segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Destreinador

Buon Giorno, Buteco! Começamos a semana com a certeza, nada agradável, de que acabou o campeonato para o Flamengo, ao menos em relação a chances de título. Restam ainda as chances de vaga na Libertadores da América, mas não são poucos os torcedores que se perguntam se vale a pena disputar competição tão difícil e nobre para passar vexames como o das oitavas-de-final da Copa Sul-Americana desse ano, contra a "La U" do Chile. A fé no time e no treinador estão severamente abaladas; ao menos para muitos dos frequentados do Buteco, sempre estiveram, a bem da verdade, mas as perspectivas de repetir o presente no futuro próximo tornam a decepção um tanto mais amarga e a frustração ainda mais dolorosa.


O pior de uma derrota como a de ontem é tomar uma virada tendo feito um primeiro tempo como aquele: com um tradicional 4-4-2, o Destreinador do Flamengo, nem parecendo ele mesmo nos dias atuais, ao afastar do elenco o volante Willians, por problemas de indisciplina, demonstrou coragem poucas vezes vista neste campeonato e escalou o jovem Thomaz como titular no meio de campo (!). O rapaz não se fez de rogado, jogou um ótimo primeiro tempo, como foi ótimo o rendimento do time - insinuante, ofensivo, tocando a bola, movimentando-se; é impressionante como um só jogador veloz e habilidoso, entrando no meio de campo do Flamengo, mostra-se capaz de mudar o time, dando opções de jogo para Thiago Neves, Ronaldinho Gaúcho e Deivid, além dos laterais, quando apoiam. Não ouso sequer destacar um jogador individualmente: gostei dos laterais no apoio; acho que o Ronaldinho encontrou espaços para armar o jogo com seus lançamentos; o Thiago Neves se aproximou bem do Deivid (perdeu um gol FEITO, que poderia nos ter deixado com 3x0, mas em compensação marcou outro e participou bem de algumas tabelas), juntamente com o Thomaz, e participou com eles de tabelas importantes, às vezes também com o Leo Moura. Tudo ia bem, com a exceção do Renato Abreu, que, ao meu ver, jogou mal e desde o primeiro tempo sentiu grandes dificuldades em seguir o ritmo rápido da partida, deixando o sóbrio Aírton sobrecarregado na marcação; mas nem por isso o Flamengo deixou de mandar no jogo e abrir dois gols de vantagem. Sem exagero, em alguns poucos minutos chegou a colocar o Grêmio na roda e pareceu que ia golear; tudo ia perfeitamente bem, até que... o Welinton, zagueiro protegido do Destreinador, entrou em ação.




Eu já tinha visto jogador virar de costas para cobrança de falta ou para chutes à distância; já tinha visto jogador virar de costas e girar como um peão por tomar um drible, mas nunca, jamais havia visto um zagueiro disputar um lance e, ao invés de dividir a bola com o atacante e tentar bloqueá-lo, virar de costas e oferecer o seu traseiro, ou, no popular, a sua BUNDA. O lance foi patético, bizarro, e a partir dele as coisas começaram a ficar difíceis. Ao invés de descer para o intervalo com uma vantagem de dois gols, o Flamengo devolveu as esperanças ao Grêmio na partida. Mas o segundo tempo foi um capítulo à parte.


O Destreinador e Renato Abreu


Nove minutos. Foi o tempo que o Grêmio levou para, pressionando o Flamengo, empatar a partida. Renato Abreu, dentre todos os protegidos do Destreinador do Flamengo, disparado o favorito, e que sem dúvida alguma vinha tendo sérias dificuldades na partida com passes errados e na marcação dos adversários, tomou uma caneta desmoralizante do centroavante André Lima, titular indiscutível do Inacreditável FC, e o jogo estava empatado. Vejam bem: não foi uma caneta qualquer; foi um canetaço; uma "Mont Blanc" daquelas mais caras possíveis, dada por um jogador qualquer; uma mala pesadíssima, cheia de pedras, na ladeira, sem rodinhas, que, acredito, nenhum torcedor rubro-negro em sã consciência gostaria de ter no nosso time. Pois então o Destreinador entrou em cena: sabem esse jogador veterano que vinha tendo dificuldades na marcação e errando vários passes e que tomou a Mont Blanc no gol de empate do Grêmio? Pois é, ele foi adiantado para ARMAR O JOGO. Legal, né? Saiu de campo o jovem Thomaz, aquele do futebol veloz, ofensivo e insinuante...


Esse é o ponto em que a gente tem que parar, respirar fundo, contar até mil para não começar a desferir uma série de palavrões e tentar continuar a coluna e os debates numa boa, de forma respeitosa e cordata, no estilo do Buteco. Pois então, em nome do respeito que tenho por esse espaço, eu vou começar a tentar argumentar pelo lado do Destreinador: vamos supor que esse jovem jogador, esse garoto, estivesse ontem cansado, afinal de contas não está habituado a jogar partidas inteiras no time de cima. Alguém aí acredita nessa versão ou, melhor, que ele estivesse com menos fôlego do que o veterano? Mas ainda que fosse o caso, vamos lá: qual é o sentido, amigos, em, naquele exato momento da partida, com o Corinthians perdendo para o Avaí em São Paulo, o Vasco empatando com o São Paulo em São Januário, o futuro do Flamengo sendo jogado no Brasileiro, o time precisando vencer, o Destreinador recuar a equipe?


