segunda-feira, 9 de julho de 2012

100 Ilusões

Buongiorno, Buteco! No Fla-Flu do Centenário, deu Fluminense. Placar magro, o adversário, que no papel já era superior, fez apenas o suficiente para neutralizar nosso quase nulo setor ofensivo, dando espaço ao nosso meio ciente de que nada aconteceria. O resultado não surpreendeu no final. Tomara que, tal como na primeira partida, vencida por eles, isso seja um prenúncio de que nos próximos 100 (cem) anos continuaremos sendo maiores, mais importantes, conquistando mais títulos, com mais torcida e vencendo no confronto direto contra os nossos rivais. Podemos até torcer por isso sem nos iludir, pois a Diretoria atual não será eterna, felizmente. O momento atual, porém, é que não permite ilusões. A realidade acachapante, que impiedosamente se revela clara como a luz do sol a cada rodada é que nossa defesa é horrorosa, abaixo do nível da crítica (a lentidão de González no lance da falta e na sequência no gol foi bizarra); nosso meio é completamente improdutivo, repleto de volantes incapazes, desorientados e/ou ultrapassados, e nosso ataque fica isolado e desabastecido. Aos que acham exagerado o temor de luta contra o rebaixamento, um dado objetivo e concreto: apenas Botafogo, Náutico, Coritiba e Atlético/GO sofreram mais gols que a defesa do Flamengo até aqui nesse campeonato. Para reflexão.

É claro que muito disso decorre do elenco ser heterogêneo e, especialmente na defesa, ser ridiculamente fraco, incompatível com a Série A do futebol brasileiro; o problema maior, porém, insisto mais uma vez, está no treinador. Elenco fraco tecnicamente e falta de padrão tático são problemas distintos. Não há razão para o Flamengo não ter qualquer padrão tático com Joel Santana estando há cerca de um semestre a frente do grupo. Não há explicação plausível para determinadas indicações feitas para composição do elenco e menos ainda para algumas opções que faz na escalação do time titular. Seu trabalho é pífio, patético e inaceitável.

Para não dizerem que estou sendo excessivamente severo e injusto, tudo bem, até acho que o time se posicionou melhor em campo do que em partidas anteriores. Reputo essa pequena melhora tática da equipe ao fato de ter sido escalado com ao menos um meia, mesmo que esse meia tenha sido o Bottinelli. Jogando em sua posição original, o Gringo, principalmente no primeiro tempo, errou menos do que em qualquer das outras partidas nas quais foi escalado (por Joel ou pelo treinador anterior) como volante, ponta direita, atacante, enfim, improvisado, oportunidades em que quase matou a torcida de ódio. Como meia, vejam só, Bottinelli até que foi bem nos passes, embora nos momentos cruciais... deixa pra lá; mas reparem que aí é uma questão do jogador não estar no nível do clube, o que justifica menos ainda escalá-lo improvisado, onde não rende absolutamente nada. O ponto, porém, é que a simples presença de um mísero meia no meio de campo, conceito que parece violentar a concepção futebolística de Joel Santana, afinal de contas é raro vê-lo optando por esse tipo de formação tática, deu alguma articulação ao time, ainda que insuficiente para o exigente padrão que a história do Flamengo e sua torcida pedem, e mesmo esse meia tendo sido o Bottinelli. Faço essa ressalva porque, apesar de considerar que houve uma pequena melhora tática, ela foi  incipiente, pois não vimos uma jogada ensaiada sequer, muito menos jogo objetivo, o que, insisto, repito, independe da qualidade técnica dos jogadores.

Quanto ao resto do time, Luiz Antonio foi bem na lateral direita, ao contrário de partidas anteriores, a ponto do Fluminense insistir apenas pelo lado esquerdo da nossa defesa, uma verdadeira autoban alemã, onde Magal esforça-se de forma comovente para provar, jogo a jogo, que nem reserva pode ser nesse elenco. Vou poupar os jogadores de ataque porque fica difícil jogar isolado, com um meio tendo a armação limitada ao Bottinelli, já que o Renato Abreu foi a nulidade de sempre e Ibson conseguiu superá-lo ontem em improdutividade, ineficiência e deficiência técnica. Ambos, porém, são insubstituíveis e protegidos do treinador. Deveriam ontem ter saído da equipe. Joel Santana, contudo, covardemente tirou de campo Diego Maurício e Amaral (muito ruins, mas ontem menos ruins do que esses dois medalhões - Ibson e Renato Abreu) porque são jogadores que não reclamariam e não lhe causariam problemas acaso sacados do time. Isso tem que acabar e de uma vez por todas no Flamengo!

