a pena trazer o tema novamente, isolado, para uma discussão mais abrangente sobre o assunto.

Discutir sobre o Maracanã deixando a paixão de lado é realmente uma tarefa muito difícil dado o imenso envolvimento emocional que a maioria de nós tem com o estádio. É, entretanto, um exercício importante para compreendermos as opções que estão diante da nova diretoria do clube e o custo político e econômico de cada uma delas.

Creio que, certamente, o desejo de todos é que o Flamengo volte a jogar no Maracanã. O novo presidente, assim como alguns membros da sua equipe, já deu declarações nesse sentido e não poderia ser diferente. O custo político de perder o velho Maraca para um rival seria altíssimo, do tipo que poderia mobilizar uma oposição enorme contra a transição para o modelo de gestão profissional. É uma decisão perigosa, do tipo que vai desagradar muita gente qualquer que seja e que pode trazer retaliações pesadas num futuro não muito distante.

Acontece que o Maracanã, desde sua construção, foi sempre um estádio público e dessa maneira se associou as memórias afetivas dos torcedores dos quatro grandes clubes do Rio, sem contar com, os agora pequenos, América e Bangu. Vale lembrar que o Santos de Pelé também mandou alguns de seus jogos mais importantes no velho Mario Filho. Pensem por um instante em como nos sentiríamos se o governador e o prefeito – que são vascaínos – entregassem o estádio ao Fluminense só para sacanear o Flamengo. Outro aspecto é que tanto a construção quanto a manutenção, além das inúmeras reformas do estádio, foram custeadas com dinheiro público, sem distinção de clubismo. E há ainda na mesa as inúmeras disputas que envolvem a posse do complexo como a demolição do Célio de Barros, do Parque Aquático, da antiga sede da Funai e da escola Friedenreich que, podem ter certeza, vão dar muitas dores de cabeça a quem levar a licitação.

O edital de concessão do estádio foi feito para deixar de fora as disputas clubísticas e tentar tornar o complexo rentável e atraente para a iniciativa privada. Da forma como está escrito, inviabiliza quase completamente a geração de receitas para o clube fora dos dias de jogo além de também não permitir ganhos com publicidade estática para os parceiros do clube ou mesmo a venda de camarotes. Também dificulta a venda de carnês para toda a temporada já que o consórcio vencedor pode marcar shows ou eventos no estádio em datas inicialmente agendadas para jogos do Flamengo e de seus rivais.

Existe ainda a questão do custo de se jogar em um estádio do porte do Maracanã. Não é exagero estimar que, com as obras que foram feitas para a copa de 2014, certamente esse custo será ainda maior, tornando deficitários jogos com menos de 15 mil presentes. O grande problema é que metade dos jogos do Flamengo no ano não dá esse público e isso não é culpa apenas dos deficitários jogos estaduais. Vejam que partidas contra Figueirense, Portuguesa e Atlético-GO nas noites de 5ª feira dificilmente atraem grande público, mesmo jogando no Maracanã que é infinitamente mais acessível que o Engenhão. Isso só muda se o Flamengo estiver fazendo uma campanha muito boa ou vier numa daquelas arrancadas com as quais um administrador sério não pode contar.

Sob esta ótica, jogar no Maracanã é, em princípio, optar por prejuízos sistemáticos aos cofres do Flamengo apenas para agradar a torcida. Uma medida que não condiz com os valores pregados pela equipe que venceu as eleições no clube e com a qual eu, pessoalmente não concordo. 

Tenho a opinião que o novo Mario Filho terá um futuro com pouco brilho, como aconteceu com Wembley que se tornou um elefante branco, caro e com pouquíssimo uso. Justamente por isso, ainda vão haver muitas reviravoltas nesse tema e acredito que, por isso mesmo, o Estado nunca vai permitir que o Flamengo construa um estádio próprio de grande porte, que decretaria a inviabilidade econômica do Maracanã como complexo esportivo.

Vejo para o Flamengo uma pequena gama de cenários possíveis, sendo o mais desejado deles assumir o controle do Maracanã, preferencialmente sozinho, ou ao lado do consórcio que ganhar a licitação. Esta segunda opçao demandaria uma mudança no edital que, creio, não pode mais acontecer, de forma que as outras possibilidades que vejo são:

·         Negociar uma parceria mais vantajosa para o Flamengo mandar seus jogos no Engenhão, incluindo a venda de metade dos camarotes e negociação de publicidade estática para os patrocinadores do clube;

·         Fazer uma parceria com algum clube pequeno, como a Portuguesa da Ilha e fazer uma reforma em seu estádio para que o Flamengo possa mandar lá seus jogos;

·         Construir um estádio para 25 a 30 mil pessoas na gávea;

·         Negociar com os governos das 3 esferas (município, estado e governo federal) a cessão de um terreno novo para erguer um estádio grande para 65mil com possibilidade de expansão da capacidade no futuro.

Pessoalmente, sempre fui favorável a construção de um estádio moderno na gávea, especialmente com a chegada do metrô.  Um estádio com a capacidade mínima exigida para o campeonato Brasileiro, creio que com 20mil lugares, seria bem vindo e não precisaria custar muito. Seria integrado ao museu, a uma mega loja do clube e, se for o caso, poderia ter seu uso reduzido no futuro ficando para jogos festivos e divisões de base. Clássicos e jogos de grande apelo seriam disputados no Maracanã, mediante uma negociação que, creio, seria favorável ao Flamengo já que o velho estádio tende a ficar às moscas sem a presença da Magnética.

Todos os cenários são complicados e tem prós e contras além de inúmeras questões políticas e financeiras envolvidas. Como torcedores, podemos ter as nossas preferências por um ou outro, mas os caras que decidem não. Eles têm que saber exatamente o que estão fazendo e eu acredito que, pelo menos nesse aspecto, estamos muito bem servidos.
Apesar das últimas manifestações públicas do departamento de futebol...

Abs e SRN