terça-feira, 19 de julho de 2011

Coluna do Rafael Mengão - 19 de Julho de 2011

Olá galera do Buteco!

O time vem avançando em campo e os micos tem ficado cada vez mais concentrados fora dele, lá com a turma da diretoria (Cielo, falta de patrocinador, balanço sem explicação, etc).

Neste contexto venho aqui discutir um assunto que comecei a analisar nos últimos tempos e se intensificou agora, sócio, bom porque e para quem?

Hoje a realidade para quem quer se tornar sócio do CRF é a seguinte, 3 opções:


1) Sócio Proprietário: aquisição do título e dispensa de pagamento de taxa de manutenção por 5 anos. Obtém direitos políticos (votar e ser votado, bem como participar de Conselhos) após 5 anos de associação;
2) Sócio Contribuinte: paga uma taxa de manutenção mensal e esta vinculada a prática esportiva; e
3) Sócio Off-Rio: paga uma taxa mensal, pode freqüentar o Clube por 30 dias no ano e possui direito a votar (mas não de ser votado) para presidente, bem como participar de Conselhos.

Ou seja, poucas opções e limitadas em regras e direitos. Mas o que explica um torcedor querer se tornar sócio do seu clube? Eis algumas respostas:


• Utilizar a infra-estrutura esportiva e social do Clube;
• Ajudar financeiramente o Clube;
• Participar da administração e política;
• Adquirir bem e serviços exclusivos relacionados ao Clube/Time.

Em fim de participar mais ativamente da vida do Clube do qual é torcedor. Contudo, me dei conta que pelo modelo atual do negócio futebol no Brasil o sócio pode ser encarado sob diferentes óticas. Ele pode ser acionista, cliente, empregado ou executivo. Entender estes diferentes papéis é essencial para se ter uma discussão sobre qual seria o modelo mais próximo do ideal.

Cumpre ressaltar um aspecto interessante que os Clubes possuem, que é o monopólio da paixão do torcedor! Programas bem feito exploram bem este mercado em franca expansão e com enorme potencial no Brasil.

O sistema de associação no Brasil é dividido praticamente em 2 grupos: sócios proprietários e sócios torcedores. O primeiro caso reúne mais os interessados em freqüentar a sede e tendem a se envolver mais como acionistas, empregados e executivos dos Clubes. Já os sócios torcedores refletem mais a ótica do cliente, ou seja, estão mais próximos do clube como consumidores de produtos e serviços, tais como de acesso a estádio, compra de produtos, etc.

Uma tese recorrente é de que só existe o programa de sócios-torcedores em clubes que possuem estádio (Corinthians não tem), e normalmente o número de sócios está limitado à capacidade deste estádio (Internacional e outros no mundo possuem mais sócios que a capacidade do estádio). Tese esta que tem fundamento, mas não se trata de uma verdade absoluta!

Minha preocupação principal reside no Flamengo de como ele está inserido neste contexto, quais as conseqüências do modelo atual para o CRF e onde ele poderia chegar!

A partir disso comecei a minha análise dos principais motivos que determinam o Flamengo ter tão poucos associados (cerca de 6.500) enquanto outros Clubes possuem dezenas, centenas de milhares. Defini como meta estudar dois conjuntos de times de futebol: os Top 12 clubes de Futebol do Brasil e os 9 maiores Clubes de futebol com número de associados (há um conjunto interseção nisso). Sei que há outros clubes menores com excelentes programas e muito mais profissionais que estes Top12 e num próximo momento poderemos expandir a análise. Mas por hora estes subgrupos já dão uma boa base de informação comparativa.

Como fator obrigatório para minha pesquisa tive que despender uma boa parte do meu tempo livre entrando no site de uma série de times que não o do Flamengo, e por diversas vezes, Arghhhhh!!!!! Aliás, esta discussão sobre sites vale até um outro post, mas, depois a gente conversa sobre isso.

As conseqüências da análise podem ser divididas em duas vertentes a ótica do associado (ou potencial sócio) e a do Clube. Neste primeiro post vou tentar focar no associado e obviamente vou derivar as conseqüências disso para o Clube.

