segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Autismo Rubro-Negro

Buon Giorno, Buteco! Convencionou-se chamar de Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) ou Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) a alteração que afeta a capacidade do indivíduo de comunicar-se, socializar-se e responder adequadamente ao ambiente em que se encontra. Popularmente, chama-se a enfermidade de "autismo". Lançando meus olhos para o futebol do Flamengo nos dias de hoje, infelizmente vejo um time moribundo pelo autismo futebolístico impregnado no elenco e na Comissão Técnica, resultando em atuações totalmente desconexas das expectativas da torcida e da própria capacidade do grupo e dos profissionais. De quem será a culpa? Dificilmente se poderia falar em um só culpado. De qualquer modo, considero muito mais profilático identificar a causa e ministrar o tratamento adequado, pois a cura pode levar ao sétimo título brasileiro do clube. Observando os sintomas refletidos pelas atitudes dos atletas e do treinador, contudo, infelizmente não há segurança de que o final desse drama venha a ser feliz.


O autismo rubro-negro começa por seu treinador, que vive em um mundo próprio no qual se considera o senhor de toda a verdade e imune a qualquer possibilidade de erro ou de diagnóstico equivocado de qualquer situação. Quando suas ideias fixas não dão resultado, apega-se a elas como a um colete salva vidas em alto mar, a última chance de sobrevivência, insistindo com elas além do limite, tudo para que não tenha que admitir um erro e voltar atrás. Ontem foi a escalação de um ataque com Deivid e Jael. Em geral, ter um poste como centroavante pode ser uma boa ideia, desde que a equipe jogue em função do poste, o qual deve ter desenvoltura suficiente ao menos para empurrar a bola para dentro do gol. Ter dois postes ao mesmo tempo em campo, além de ser dose para elefante africano com diarreia, torna mais difícil a vida dos meias armadores, que não têm com quem dialogar. Um acaba atrapalhando o outro e ambos disputam no final o mesmo espaço físico na partida.


Além de evidente, tal formação padecia ainda de uma desvantagem também facilmente detectável e perceptível, ainda mais para um treinador tão brilhante, inteligente, experiente e vitorioso: os dois meias armadores escalados, Thiago Neves e Bottinelli, não é nem que não atravessem boa fase, na verdade não têm jogado porcaria nenhuma há bastante tempo. Logo, não era difícil calcular que, na prática, o Flamengo não se movimentaria pelas pontas, porque os postes não possuem tal características, e os meias, que já não vinham em boa fase, não teriam com quem fazer as jogadas de aproximação. Resultado do primeiro tempo: Bahia 3x1 e um futebol moribundo e autista por parte da equipe do Flamengo, que nem mesmo no momento do gol conseguiu se comunicar com sua torcida.


Veio o segundo tempo e o estado de perplexidade por o treinador insistir mais dez minutos em seu erro, com a mesma formação. Subitamente, contudo, entregou os pontos e, mais de 55 (cinquenta e cinco) minutos depois, reconheceu o erro e, com três substituições, ao meu ver perfeitas e corretas, alterou taticamente o time e fez com que voltasse a atacar pelos flancos: Diego Maurício e Negueba entraram nos lugares de Bottinelli e Deivid; Fierro entrou no lugar do espectral Leonardo Moura, que chegou ao ponto de não se mexer no lance do terceiro gol do Bahia, o que vem se tornando um hábito por parte dele aos domingos à tarde (vide gol de bicicleta do Leandro Damião em Porto Alegre).


O time melhorou, como não poderia deixar de ser, e passou a pressionar o Bahia, criou chances de gol, mas, moribundo que está, faltou algo: alma, sentimento, vibração. Por isso, não conseguiu contagiar a torcida. Resultado: sexto jogo sem vitória e quinto lugar na tabela, numa rodada que favoreceu pelos resultados dos concorrentes na luta pelo título.


O autismo rubro-negro teve ainda dolorosas demonstrações finais após o jogo, com seu experiente treinador bradando que havia "ganhado o jogo" porque os concorrentes na luta pelo título haviam sido derrotados em seus jogos e quando Angelim pediu a volta de Welinton, como se a presença do atabalhoado rapaz fosse fazer alguma diferença, como de fato não fez na partida contra o Atlético/GO, por exemplo. Na verdade, a zaga voltou a apresentar erros primários de posicionamento em bolas aéreas, tal como havia ocorrido em partidas como contra o Atlético/PR, e tomou dois gols que efetivamente selaram o destino do Flamengo na partida.


Há algo de podre...


Não é possível. Algo está ocorrendo dentro desse elenco. Como não sei o que é, não especularei, mas os efeitos sao perceptíveis: futebol pífio, jogadores sem vibração e aparentando desinteresse. O certo é que o Flamengo ultrapasou os limites para desperdiçar chances dadas pelos adversários diretos na luta pelo título.


Qual será a causa? Qual será a cura?


Você ainda acredita em título e, mais do que isso, que esse time possa voltar a render bem?


Bom dia e SRN a todos.