sexta-feira, 13 de julho de 2012

A casa e os donos

A entrevista de ontem do vice-presidente do Fla-Gávea deixou um monte de gente indignada e outros tantos de cabelo em pé ao mostrar de maneira clara porque a re-eleição da diretoria atual é dada por muitos como certa. O fato é que o grupo que hoje administra o clube se aproveitou da divisão entre os caciques do futebol para ganhar a eleição e, uma vez no controle, manteve o foco em garantir o apoio daqueles que os elegeram, ou seja, os sócios e frequentadores do clube, que nem sempre são torcedores do Flamengo.

Mas o Flamengo pertence aos sócios e frequentadores do clube ou aos milhões de apaixonados que formam a Nação? Sempre que se aproximam as eleições no clube a pergunta volta e, dessa vez, provavelmente mais forte do que nunca. Pela primeira vez em muito tempo, o clube tem uma diretoria que não tem como foco principal o futebol. Na internet correm protestos, queixas e indignações que não se refletem na política da direção do clube, que segue incólume, rumo à continuidade.

O lado positivo dessa questão é que finalmente parece ter caído a ficha de que ainda que a entidade Flamengo pertença à nação, os donos do clube são os sócios. E eles podem escolher, como fizeram da última vez, alguém que não se importe se o time é campeão brasileiro ou se vai cair para a segunda divisão, desde que a piscina esteja limpa e todos os funcionários estejam felizes. Finalmente, a torcida parece entender que precisa participar de maneira presente das decisões do clube ou então somente vai poder reclamar na internet e levar faixas de protesto nos estádios.

O outro ponto que eu achei interessante da entrevista diz respeito a uma questão polêmica e de difícil solução, que é o estádio do Flamengo. O dirigente sugere que o grupo atual pretende, caso continue na direção, fazer uma revitalização e ampliação do velho Bastos Padilha, o nosso estádio da Gávea. Sei que muitas pessoas são contra por acreditarem que o estádio do Flamengo é o Maracanã por direito, outros pensam que o Flamengo deve planejar um estádio grande para comportar o tamanho da sua torcida. E temos outros tantos que são contra só por serem contra, especialmente, essa gestão atual, que tem o dom de estragar até as boas idéias que surgiram nos últimos três anos.

Acontece que a cidade do Rio de Janeiro já possui um estádio de grande porte, o Maracanã, administrado (bancado) pelo estado e um de médio porte, o Engenhão, administrado pelo Botafogo. Nos dois casos, o Flamengo é a principal fonte de renda, já que é o que leva mais público. Por esse motivo, creio que dificilmente os governantes  dariam autorização ao Flamengo para construir um estádio para 60 mil pessoas que permitisse que ele não precisasse mais jogar no Maracanã. Sem os jogos do Rubro-Negro, esses estádios tendem a se tornar inviáveis economicamente.

Outro fato é que, ainda que sonhemos em ter médias de público como o Barcelona e os clubes alemães e ingleses, em pelo menos metade do ano, as médias de público costumam ser inferiores a 15 e as vezes 10 mil pagantes. Apenas como referência as médias de público presente e pagante do Flamengo no campeonato carioca 2012 foram de 8937 e 6688 torcedores, segundo o site da FFERJ. Mesmo no campeonato brasileiro, jogos de quartas e quintas à noite contra times menores dificilmente dão bons públicos exceto quando o time está bem.

Um estádio menor aumenta as chances de lotação e permite ao clube elevar o preço do ingresso em determinados momentos, como vem sendo feito pelo Corinthians, que vende os  bilhetes de alguns setores do pacaembu a 300 reais. Isso sem contabilizar vendas de camarotes, naming rights e todas novas receitas que um estádio gera que tantas vezes foram mencionadas e debatidas aqui no Buteco. Com um planejamento bem feito, é possível inclusive aumentar a parcela de sócios do clube que sejam torcedores, oferecendo vantagens e benefícios, como um setor exclusivo por exemplo.

Por esses motivos, eu penso que revitalizar e ampliar o estádio da gávea para algo em torno de 15 a 20 mil pessoas é uma excelente idéia. Lamento que esse plano seja lançado e executado por uma gestão que errou em quase tudo que tentou no que diz respeito ao futebol. Por outro lado, inegavelmente, os dois melhores departamentos do clube hoje são justamente o de Patrimônio e o Fla-Gávea, o que pode diminuir a chance de fracasso.

abs e SRN!