segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Flamengo de Volta

Buongiorno, Buteco! Começar uma semana com uma vitória sobre o super-favorito Vasco da Gama não é nada mal, concordam? Toda a torcida arco-íris, toda a crônica esportiva dava o favoritismo para o outro lado, como se a nossa derrota fosse uma mera questão burocrática, mas futebol, na prática, e em clássicos... Só que a história dessa específica partida e dessa bela vitória rubro-negra não pode ser resumida à mistica da rivalidade e das surpresas que costumam ocorrer em confrontos desse tipo, sob pena de sermos extremamente injustos com o trabalho do treinador Dorival Júnior no Flamengo. E quando me refiro ao trabalho de Dorival, vou muito além do costumeiro aspecto tático e técnico; Dorival efetivamente devolveu ao Flamengo algo que não víamos há muito tempo: a cara de Flamengo; de um time de futebol organizado, trabalhador, ordeiro, sério. Agora ninguém mais pode, com seriedade, criticar o clube no cotidiano de trabalho da Comissão Técnica do futebol profissional. Não como se fazia antes; não depois de Dorival. Independentemente do tamanho dos títulos que o clube tenha ganhado nos últimos anos, pergunto-lhes há quanto tempo vocês não viam isso no Flamengo? Preparem-se para puxar muito pela memória na busca pela resposta... Enfim, temos o Flamengo de volta. Podemos erguer novamente a cabeça e não ter vergonha do que acontece no nosso Departamento de Futebol.  E aqui é preciso também registrar a seriedade do trabalho do Zinho.

Fiz questão de fazer esse introito porque acho, sinceramente, que o trabalho tático e técnico do Dorival, apesar de ser muito bom, acima da média nesse começo, e já ter apresentado resultados extraordinários, os quais por isso mesmo não dão à torcida direito a qualquer tipo de reclamação até aqui, apresenta pontos nos quais pode e deve ser aperfeiçoado. Pegando por exemplo a partida de ontem, no primeiro tempo o Flamengo começou, digamos, mais ligado do que o Vasco, marcando no campo do adversário e pressionando, tentando aproveitar os espaços cedidos; mas quando eles acertaram e apertaram a marcação, logo após transcorridos dez minutos, equilibraram o jogo e dez ou quinze minutos depois já dominavam, criando várias oportunidades de gol, salvas pelo nosso goleiro Felipe, algumas delas no reflexo, no susto mesmo.

Contraditoriamente, pois é assim que não raro as coisas acontecem no futebol, o gol saiu quando o Vasco exercia maior pressão sobre o Flamengo. Ramon ocupou exatamente faixa da meia esquerda, avançou em um rápido contra-ataque, chutou a gol e, no rebote de Prass, Vagner Love, carrasco cruzmaltino, voltou à liderança da artilharia do campeonato marcando o gol da vitória. No segundo tempo, novamente tenho que destacar o espírito da equipe para concluir que temos o Flamengo, o autêntico, o verdadeiro Flamengo de volta. O time não recuou e continuou a jogar de igual para igual com o Vasco; tanto que, assim como o adversário, perdeu chances de gol, uma delas incrível, inacreditável, com Leonardo Moura; daquelas de deixar o Deivid com inveja ou, como disse o meu amigo Carlos Mouta, de sair porrada, se fosse numa pelada.

Podemos destacar, por fim, a segurança que Cáceres deu na proteção à zaga, pois em três jogos que atuou a equipe não tomou gol, e mais uma partida segura de Welinton na zaga, a segunda seguida, além da boa entrada de Adryan no segundo tempo, criando grandes jogadas. No final, o placar poderia ter sido até maior, mas a Nação rubro-negra em todo o mundo saiu feliz com a superioridade incontestável da equipe sobre o adversário que todos diziam que seria tão superior, que era tão favorito, e que foi tão perfeito para a ocasião.

Contraponto tático - Basicamente, o 4-3-3 de Dorival ressente-se de um problema a ser aperfeiçoado: Cáceres joga como volante mais fixo e centralizado, enquanto Luiz Antonio, pela direita, e Renato Abreu, pela esquerda, fazem o vai-e-vem fechando a marcação pelos setores direito e esquerdo do meio, respectivamente, e apoiando o ataque pelos mesmos lados do campo. O problema reside na dificuldade que ambos têm, especialmente Renato Abreu, pela idade, de realizar tão exaustiva função durante toda a partida sem que a equipe perca volume de jogo, algo nitidamente sentido no primeiro tempo. Nos áureos tempos em que Leonardo Moura e Juan decidiam jogos, o Flamengo podia jogar sem meias, pois os volantes faziam a contenção e cobriam os laterais, que, quando não eram alas, transformavam-sem muitas vezes em meias durante as partidas e supriam a falta de criação no meio. Júnior, enquanto lateral, cansou de executar essa função nos velhos tempos do time de 1981. Hoje não temos laterais que possam exercer essa função com regularidade, até porque Leonardo Moura é apenas uma pálida sombra do passado. Os pontas do atual time tampouco têm características compatíveis com a armação de jogadas e o único volante que as têm é Luiz Antonio, que não pode exercê-las sozinho. Eis o desafio atual de Dorival para encontrar a melhor formação dentro desse ótimo esquema tático que vem utilizando para a equipe.