Fiquei então, mais uma vez, com a impressão que, dentro do elenco, desse elenco, do jeito que se encontra, há alternativas melhores e mais compatíveis com a história do Flamengo, e que poderiam deixar o time mais ofensivo e efetivo.  É o caso do Adryan, que foi orientado para jogar como atacante, mas procurou um espaço dentro de campo para jogar de acordo com suas características e conseguiu construir algumas boas jogadas, e do Mattheus. O que não dá é para continuar com um treinador que simplesmente se recusa a tentar qualquer fórmula diferente da sua manjada e ultrapassada escalação com três ou quatro volantes, de preferência com um deles funcionando como terceiro zagueiro, em detrimento de jogadores mais talentosos e de formações mais condizentes com as características individuais dos atletas que tem ao seu dispor no elenco.

O Camisa 10

Nas redes sociais e na imprensa a torcida se agita com os nomes que vem sendo cogitados para vestir a camisa 10 do Manto Sagrado - Juan Roman Riquelme, Diego (ex-Santos) e Dario Conca.

Considero Diego e Conca jogadores do mesmo nível; Diego leva vantagem na minha avaliação pelo fato de Conca bradar aos quatro ventos que quer voltar para o Fluminense. Já basta a experiência com Thiago Neves. Acho também que ambos são muito caros e aqui não estou levando em conta a relação custo x benefício, que ao meu ver inclusive não seria favorável, pois esse não é o ponto mais importante, mas sim o do Flamengo mais uma vez não conseguir honrar o compromisso e gerar mais uma dívida monstruosa. Tecnicamente, contudo, tanto um quanto outro vestiriam muito bem o Manto Sagrado.

A melhor opção para mim, apesar da idade, é o argentino Riquelme. Digo isso por conta do currículo. O cara é um vencedor e em clube grande, de massa, com torcida exigente e apaixonada, parecida com a do Flamengo, como é o caso do Boca Juniors. E na parte técnica coloca os outros dois no bolso, fácil, fácil. Acho que ainda dá conta de jogar uma ou duas temporadas em alto nível e custaria menos da metade do que qualquer um dos outros dois. Isso sim eu chamo de boa relação de custo x benefício.

Há alguma polêmica quanto a uma recente declaração de Riquelme, que teria dito que nada mais tem a acrescentar ao Boca Juniors. Alguns torcedores do Flamengo questionaram por que então ele acha que deveria se oferecer ao Flamengo se acha que não está no nível do Boca. Ocorre que, ao menos na minha opinião, não foi isso que disse o craque argentino. Para mim, ele apenas disse que não tinha nada mais a acrescentar ao clube, ou seja: conquistou tudo o que tinha que conquistar com aquela camisa. Buscará agora novos desafios. Coisa totalmente diferente, convenhamos.

O título da coluna, contudo, fala em ilusões e é dentro desse contexto que gostaria de encerrar por hoje. Podem me considerar exagerado ou radical, mas, se for para continuar com Joel Santana à frente do elenco, considero bobagem trazer qualquer um desses três jogadores, pois a chance de serem escalados como atacantes à frente de três ou quatro volantes é imensa. Seria como repetir o que acontecia com a grande estrela do elenco que acaba de sair pedindo milhões e milhões do clube. Esse é o Joel e sempre foi assim que ele agiu e pensou, inclusive no passado recente. Seria como comprar uma Ferrari para passear nas dunas do deserto ou nas geleiras do Pólo Norte. Incompatível. Seria gastar dinheiro à toa, como se o clube o tivesse para esbanjar.

Para que um reforço desse nível e desse custo funcione e dê o retorno esperado, a mentalidade precisa mudar. A filosofia de jogo precisa ser oposta à atual. E com Joel Santana, isso não ocorrerá.

Bom dia e SRN a todos.