Ao começar a pesquisa sob a ótica do associado o primeiro aspecto que me chamou a atenção foi o altíssimo valor do custo inicial para a aquisição do título de sócio proprietário do Flamengo, bem como o valor pago ao final de um ano de associação, conforme a tabela abaixo:

Custo do 1º ano de Associação Anual


Fonte: site dos Clubes, sendo que os nomes aparecem tantas vezes quanto o número de programas de sócios.

Um aspecto interessante ao comparar o título de sócio-proprietário do Flamengo (1º mais caro) com o São Paulo (2º da lista), enquanto no primeiro não se ganha nem o diploma (tem que pagar mais R$ 20 para recebê-lo) no do São Paulo você recebe Camisa oficial autografada e entregue pessoalmente pelo Luis Fabiano; Ingresso para todos os jogos com mando do São Paulo FC no Estádio do Morumbi (Buffet exclusivo no camarote), dentre uma série de outros benefícios.

Num segundo momento me perguntei se o número de categorias para ser sócio do Flamengo estava em linha com os Top 12 do Brasil, o resultado a seguir:

Número de Programas de Sócios por Clube:


Fonte: site dos Clubes.

Ou seja, quanto maior a variedade de programas de sócios, maior a possibilidade de se atingir os diferentes extratos econômico-social de torcedores. Neste quesito o Botafogo e o São Paulo seriam os referenciais do mercado (Benchmark) com 7 diferentes programas cada um.

Mas, voltando a falar de Flamengo em termos de quantidade até que estamos próximo da média dos Top 12, mas será que estamos com os planos adequados? Pois o Internacional, por exemplo, possui a mesmo quantidade (3 planos) e a realidade deles em termos número de sócios comparados ao Flamengo é completamente diferente. A análise a seguir irá focar nos 9 maiores Clubes em números de sócios do Brasil + o Flamengo.

Número de Sócios (x 1.000) Número de Torcedores (x 1.000)



Fonte: site dos Clubes e http://www.lancenet.com.br/infograficos/info-torcida1/

Ou seja, como podemos observar, o número de categorias demonstrado anteriormente não tem forte correlação com o número de sócios, mas ajuda na democratização do acesso!
Ainda analisando o gráfico acima percebemos a baixa relação entre tamanho da torcida e o número de sócios. Podemos até efetuar uma comparação relacionando o tamanho da torcida, o número de sócios e o quanto cada clube aproveita do mercado potencial (no gráfico abaixo representado pelo tamanho do escudo do Clube), ou seja, relação entre sócios e torcedores. Com isto perceberíamos que o Flamengo praticamente desapareceria do gráfico. Uma leitura mais otimista leva a crer que temos um grande potencial de aproveitamento deste mercado. De uma forma ou de outra a realidade se dá conforme o gráfico a seguir:

O tamanho dos escudos retrata a proporção entre sócios/torcedores.


Ou seja, podemos concluir que a relação sócio por torcedor do Flamengo é RIDÍCULA! Muito pouco representativa! Basta dizer que na última eleição a atual presidenta se elegeu com 792 votos numa eleição que compareceram 2.342 sócios-eleitores.

Cabe aqui uma observação, 792 títulos de sócio-proprietário ao custo de R$ 6.500/cada (pagamento à vista) correspondem a R$ 5.148.000, pouco mais de R$ 5 milhões de reais, valor este próximo a DUAS SEMANAS de FATURAMENTO do Clube!!!!

Em suma, o que podemos concluir é que o Flamengo não provê incentivos para aumentar o número de sócios em nenhuma das categorias existentes. E até por isso cria um risco de tomada hostil de poder a um baixo custo.

Os impactos dessas decisões nos Clubes iremos analisar num segundo momento.

SRN, Rafael_Mengão.

Rafael Strauch é administrador, espera conseguir ser um escritor regular do Blog, e ganhou da esposa mais linda do mundo o título de sócio-proprietário do Flamengo no dia 12/06/2011, às vésperas de completar 35 anos de idade!


Nota da Administração: o Buteco do Flamengo dá as boas vindas ao seu novo colunista da terça-feira, o Rafael Strauch (Rafael Mengão). SRN a todos.