Hora de virar a página - O Flamengo tem, hoje, dois jogadores que, sem dúvida, têm sua marca na história do clube, merecidamente, cada um do seu jeito, com sua contribuição, e na sua proporção, e merecem ser reconhecidos por isso; porém, nenhum dos dois, hoje, merece ser titular do time; nenhum dos dois, muito menos, merece ser alçado à condição de ídolo sacrossanto insubstituível e, lamento dizer, nenhum dos dois deveria ter seu contrato renovado no final do ano. Podem ser úteis nessa reta final, mas não precisam jogar todas as partidas. Refiro-me a Leonardo Moura e Renato Abreu. É hora de virar a página.

Leonardo Moura há tempos vem demonstrando não ter mais condições físicas de suportar a intensidade e quantidade de jogos como lateral. A nossa lateral direita tem sido uma avenida há muito tempo e nenhuma providência foi tomada porque Leonardo Moura é um ídolo do clube e no Flamengo há essa tradição, que deveria ser mudada, de que em ídolo não se mexe; que ídolo tem que jogar e ser titular insubstituível mesmo que não esteja jogando porcaria alguma. Tanto em 2011, como em 2012, Leonardo Moura conseguiu fazer um bom primeiro semestre, apesar das falhas na defesa, e nesse ano, repetindo 2011, apresenta grande queda de rendimento no segundo semestre. Acho até que poderia ser útil se utilizado, em esquema de revezamento com outro jogador, na posição que hoje é de Negueba na equipe; porém, acho que isso significaria retardar indevidamente e atrapalhar o inevitável processo de renovação. A vida segue. The show must go on.

Muitos rubro-negros têm atribuído a Dorival Júnior a subida de rendimento de Renato Abreu nos últimos jogos. Apesar do extraordinário trabalho do treinador até o momento, nada mais injusto com o atleta, a quem deve ser atribuído 100% do esforço. Na verdade, se analisarmos como as coisas realmente aconteceram, tudo passa por uma grande injustiça cometida por Joel Santana na partida contra o Corinthians no Engenhão, quando covardemente atribuiu apenas a Bottinelli a responsabilidade pelos gols tomados no primeiro tempo, substituindo apenas o gringo e protegendo o Canelada e seu "calcanhaço". A saraivada de críticas recebidas entre aquela partida e a seguinte, contra o Cruzeiro, em Minas Gerais, fizeram com que Joel cometesse outra grande injustiça: substituiu Renato Abreu na primeira da sequência de partidas em que elevou o nível de seu jogo, apenas para mostrar que podia, para mostrar autoridade, tentando amainar as críticas, exatamente numa partida em que o atleta não mereceu ser substituído, pois talvez tenha sido até o melhor da equipe. E para quem não se lembra, o Flamengo dominou o jogo inteiro; Vagner Love é que não colaborou. O ponto é: por vários motivos, dentre os quais brio, vontade de mostrar que ainda pode ser útil e, obviamente, o fato de seu contrato expirar no final do ano, Renato está dando tudo de si para reverter essa situação, e o início dessa reviravolta antecedeu a chegada de Dorival, justiça seja feita.

Dorival, porém, deve estar atento: contra o Vasco Renato jogou uma partida burocrática. Fez duas jogadas perigosas, ao ir à linha de fundo, uma em cada tempo, e no restante do jogo atuou no mesmíssimo nível da época de Vanderlei Luxemburgo e Joel Santana. É aqui que deve ser analisada, criteriosamente, a relação custo/benefício e o desgaste que sempre ocorre ao deixá-lo fora da equipe titular. E Renato, claramente, não tem mais condições de disputar partidas inteiras aos finais e meio de semana mantendo o nível, que já está aquém do alto salário. É hora de enxergar as coisas como realmente são, sem ilusões, e virar a página, ou Dorival terá a mesma pedra no sapato que seus antecessores para montar um time veloz, moderno e solidário.

Zinho, o Discurso e a Prática - Zinho, em entrevista ao Globo, neste domingo, você disse, expressamente, que brigar pela Libertadores fica para o ano que vem. Gostaria apenas de te dar um toque: até uns meses atrás, a sua chefe tinha grandes chances de ser reeleita; hoje, cogita-se até de ela não se candidatar. O nome do chefe pode mudar. Acho que você não está se comportando como um funcionário público acomodado, daqueles que se escoram na estabilidade e deixam o paletó na cadeira, mas é bom afinar o discurso e a prática, ok? O nome do chefe pode mudar. Ademais, você até parece que não é Flamengo! Para o Flamengo, nada é impossível. Certas coisas não devem ser ditas.

Que venha a cachorrada!

Bom dia e SRN a todos.