quarta-feira, 20 de junho de 2012

O otário



Julio Botelho, antigo ponta-direita da Portuguesa de Desportos, Palmeiras e Fiorentina, foi alvo de uma vaia em uníssono disparada por mais de 100 mil pessoas num amistoso, no Maracanã, entre Brasil e Inglaterra. Levado ao jogo por um tio torcedor do América, este flamenguista de carteirinha assinada tinha por objetivo, assim como a maioria das pessoas presentes ao estádio naquela dia, ver mais um baile de bola de Mané Garrincha, mas eis que o locutor anunciou que o nosso gênio das pernas tortas não jogaria, entrando em seu lugar o Julinho. Vicente Feola, técnico da seleção, cometerá esse desatino? Mas como!, por quê, que isso!!! Esbravejavam todos. No 1º toque na bola, Julinho ouviu de tudo e daquele mundo os mais impublicáveis impropérios usados à época. Jogo que segue, e talvez ungido pelos anjos do Garrincha, começa o show do nosso ponta de plantão. Dribles pra cá, cortes prá lá, canetas, lençóis e um cruzamento para o 1º gol do Brasil, calando a multidão. Jogo que segue, novamente com Julinho em estado de graça, agora arrancando aplausos unânimes do público, numa atuação digna de porta-retratos, finaliza fazendo o 2º gol da vitória brasileira, para espanto dos dois times, o brasileiro que temia a ausência do Mané, e os ingleses por saudá-la como um trunfo. A galera como num show de Paul McCartney, que completou 70 anos na segunda-feira passada, se pudesse pediria bis de joelhos nas frias arquibancadas e o aplaudiu de pé durante vários minutos em sua apoteose;

Julinho calou os críticos, passou um esparadrapo horizontal na boca de milhares de torcedores e foi embora feliz, deixando seus desafetos momentâneos igualmente felizes com sua exibição de gala e bem que ele merecia uma torcida de smoking para emoldurar a foto da noite, graças à espetacular e inesperada atuação de um jogador de futebol inserida na história do velho estádio.

Lembrei daquela partida com saudades quando escutei o cabeça de bagre Renato Abreu chamar os torcedores que o vaiaram, com justiça, de um "grupo de otários". Se soubesse jogar futebol com um mínimo de categoria, contra os reservas do Santos, transformaria os apupos em aplausos dada a fragilidade dos adversários, pois o torcedor do Flamengo exige dos seus jogadores que atuem com vontade de ganhar e vistam com dignidade o manto sagrado. R11 não fez uma coisa nem outra e ainda pegou o mais simples dos atalhos, o da vociferação contra que paga seu gordo salário para ter como retorno um raquítico futebol;

Bottinelli, a quem faço muitas restrições em função do seu estilo vagalume, há menos de 10 dias tentou ganhar uma vaga no time titular no grito, não tendo obtido sucesso. Partiu, então, para oferecer uma magnífica aula de personalidade na mesma partida com o Santos e deixar o treineiro em maus lençóis se o mantiver na reserva. Sob mais e intensas vaias do que as sofridas pelo Renato, além do momento tão "burro" como impróprio, simplesmente tomou para si a imensa responsabilidade da cobrança de um penalti no fim do jogo, correndo enorme risco de queimar seu filme no clube definitivamente, mas foi lá e fez o gol da vitória, a qual levou o Flamengo a uma distância de apenas 4 pontos do líder da competição;

Há uma substancial diferença comportamental entre os casos. O gringo procurou mostrar, pessoal e tecnicamente, que nele a torcida pode confiar, e o fez na prática, num momento de estresse puro àquela altura e situação do jogo. E Renato Abreu apenas produziu provas contra si mesmo para mostrar quem é o otário depois de tanto tempo no futebol.

Melhor faria se usasse "o meu direito constitucional de permanecer calado".

SRN!