Mas não é só: qual é o sentido de recuar a equipe e ainda por cima colocar a velha formação fracassada que não sobrepuja ninguém, nem mesmo os adversários que frequentam ou orbitam em torno da zona do rebaixamento? Aquela formação do losango, que sempre chama os adversários para cima do time e volta e meia sai derrotada de campo no primeiro tempo, precisando dos reservas para virar as partidas e conseguir os resultados?


Por mais forte que fosse a pressão do Grêmio, a última coisa que o Destreinador poderia fazer era recuar o time e chamar o Grêmio para cima do Flamengo. Já vi treinadores mudarem o jogo da beira do gramado, usando as suas áreas técnicas. Elas servem para isso e não para desferir impropérios contra os atletas e o trio de arbitragem.


Ainda que o Thomaz tivesse que sair, hipótese da qual, sinceramente, não estou convencido, havia alternativas para o Destreinador manter a equipe do Flamengo ofensiva e incomodando o Grêmio, dando opções ao seus melhores jogadores, Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves, para que, com as tabelas, pudessem decidir a partida. Um simples exemplo seria a entrada do Fierro e do Muralha. O primeiro formaria o lado direito com Leonardo Moura e o segundo daria o poder de marcação que faltava ao time. Além do mais, se o Thomaz não jogou nada naqueles nove minutos, coisa que ninguém no time jogou, nem o Renato Abreu, é bom lembrar que o Renato Abreu, como armador, não jogou nada no campeonato e nem na sua vida inteira.


Como vocês podem perceber, amigos do Buteco, o Destreinador sabia, tinha certeza de que daquela substituição não sairia absolutamente nada, inclusive por suas insistentes, repetitivas e monocórdias experiências fracassadas durante todo o campeonato. Parem agora para pensar que eram as últimas chances do Flamengo no campeonato, numa rodada em que os dois primeiros colocados, naquele momento, tropeçavam, e perguntem-se se um sujeito desses pode continuar a ser treinador do Flamengo.


Sim, claro, o Ronaldinho Gaúcho não jogou nada no segundo tempo, como também não jogou o Thiago Neves; o Diego Maurício foi patético e ridículo, não nego, mas a verdade é que a alteração do esquema tático após o empate do Grêmio destruiu o Flamengo em campo e o deixou totalmente entregue ao Grêmio, o que não é novidade alguma, pois, especialmente o Thiago Neves, não conseguiu jogar o ano inteiro dentro desse esquema tático e, invariavelmente, subia de produção nas partidas após as substituições, quando o time se tornava mais ofensivo. Ontem ficou muito claro como ele jogou bem melhor o primeiro tempo do que o segundo, mais uma vez.


O placar do segundo tempo foi Grêmio 3x0. O Flamengo, que eu merecorde, não deu um chute a gol. Nenhumzinho sequer.


E isso aconteceu por algum motivo que desconhecemos, pois o treinador do Flamengo é fiel a algum tipo de pacto com o jogador Renato Abreu, de tal modo que nunca, jamais o substitui de partida alguma, nem mesmo quando ele joga de forma medonha e horrorosa, como ontem. Seja qual for esse motivo, ele atende a finalidades que não convergem com os melhores interesses do Flamengo.


Que mistério é esse que faz do Renato Abreu a figura central do Flamengo? Por que esse jogador tão limitado, mesmo quando é um dos piores do time, como foi o caso de ontem, não pode ser substituído? Por que um jogador que não tem mais fôlego para marcar e que não tem categoria para armar o jogo tem o privilégio de jogar todas as partidas inteiras e o esquema tático adaptado para que jamais saia da equipe?


Compreendo perfeitamente os que temem uma classificação para a Libertadores/2012, a renovação de contrato com o Renato Abreu e a repetição de toda essa relação obscura e inexplicável no ano que vem. Claro que essa não é a causa de todos os males, não estou dizendo que seja, mas é sem dúvida um dos pontos principais do fracasso do Flamengo nas competições importantes que disputou esse ano e, diante do que ocorreu ontem, entendo mais do que justo estar em evidência na coluna de hoje.


Gostaria de ver o Flamengo em 2012 com outro comando técnico; com um treinador estrangeiro, quem sabe argentino, jogando um futebol solto, ofensivo, aproveitando a geração jovem e talentosa que surge na Gávea.


Sei, porém, que o Destreinador, hoje, é o "dono" do futebol do Flamengo, graças à incompetência e falta de autoridade de uma diretoria e de uma presidência despreparada, irresponsável e que nunca teve projeto algum para o futebol, que não palavras vazias e politiqueiras. Tudo indica, infelizmente, que teremos mais do mesmo em 2012. Resta saber, agora, se o ano terminará como 2008 ou não.


Bom dia e SRN a todos.


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