quinta-feira, 30 de junho de 2011

Memórias

Buon Giorno, Buteco! Quando eu era criança, morava perto de um supermercado da rede "Jumbo", cuja logomarca trazia a letra jota em forma de tromba de elefante, rede essa que foi adquirida pelo grupo Pão de Açúcar. Na hora do almoço, eu e os amigos, de vez em quando, quando não havia gente suficiente para disputarmos nós mesmos nossas peladas, assistíamos aos confrontos entre os empacotadores e estivadores do Jumbo contra os açougueiros/funcionários da "Só-Frango", que tinha um frigorífico ao lado. Todos jogavam devidamente "uniformizados", e aqui apresso-me em esclarecer que refiro-me aos uniformes de estiva mesmo: macacões azuis do Jumbo e brancos da Só-Frango, esses invariavelmente manchados de sangue. As chuteiras eram botas e, a depender do grau de "vaidade" do "atleta", as pernas dos macacões eram presas dentro das botas ou não; alguns abriam os botões na área do peitoral, outros pareciam que não suavam e que estavam dentro de uma câmara frigorífica. Quanto às partidas, "o pau comia". Eu não sei como ninguém se machucava. As divididas eram muito duras, os caras almoçavam e iam jogar, era um negócio surreal, sem contar que eram grossos, muito grossos, o que tornava o "espetáculo" um tanto pitoresco. Bom, mas acho que esse relato já está se alongando, pois vocês devem estar se perguntando para que raios eu estou abordando esse assunto se o Flamengo ganhou ontem, mas é para extravasar o meu sentimento de RAIVA contra o Welinton. É que, aquilo que eu considerava bizarro, que eram aquelas partidas, objeto de chacota e de riso, hoje eu observo que tinham seus lances de futebol arte. Tudo é relativo, como ensinou Einstein; depende da referência. Se a referência é o Welinton, o pessoal do Jumbo e da Só-Frango assume a posição de Domingos da Guia da zaga. Sério. Eles sabiam matar uma bola na cabeça ou não encobrir o próprio goleiro quase marcando um gol contra.

Falando em Memória...


Bem, o que resta a falar a respeito do Luxemburgo? Amigos, ele, mais uma vez, escalou o time de forma defensiva, com três volantes, dois deles com a função de armar o jogo, mais adiantados, jogou o Ronaldinho pra frente, ao lado do Thiago Neves e o Deivid. O gol de falta do Ronaldinho no início da partida deixou o América/MG atordoado, mas quando caiu a ficha pro lado dos caras, o Flamengo simplesmente foi dominado, amplamente dominado, por um time de Série B, fraquíssimo, de nível técnico baixíssimo, e tomou uma virada de forma patética.


Então veio o que tem se repetido em todas as partidas: a formação ofensiva que levou à vitória, mais uma vez com a entrada do Negueba, muito bem abrindo espaços pelas pontas. Posteriormente, vieram o Bottinelli (muito bem centralizado) e o Diego Maurício, este mais uma vez aberto pela esquerda, jamais como centroavante - isso o Luxemburgo não faz, ele prefere até o Ronaldinho Gaúcho de centrovante, mas não testa o rapaz na função. Ainda bem que ontem deu certo, com o gol decisivo da virada marcado pelo Dentuço.


O esquema ofensivo, vejam só, faz o Renato ir bem na distribuição de jogadas, faz o Ronaldinho jogar bem, faz o DEVID fazer gol (PQP, o Deivid fez ontem seu quarto gol no campeonato!). Aliás, nesse ponto eu preciso parar e fazer uma reflexão com os amigos: o Deivid é vice artilheiro do campeonato com quatro gols. O DEIVID! Então, se o esquema ofensivo, com todas as suas variações, faz até os medalhões do time renderem bem, o que compele o Luxemburgo a escalar aquele maldito esquema de três volantes, ou três zagueiros e dois volantes, que até hoje só levou o Flamengo a não conseguir marcar gols e ser envolvido dentro de campo por equipes do nível de Madureira, Macaé, Horizonte/CE, América/MG, etc.?


O tal esquema deu certo na Taça Guanabara e comprovadamente naufragou na fase de classificação da Taça Rio, obrigando o Luxemburgo a trocá-lo, às pressas, em plena oitavas-de-final da Copa do Brasil e semifinais da Taça Rio, pois do contrário o Flamengo sairia derrotado nas duas. Ao menos foi possível salvar uma das competições. A partir de então, todas as vezes em que é adotado o Flamengo empata ou é derrotado; em contrapartida, só vence quando adota o esquema ofensivo.


Qual é o problema, então?

O "X" da Questão


Acredito que a preocupação do Luxemburgo seja a zaga bucéfala e dromedária que ele próprio montou esse ano e o perigo que representa a sua exposição. O argumento, contudo, é frágil porque a formação ofensiva leva automaticamente ao recuo dos adversários, como se viu claramente nos dois últimos jogos, um contra uma equipe grande, outro contra uma pequena do futebol brasileiro. Dois lados da moeda, portanto.


É claro que se pode falar dos contra-ataques e realmente há no campeonato equipes mais competentes, mas nesse ponto é preciso lembrar que para cada adversário o treinador pode mexer em uma ou duas peças, mas sem alterar o esquema tático. Essa é a vantagem das equipes de ponta e que disputam títulos, pois possuem em seus elencos mais do que onze jogadores em condições de serem titulares.


Decorre daí a óbvia e natural conclusão que não pode haver jogador considerado titular absoluto ou insubstituível. Para não ficar na teoria, vou ao ponto que parece ser o "nodal", o que "pega" nessa discussão: Renato Abreu. Como volante, distribui bem o jogo, realmente, e é uma peça extremamente útil no elenco também pelas cobranças de falta e chutes de fora da área. Contudo, haverá circunstâncias em que será melhor escalar dois volantes mais jovens para melhorar a marcação e permitir a utilização do esquema ofensivo, a depender do adversário e, repita-se, das circunstâncias da partida.


O problema é que o Renato Abreu, com o Luxemburgo, é insubstituível e tem um "status" comparável ao do Ronaldinho Gaúcho, o que já é um absurdo, e tudo indica que o Aírton, recém contratado, terá tratamento idêntico, o que nos dará o seguinte panorama: um trio de "imexíveis" com Aírton, Willians e Renato Abreu.

(Pausa para os amigos tomarem um digestivo...)


O Luxemburgo não pode sacrificar o esquema vitorioso e ofensivo para justificar a escalação do Aírton, do Willians ou do Renato Abreu.


Será que o Luxemburgo acredita mesmo nesse esquema? Ou pior: será que ele acredita que, se o Flamengo iniciar todas as partidas do campeonato com três volantes e, se sair perdendo ou, até vinte, trinta minutos do segundo tempo não estiver ganhando, bastará lançar o Negueba, o Diego Maurício, o Vander ou outro jogador ofensivo que a virada ou o gol salvador sairá?

(Pausa para o soro...)

Janela


Corre o prazo da janela da angústia e nada se vê no horizonte além de especulações. E não me refiro a Gladiador. Eu já me aliviaria com dois zagueiros do mercado nacional que viessem pra jogar e não me lembrassem das peladas dos empacotadores/estivadores do Jumbo contra os açougueiros da Só-Frango.


Bom dia e SRN a todos.