segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cum Grano Salis

Buongiorno, Buteco! Duas vitórias seguidas, com Vagner Love marcando dois gols por jogo e a defesa há mais de 180 (cento e oitenta) minutos sem tomar gol; organização tática, jogadores demonstrando raça em campo, novo esquema tático aparentando estar dando certo. Rumo ao Hepta, então? Cum grano salis. É assim que, até aqui, recebo essa reação do Flamengo no campeonato. Não é que não esteja contente, feliz e aliviado em ver que agora, com um treinador qualificado e trabalhador, o mesmo elenco começa a render muito mais do que vinha rendendo antes e o time se afasta, ao que parece definitivamente, das imediações da ZR. Apenas entendo que ainda falta um bom caminho a ser percorrido até a torcida se ver com motivos concretos para se empolgar. Cum grano salis (como um grão de sal) é uma expressão muito utilizada no Direito quando se deseja dizer que determinada conclusão deve ser recebida com temperamentos, com moderação, com parcimônia, e ser muito bem analisada; ou seja: tudo aquilo que não deve ser tomado ao pé-da-letra. 

Se é verdade que a defesa se apresenta mais sólida, o meio campo com três volantes não impediu o Náutico de pressionar e ter a posse de bola durante boa parte do jogo; inclusive, no segundo tempo os pernambucanos perderam uma chance de gol inacreditável. Por outro lado, se é incontestável que os jogadores se posicionam agora de forma mais organizada em campo, o time criou pouco nessa partida, se considerarmos que enfrentamos uma das piores defesas do campeonato, o que necessariamente não tira o mérito pela vitória nem pelos dois gols marcados, ao meu ver oriundos não só do talento individual de Vagner Love, mas também, e na mesma medida, do posicionamento ofensivo da equipe, que pressionou o Náutico desde a saída de bola, provocando e se aproveitando dos erros de sua defesa.

É claro, é evidente que ainda é cedo, e eu sei disso; e entendam que eu não estou cobrando, muito pelo contrário; mas, como torcedor rubro-negro que pensa em muito poucas coisas além do Flamengo, já me corroo em dúvidas imaginando qual é o limite dessa reação. Sonhar é bom, rejuvenesce, mas jamais se deve perder o contato com a realidade. Gosto da posição encontrada por Dorival para Thomaz, ao meu ver um jogador veloz, driblador e do tipo "carregador de bola"; aliás, acho até que é a posição perfeita para ele; porém, sei que falta a Thomaz amadurecer, escolher a hora certa de dar o drible e correr para o espaço vazio esperando-a de volta ou de simplesmente passá-la, o que talvez só ocorra com o tempo, jogando muitas vezes e tendo oportunidades como essas. Em contrapartida, sei que Liedson parecia já estar indo ladeira abaixo no Corinthians, mas aprendi a jamais subestimar o poder rejuvenescedor do Manto Sagrado em ex-jogadores que já o vestiram com êxito: o Manto Sagrado não é para qualquer um, mas para poucos; e aqueles que são por Ele escolhidos renascem das cinzas. É histórico.

Bem, como ficar entre os dez primeiros já é o que precisamos hoje manter, de minha parte, para concluir que estamos diante de um fenômeno como os de 1992 e o de 2009, ou, em menor escala, de uma reação em busca de uma vaga na Libertadores/2013, Dorival terá que solucionar alguns problemas e o primeiro deles é como não jogar com três volantes e manter o time compacto, pois uma das carências que percebi na equipe nas duas últimas partidas foi exatamente a falta de articulação no meio de campo, o tal "camisa 10". Gosto de Adryan centralizado. Considero-o um jogador objetivo, de poucos toques na bola, e que entra na área em velocidade concluindo a gol com enorme precisão e categoria. Foi assim que marcou seus gols no profissional até agora. O último deles lembrou-me do gol de Petkovic contra o Palmeiras em 2009 no Parque Antártica. Coisa para poucos. Espero que Dorival perceba a tempo.

Ao lado disso, outros desafios surgirão no caminho e importantes decisões deverão ser tomadas: há espaço para Liedson e Vagner Love no mesmo time? Adriano deve ser contratado? Haverá mesmo coragem e respaldo para barrar Renato Abreu e Ibson de forma definitiva, se necessário? E para a zaga? Não virá ninguém? Esses e outros desafios e dúvidas aparecerão no caminho de Dorival e Zinho até o final do ano. Espero que sejam habilidosamente retirados e não haja desvio de trajetória. O momento nos permite sonhar e ter confiança, mas cum grano salis.

Bom dia e SRN a todos.