segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Rebus Sic Stantibus

Buon Giorno, Buteco! Rebus Sic Stantibus; sabem o que significa? A rigor, significaria: "Estando as coisas assim"... Bem, no Direito, dá para escrever um tratado, uma tese de PHD a respeito do tema; então, eu vou resumir bastante, pois o objetivo é fazer uma analogia ao futebol para escrever essa coluna: a cláusula rebus sic stantibus, no Direito, abarca a "Teoria da Imprevisão", que contrapõe a cláusua Pacta Sunt Servanda (os pactos devem ser cumpridos). Em suma: alterando-se radicalmente as condições em que o pacto foi celebrado, justifica-se o seu não cumprimento, a despeito de sua obrigatoriedade. Foi com base neste princípio que consumidores conseguiram, em algumas ocasiões, rever contratos cujo equilíbrio foi radicalmente alterado mediante alta do dólar, por exemplo. Pois bem. A coluna de hoje mergulha neste princípio do Direito para conclamar o treinador do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo, a rever o seu pacto, seja ele qual for, com o jogador Renato Abreu, o "Insubstituível da Gávea". Depois da partida de ontem, e estando as coisas assim, com o Flamengo novamente a três pontos dos líderes faltando dezoito a serem disputados, Sua Senhoria não pode se apegar ao cumprimento de pactos antigos, obscuros e sinistros, promovendo a volta do jogador ao time e tirando um dos jovens que devolveram a alegria ao futebol do Flamengo: Muralha e Thomás.


Recordo-me aqui do anúncio da contratação do Ronaldinho Gaúcho e de, na ocasião, ter escrito que ele só seria bem aproveitado acaso jogasse ao lado de volantes e apoiadores que não errassem passes, jogassem de forma vertical, em velocidade (sim, a velocidade não é apenas um detalhe em todo esse contexto!) e num esquema de jogo absolutamente ofensivo. Consciente de que não poderia mais ser o jogador de 2004/2006, no Barcelona, sempre acreditei que renderia em um esquema de jogo, seja ele qual fosse, mas calcado nesses parâmetros. Desde então, numa coluna atrás da outra, sempre me senti numa verdadeira batalha contra o tal losango e formações com Willians, Renato Abreu e outras coisas medonhas e horrorosas que ocuparam o meio de campo do Flamengo e que faziam o jogo do Flamengo empacar, o ataque não render, o time não produzir, o futebol murchar. Até que...


Ontem, Luxemburgo não tinha outra saída. O campeonato estava mesmo indo água abaixo. Domingo passado quase foi. Ele certamente se recordou disso. Novamente os resultados ajudavam, mas desta vez permaneceram favoráveis até o final. Maldonado, que pena, parece ter chegado ao fim da linha e deixava Aírton totalmente sobrecarregado na função de marcação em campo. Com Willians afastado e Renato Abreu (GRAÇAS A DEUS!!!!!) suspenso, foi obrigado a lançar Muralha. E tudo aquilo que sempre pedi, que outros colunistas pediram, que a maioria dos amigos frequentadores do Buteco pediam, aconteceu. Vamos então falar do jogo.


Mengão 5x1


Começo aqui fazendo a defesa do Maldonado num ponto. O cara recebe salários em dia e é obrigado a fazer o que o empregador lhe determina. E se o treinador, o "Professor", que assim se autointitula, e que ganha R$ 700 mil por mês, segundo dizem, o escala para marcar um dos melhores jogadores em atividade no país, o argentino Montillo; se esse treinador não consegue enxergar que o Maldonado não tem mais condições físicas para executar uma atribuição com essas, bem, o que dizer, senão que todos nós, torcedores do Flamengo, temos muita sorte dessa partida ter terminado 5x1? Sim, porque começamos bem, mas aos poucos, à medida em que o Cruzeiro se deu conta que o Aírton estava sobrecarregado na marcação e que o Montillo, o rápido Montillo, era marcado pelo Maldonado, deitou e rolou. Teve gol perdido sem goleiro e com bola na trave, teve pênalti perdido quando estava 1x0...


