quarta-feira, 7 de setembro de 2011

04/9 - Domingo de cão

Fim de jogo Flamengo 1 x 3 Bahia. O resultado, de imediato, parece fazer parte da desmistificação do fator campo como uma grande vantagem para o time da casa e me ilude como se fosse o velho Mandrake dentro de sua indefectível capa com forro vermelho, transformando a arma do dono do mando de campo em um inofensivo buquê de rosas. E me faço uma pergunta ainda dentro do Engenhão, acredito que uma questão de prova até para os perspicazes amigos do Buteco: Como joga, atualmente, o Flamengo?

Em certo momento do 2º tempo daquela caótica apresentação contra os veteranos baianos, me surpreendo ao notar o canhoto Thiago Neves tortinho pela direita do ataque rubro-negro, apoiado por nada mais nada menos por um mambembe Fierro, craque da seleção chilena inventado por el loco Bielsa. Por sua vez, não menos desequilibrado e destrambelhado, o destro Diego Maurício irrompe pelo setor esquerdo num contra-ataque de uma nulidade de igual tamanho à do companheiro invertido pelo lado oposto. Para completar o quarteto elevador de pressão arterial de monge tibetano, eis que invade pela posição de centro-avante o bravo Negueba, tropeçando na bola e na zaga. Tudo somado e multiplicado a me oferecer um resultado igual a zero como nas velhas equações de 2º grau, pesadelos dos estudantes da área de ciências humanas.

Para racionalizar o quadro jamais visto nem nos treinos no Ninho do Urubu, dei uma chance para a alternativa constante da letra "e" e supus querer o astuto Luxemburgo ludibriar o adversário com tamanho desvario. Outra ilusão e das mãos do nosso Mandrake não voaram as pombas esperadas.

Noves fora como na aritmética da tia Lucinha, se o ataque não faz gols e a defesa não os leva, fica tudo empatado, menos pior que a derrota acachapante. Terceiro drible levado por baixo das pernas. O setor defensivo mais tonto do que cachorro em dia de mudança entrega o jogo com Gustavo e Ronaldo Angelim disputando quem erra mais, transformando o miolo da zaga do Flamengo num verdadeiro parquinho de diversões, com a inestimável colaboração do Leo Moura.

Hora da torcida ficar perdida, não encontrar como explicar ao distinto público passar meses do ano debitando na conta do Welliton as mazelas de uma defesa que levava poucos gols, tendo ficado algum tempo como uma das menos vazadas do campeonato. E agora José? O zaqueirão viu os dois últimos jogos pela TV, contra adversários que flertam com a Zona do Rebaixamento, e contou simplesmente 6 gols tomados por baixo, por cima e pelo meio da cintura, com um salvo-conduto debaixo dos braços inocentando-o de tudo que acontecia em campo, derrubando os argumentos dos seus detratores segundo os quais nele estava o mal do Flamengo até então, embora Campeão Invicto do Estadual e com apenas uma derrota no Nacional.

A vantagem, sempre dá para olhar por outro ângulo, foi provar que o jovem zaqueiro é apenas um problema a mais somado ao cansado Angelim e ao desafinado Gustavo. De agora até o fim da temporada, só Aírton salva à frente da zaga juntando-se ao Willians para não deixar a vaca seguir definitivamente para o brejo, além de o Luxemburgo poder contar novamente com Maldonado. Há 3 meses da apoteose ou do apocalipse, pouco ou nada há para se fazer em termos de composição do elenco.

No meio de campo, zona de inteligência e onde a mesma faltou juntamente com o primo talento, sobrou a vontade do Willians e do R11 para "acertar o que não é certo no futebol", aproveitando uma frase cunhada pelo filósofo contemporâneo Luxa. Renato atuou com a raça de sempre, virou com alguma precisão o jogo de um lado pra outro, a maioria das vezes para as investidas infrutíferas do Leo Moura pela direita. Teve um Willians exaurido roubando bem a bola e a devolvendo para os adversários, e um Thiago Neves tímido como um paisano recém-chegado ao Colégio Militar. Do Botinelli não escrevo, não dá para gastar preciosos bytes com quem ainda não estreou.

E parabéns ao Renato Abreu pela convocação para a seleção brasileira. Apesar de eu gostar e torcer por esse time apenas em Copas do Mundo, ficou nítida a sua alegria em ser convocado aos 33 anos de idade, pela 1ª vez, o que pode ser encarado como um prova de falta de talento por um lado negativo, porém, olhando de forma positiva, é uma conquista difícil de ser obtida nessa fase da vida de um jogador profissional dentro ou fora do Brasil.

No R11 falta talento para ser maestro de uma seleção brasileira, mas ele também pode ser definido como raça, paixão e amor, fatores que lhe garantiram a titularidade absoluta nos times do Flamengo em suas duas fases no clube desde 2005, de Cuca a Luxa, passando por Ney Franco, Celso Roth, Andrade, Joel Santana...uns 15 técnicos de futebol, entre eles, gente que entende bastante desse jogo dentro e fora das quatro linhas.

SRN!