quinta-feira, 16 de junho de 2011

No Limite

Buon Giorno, Buteco! Quem não se lembra, durante o Governo Tucano, de uma certa gravação, na época das privatizações, na qual um emplumado membro do Tucanato bradou ao seu interlocutor: "estamos no limite da irresponsabilidade"? Pois toda a administração de risco no desempenho de uma profissão precisa conhecer um limite. Na área esportiva, que tem a competição como razão de ser, é mais do que salutar que existam limites ou tudo se transforma num grande jogo de pôquer. Limites, quando relativos a comportamento humano, são interessantes porque variam de acordo com os padrões morais de cada pessoa. O perigo de quem está "no limite da irresponsabilidade" não é desconhecer seus limites, as fronteiras do proibido, mas não se importar em transpô-las e sim em não ser flagrado.


A administração do Flamengo de hoje me lembra a forma pela qual algumas das privatizações ocorreram - "no limite da irresponsabilidade". O balanço das contas que não fecham; o futebol que teria um patrocínio master milionário, mas que encerra um semestre sustentando-se Deus sabe como. A propósito, todos temos alguma ideia de como se consegue dinheiro sem receitas, afinal de contas é assim que os banqueiros ganham a vida, o que nada tem a ver com filantropia. O problema dessa brincadeira geralmente é sentido na explosão de juros e no endividamento daquele em nome de quem se contrai os empréstimos. No caso das pessoas jurídicas, costuma ser muito cômodo deixar a conta para os sucessores na administração, prática bastante conhecida nos clubes esportivos brasileiros, a qual, entretanto, até hoje não se impôs sérios limites.


Meus caros amigos do Buteco, é essa administração, é essa diretoria que, hoje, tem atribuição estatutária de, hierarquicamente, cobrar dos profissionais do Departamento de Futebol do Flamengo o desempenho de suas funções dentro de limites razoáveis de ética, técnica e eficiência. E por acaso o nosso dublê de manager e treinador tem conhecido limites? Quero crer que não. Confesso que tenho dificuldades de enxergar quem tem condições de desmpenhar essa atribuição na atual Diretoria. Mas limites, meus caros amigos, é o que ele deveria conhecer e reconher, e eu passo a explicar o porquê (no meu ponto de vista, é claro).


Luxemburgo "No Limite"


Tentarei ser bastante preciso ao expor o que penso a respeito da situação do Luxemburgo no Flamengo esse ano: ao meu ver, ele está a poucos passos de levar o clube à ruína no futebol, mas pode fazer o contrário; acho que, paradoxalmente, estamos num divisor de águas, onde, dependendo do que ele fizer, como manager, enfrentaremos a "Perfect Storm" a qual me referi há tempos atrás ou teremos um segundo semestre com expectativas mais altivas, dentro das dez primeiras colocações do campeonato brasileiro.

Entretanto, se vocês me perguntarem o que eu realmente acho que acontecerá, eu lhes direi com toda a franqueza: a ruína. Lamento, mas não acredito mais no Luxemburgo. Repito o que já escrevi aqui no Buteco em colunas e comentários. Acho a teoria de que ele se tornou obsoleto um tanto simplista e fácil, até porque ela colide, por exemplo, com o esquema tático que ele tentou implatnar na equipe neste início de brasileiro - ofensivo, com jogadores criativos e se movimentando, trocando de posições. O que eu acho que ocorre com Luxemburgo, e não me peçam para explicar os detalhes porque não sou detetive, é que seus demônios, que me parecem não serem poucos, influem negativamente na fluência do seu trabalho, nas decisões que toma. Duvidam? Vamos aos fatos então:


Defesa (zaga) - observem o currículo do Luxemburgo e os zagueiros e laterais com os quais trabalhou; por acaso passa pela cabeça de alguém que ele ache que o Welinton e o David Braz possam ter, por um momento que seja, sido considerados como ideais para um campeonato brasileiro? E o Jean? Eu entendo que não. Aqui os defensores do Luxemburgo podem argumentar que as contratações estão a caminho, o que me força a contra-argumentar: Que contratações? Com que dinheiro? Vocês por acaso estão se referindo ao mercado externo? Esqueçam. O Flamengo não tem receitas há cerca de um semestre. O que vocês estão esperando? E eu ainda pergunto: por acaso no mercado interno não há dois zagueiros melhores que essa dupla de patetas que vem jogando? O que anda fazendo o manager?


