quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A tal da rivalidade regional!


A tal da rivalidade regional!


Rodrigo Romeiro


Saudações, Caros Butequeiros Rubro-Negros. Ontem li que o nosso Mengão poderá, não perdendo para o Vasco, algo praticamente líquido e certo, repetir um feito só alcançado em 1921, há 90 anos: terminar a temporada sem perder clássicos regionais.

O grande Flamengo de Zizinho, tricampeão nos anos 40, apesar de ter feito história e ter deixado muitas saudades, não foi capaz de passar um ano sem perder para os vizinhos. O time de Dida, Gerson, também tricampeão carioca nos anos 50, campeão do Rio/São Paulo de 1961, nem perto chegou. E o maior Flamengo da história, o nosso esquadrão revolucionário, uma das maiores equipes de futebol de todos os tempos, que ganhou tudo que era possível, a geração Zico, nada de conseguir tal façanha.

Caros Butequeiros Rubro-negros, não estamos falando de um ano em que os demais cariocas estão muito mal e nós estamos sobrando. Falamos de um ano em que o futebol brasileiro está sendo dominado pelos cariocas. Em que todos os clubes cariocas terminarão o campeonato brasileiro entre os primeiros colocados. Em que os cariocas têm excelentes times, com alto investimento e com grandes folhas salariais. Coisa que também não acontece há muitas décadas.

Apesar disso, e da grande possibilidade de realização de tal façanha, percebo que a Magnética dá a esse fato a importância que ele merece: nenhuma. Felizmente, a massa blogueira rubro-negra está mais preocupada em ganhar títulos nacionais e internacionais, em ver o time jogando bonito, em ter um clube bem governado e com outras tantas questões muito mais importantes, do que com a tal da rivalidade regional.

Uma gozaçãozinha com a cara do vizinho é sempre bem-vinda, mas descobrimos nos últimos tempos, que há no futebol coisas mais relevantes e prazerosas do que isso. Ganhar do Vasco, do Fluminense e do Botafogo já passou a fazer parte da rotina. Em outros tempos, terminar o ano sem perder para os rivais regionais, seria motivo para a consagração de um grupo de jogadores e dirigentes. Hoje, mesmo com isso, o sentimento quase unânime entre os membros da nação rubro-negra é de que o nosso final de ano, seja ele qual for, será melancólico e frustrante.

A tal da rivalidade regional, em tempos globalizados e pasteurizados, está cada dia mais enfraquecida. Em nossos corações, subjetivamente e individualmente, podemos até eleger um dos cariocas como o nosso rival predileto. Porém, para todos os lados que se olha, não se encontra um só elemento objetivo que sustente a idéia de que qualquer outro clube carioca ainda é o nosso grande rival. Em tamanho e potencial de torcida, ninguém chega perto. Em disputa por fatias do mercado de patrocínios e vendas de produtos (venda de camisas, cotas de tevê, pay-per-view, produtos licenciados etc) muito menos. Na disputa pela hegemonia do futebol regional e nacional, nenhum deles incomoda mais. No médio e longo prazo, não há mais como sustentar a idéia de que é possível para algum vizinho polarizar com o Mengão, em qualquer campo que seja. A não ser que nos apequenemos, pois duvido que eles consigam crescer e nos alcançar.

O André Rizek (não foi confortável ter que citá-lo como fonte), jornalista da Sportv, paulista e corintiano, disse nessa semana que ouviu de um diretor de departamento de marketing de um grande clube, em uma feira de negócios futebolísticos, que no dia em que o Flamengo se organizar, vai hegemonizar o mercado e, conseqüentemente, o futebol brasileiro. Pela forma como ele falou e pelas relações que ele tem, desconfio fortemente que o tal dirigente deve ser Luis Paulo Rosemberg, simplesmente o homem que pegou o Corinthians na segunda divisão e elevou a posição de mercado que ele hoje se encontra.

Com um mínimo de organização, inevitavelmente, deveremos ser a maior potencia futebolística brasileira. Se continuarmos patinando, continuaremos muito superiores aos vizinhos. Somente se ocorrer uma catástrofe, poderemos descer ao patamar deles, desde que eles subam bastante.

Nossos vizinhos são simpáticos, bravos, dotados de grandes tradições, trazem-nos muitas lembranças marcantes, mas não podem mais ser o nosso parâmetro para absolutamente nada. Gratos a muitos de nós devem ser os nossos vizinhos, por lhes darmos uma importância que há muito eles não têm. Por fatores diversos, o Flamengo está em um patamar diferente, muito acima, e nossas pretensões devem ser adequadas a isso.

No domingo, teremos mais um confronto com um deles. Para eles, compreensivelmente, qualquer prejuízo que nos causem, será comemorado como se fosse um título. Porém, para nós, será apenas mais um confronto repleto de grandes histórias e só nos restará cumprir a nossa obrigação: vencer, vencer, vencer, pois uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.