Numa boa? Na real? O Cruzeiro poderia ter aberto 3x0. Aqui entra toda a imprevisibilidade do futebol. Discutíamos na sexta-feira esses aspectos na coluna do Henrin e eu mencionei o fator humano. Como estão intranquilos os jogadores do Cruzeiro! Já tinha notado essa característica na partida contra o Botafogo, onde foram bem melhores que o adversário, mas saíram de campo, também no Engenhão, derrotados por 2x0. Graças a isso, a um chutaço de fora da área do Deivid e de um pouco de sorte (da bola ter batido no Fábio e voltado para o gol), terminamos o primeiro tempo jogando já com grande desenvoltura e bem melhor do que o Cruzeiro. Mas faltava algo. O Muralha.


A atuação do Muralha foi um presente especial a todos os que, aqui no Buteco, pediram um esquema ofensivo, o aproveitamento dos atletas campeões da Copa São Paulo de Juniores de 2011, o futebol vertical... Enfim, foi a prova cabal da diferença que faz ter em campo um volante que tem a capacidade de marcar e apoiar ao mesmo tempo e num esquema ofensivo, no qual não é necessário abrir mão dos apoiadores e nem dos atacantes.


O segundo tempo foi uma avalanche, um colírio para os nossos olhos. Duas assistências do Muralha, dois gols do Deivid e três do Thiago Neves. Gostaria de destacar como o Deivid produz melhor com o esquema ofensivo. É nítida a diferença. São injustificáveis as atuações anteriores e os lances bizarros que ele protagonizou. O que não faz sentido é o treinador escalá-lo quando o time não tem articulação e, quando colocar a formação ofensivo, substituí-lo. Para mim, ao menos, nunca fez sentido essa atitude várias vezes repetida ao longo do campeonato. Está provado, contudo, que com a formação ofensiva o seu rendimento é bem melhor.


Vejam, acho que há vários pontos a serem acertados nesse esquema. O time começa embolado, parece que o Luxemburgo demora a mandar os volantes se posicionarem corretamente e o Ronaldinho abrir pela esquerda ao invés de jogar de costas para o gol (absurdo!). Ontem o time só deslanchou em campo, após o pênalti do Cruzeiro, quando passou a jogar dessa forma.


Esse esquema de jogo não foi bem treinado durante o ano porque houve uma insistência absurda e injustificável com um esquema de jogo que, ao longo do campeonato, não conseguiu render qualquer fruto ao time; ao contrário, foi sempre por via de sua alteração mediante substituições ao longo das partidas que as vitórias foram alcançadas. Por isso mesmo não faz sentido voltar a ele. Esse é o assunto do tópico final.


Coritiba


Sete pontos separam o Flamengo do Coritiba. Nesse campeonato brasileiro, é pouca coisa. O jogo será no Couto Pereira, onde o Flamengo não vence desde 1º de agosto de 1998, pelo campeonato brasileiro, quando venceu por 3x1, com gols de Beto, Vinícius e Romário.


Sigo na mesma opinião, qual seja, de que Renato Abreu, em tese, é um jogador que pode ser útil, desde que selecionadas as partidas nas quais seja utilizado, e que, no estado físico e na idade atuais, é incompatível com partidas de muita pegada, como contra os times do sul do país, fora de casa. Domingo é jogo para o Muralha, que tem saúde e técnica para marcar e apoiar, função que o Luxemburgo teimosamente atribuiu ao Renato Abreu durante todo o campeonato e que ele, por esses motivos óbvios, não conseguiu executar.


Rebus sic stantibus, não dá mais para brincar de Deus e perder o campeonato. É hora de deixar o ego de lado e justificar o gordo salário que recebe do Flamengo escalando o melhor time possível, Luxemburgo.


Bom dia e SRN a todos.