Meio de campo - sem dúvida, é o setor em que o manager trabalhou melhor. Poucos clubes no Brasil têm elencos com jogadores tão técnicos. A recente contratação do Aírton, peça muito importante no título brasileiro de 2009, torna o setor ainda mais forte, eliminando o risco da utilização da "bomba" chamada Fernando, um grave erro do manager no setor. Contudo, o treinador brada aos quatro ventos que o Aírton será o substituto dos volantes e do trio ofensivo, composto por Bottinelli, Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves, caso em que formaria um "meio de campo forte" com Willians e Renato Abreu. Obviamente, isso significaria que Renato Abreu voltaria a ser meia, alterando completamente o esquema tático. Normalmente busca-se compor o elenco com peças que permitam as substituições em casos de suspensões e contusões mantendo-se o esquema tático e não trocando-o por outro diamentralmente oposto em nível de características, especialmente quando esse esquema antagônico comprovadamente não deu certo. A declaração, e a perspectiva que a acompanha, assombram porque o novo esquema sequer chegou a "pegar" e já há ameaças de se retornar ao que fracassou.



Ataque - aqui o manager se superou no quesito incompetência e irresponsabilidade. Hoje o Flamengo tem, na prática, 1 (um) atacante, mas o treinador não o escala. Refiro-me ao Diego Maurício, claro. E digo que é um só atacante porque o Wanderley e o Deivid não podem, em seus estágios atuais, receber a qualificação de atacantes, convenhamos. O pior é que lemos todos os dias nas resenhas esportivas dos jornais e na internet que o treinador quer o André, aquele que jogou no Brasil uns seis meses, e ao lado do Neymar e do Ganso, mas na Europa não fez gol em lugar algum, e o manager deseja incluir no negócio, vejam só, num quadro de penúria financeira como o que vive o Flamengo, o Diego Maurício, o único jogador do clube com valor de mercado, numa operação em que o Flamengo compraria uma bomba e deixaria com o vendedor o dinheiro e o detonador. Eu só queria entender... Deixo claro aqui, mais uma vez, que tenho a perfeita consciência que o Diego Maurício é uma promessa, que não há como ter certeza de como se comportaria numa sequência de jogos entrando desde o início; a questão é que, hoje, é o único atacante do elenco, mas não é titular, por razões que só o dublê de manager e treinador pode explicar.



Fiz questão de mencionar essas três situações para explicar o porquê de não acreditar mais no Luxemburgo. Vejam bem, é claro que há tempo, modo e mesmo a capacidade, da parte dele, de reverter o quadro, mas a questão é que não há sinal algum de que isso ocorrerá. Na verdade, os demônios que assombram a alma de Luxemburgo o possuem e atormentam de tal forma que lhe retiram o poder da simplicidade do raciocínio.


Eu simplesmente não consigo enxergar um movimento, uma decisão do Luxemburgo, seja como manager, seja como treinador, que aponte para um futuro seguro e promissor para o Flamengo. Se por acaso estiver equivocado, ficarei muito contente quando os amigos, nos comentários, apontarem o que eu não tive capacidade de perceber.


Quanto mais tempo o Flamengo passar com Luxemburgo, mais se aproximará da ruína e mais necessitará de uma solução messiânica. Temo, por isso, pela volta de Joel Santana ao Flamengo.


Ronaldinho Gaúcho, o esquema tático e outro técnico


Repito como um mantra neste espaço que a única forma do Ronaldinho Gaúcho render no Flamengo é jogar ao lado de volantes que saibam distribuir o jogo, não errem passes, e dentro de um esquema de jogo vertical, bastante ofensivo. Nesse esquema acredito que o Ronaldinho Gaúcho faria a bola rolar rápido e se destacaria com passes e intervenções decisivas, pois não se pode esperar jogadas individuais dentro de um esquema de jogo defensivo, repleto de volantes.


É uma pena que os demônios de Luxemburgo o impeçam de implementar com êxito o esquema que ele próprio concebeu.


O pior que poderia acontecer ao Flamengo agora seria a contratação de um técnico como o Joel Santana, que viesse para implantar um esquema no estilo "Tropa de Elite", com três volantes, jogando o Ronaldinho Gaúcho para a frente e exigindo dele jogadas individuais, superando a marcação cerrada, para desequilibrar as partidas. Seria um convite sem precedentes para a crise.


Quando digo que o Flamengo deve se livrar do Luxemburgo o quanto antes não quero com isso dizer que precisa contratar um treinador qualquer ou mesmo do mercado nacional. O que não aceito é o discurso de que não há outro técnico disponível. Há sim. Em algum lugar tem que existir e o Departamento de Futebol há de contar com profissionais que saibam identificar no mercado o tipo de profissional que o clube precisa.


O momento é esse


É preciso ter em mente que, finda a tal "janela de transferências" para a Europa, a possibilidade de reforçar a equipe sofrerá significativa redução. Basta lembrar ano passado, com o Zico de manager, e as contratações "fantásticas" do Diogo e do Deivid, feitas "no limite". O Flamengo não pode terminar o campeonato tendo como atacantes o Wanderley e o Deivid, ou o André "Menino da Vila". Todos nós sabemos o que acontecerá se o ataque for esse ou algo do nível.


É por isso que eu acho que estamos no limite e o momento é esse. Pena que tudo está a indicar que a Diretoria não tem condições de perceber ou fazer a leitura da situação. Preparem-se todos para fortes emoções.

Bom dia e SRN a todos.