quarta-feira, 1 de junho de 2011

Maracanã - 01 Jun 1980


O gol da minha vida de torcedor faz hoje 31 anos e tem nome e sobrenome do mais belo estádio de futebol do mundo, ora em reformas, e a data do 1º título de Campeão Brasileiro conquistado pelo Flamengo. Parece que foi ontem à tarde e confesso que a bola lançada para o setor direito da defesa do Atlético Mineiro, do Andrade para o então isolado Nunes, despertou em mim, já impaciente quase ao final do jogo, uma desesperança na jogada do nosso artilheiro, que não era bom no fundamento do drible e tinha pela frente chegando, o zaqueiro Silvestre. Pensei "Isso não vai dar em nada". Mas deu em muito. Depois de tentar um cruzamento meio sem jeito com a perna esquerda, em que a bola tocou no jogador atleticano e voltou para si, em seguida, para aplicar a finta para o lado de fora, avançou mais um pouco e balançou as redes com os pés trocados, pela esquerda já próximo da pequena área, chutou de direita. Situado bem atrás daquele gol, logo na 3ª fileira de baixo para cima, senti a laje em balanço, que eram as antigas arquibancadas, flexionar pelos pulos de mais de 150 mil torcedores presentes. Achei que ia desabar e procurei pelo meu velho pai para ajudá-lo se fosse preciso, e abraçá-lo efusivamente, mas não o encontrei. Olhei para o chão e lá estava ele tentando se levantar porque caíra quando algum torcedor, ao saltar junto com ele, pisou em seu chinelo que teimava em usar quando ia ver jogos do Mengão.

Até hoje os que usam a partícula "se" para diminuir os méritos dos que fazem o bem feito alegam com os nervos remoídos de rancor e com os ácidos cultivando uma gastrite que "Se o cruzamento do Nunes não tivesse voltado a seus pés depois que a bola bateu no jogador do Galo...e tatatitatá...". Na falta de bons argumentos racionais, já escutei isso centenas de vezes e rio o bom riso deles. "Esses moços, pobres moços, ah se soubessem.." que sempre haverá uma ou mais condições não exatamente previsíveis para algo dar certo ou errado. Lembro-lhes que o bom Nelson Rodrigues dizia que sem sorte não se consegue atravessar nem uma pequena ruela.

Passando de um ídolo para outro, as lições deixadas pela partida com o América - Mex, no dia 07 mai 08, já foram esquecidas se é que um dia foram assimiladas pela administração do Flamengo, mesmo a atual que se não tinha as rédeas do clube nas mãos, havia o interesse no jogo como qualquer torcedor. Naquela data, fora de hora e fora de dia, o Flamengo fazia uma festa em homenagem e de despedida para Joel Santana, que dava um adeus ao clube em plena disputa da Libertadores, atraído que fora para treinar o time da África do Sul com vistas à Copa do Mundo de 2010 realizada naquele país. O resultado da lambança todos conhecem e teve como drástica consequência a eliminação do Flamengo da competição mais importante da América do Sul, que serve de passaporte para o Mundial inter-clubes.

Divago sobre um assunto passado para chegar no próximo domingo, no qual o Flamengo enfrentará o Corínthians e promoverá a volta aos campos de um ídolo que deixou um rastro de emoções inesquecíveis e de glórias: Petkovic, o craque que muitas vezes levou a torcida de volta no tempo e no espaço para lembrar Zico com sua genialidade. Justa homenagem em momento inoportuno por ocorrer numa partida valendo três pontos pelo Campeonato Brasileiro. Fico a imaginar o que se passa na cabeça desses dirigentes e do próprio técnico Vanderlei Luxemburgo tão cioso da necessidade de implantação de uma filosofia profissional no departamento de futebol do clube. Por que não fizeram o merecido evento há apenas 2 meses, durante o Estadual, num jogo contra um mambembe local, daqueles com público de 3 mil torcedores no Engenhão, transformando-o em casa cheia e ingressos esgotados para o adeus dos gramados do gringo bom de bola? Vá entender.

Cruzando a bola do sérvio Pet para o hermano Bottinelli, acho que este vem se soltando cada vez mais dentro de campo, com atuações que determinam a sua escalação pelo treinador, queira ou não. Exemplar esse comportamento, o de ganhar a vaga dentro de campo com a bola rolando quando muitos querem jogar se impondo através dos microfones. Aplaudo também o Luxemburgo que encontrou uma posição no time, de segundo volante, para o R11, o que permitiu ajustar o trio de ouro mais a frente no meio de campo.

Fazendo um passe lateral para a esquerda, Egídio desapareceu das críticas da torcida depois de duas boas atuações contra o Avaí e o Bahia, os quais na visãode muitos são dois times fracos, candidatos naturais ao rebaixamento, o que poderia justificar a subida de produção do jogador. Tudo bem, mas o raciocínio não pode ser reduzido a isso, já que aqueles dois times são bem melhores do que os bambalas cariocas de ruindade absoluta sem condições de disputarem sequer uma série D do Brasileirão, e contra eles Egídio fez um péssimo Estadual. Logo, a questão não é apenas de adversário qualificado ou não. Há outras variáveis a serem consideradas, entre elas a contratação de uma sombra das grandes, chamada Júnior César e o natural desenvolvimento técnico do jogador, afinal, nos dias de hoje treina-se muito no Flamengo, uma das virtudes do atual treinador e há que haver resultados práticos dessa labuta.

Finalizando, a coluna passada foi intitulada de "Calmaridade" tendo em vista o clima de paz reinante na Gávea. Incrível como a paz faz mal ao Flamengo cuja energia vem do estresse que caracteriza o seu ambiente ao longo de sua vida. Esse estado zen jamais teve como consequência bons resultados dentro de campo. Tal conclusão não deriva de qualquer estudo com alguma seriedade, é puro empirismo, mas é fato.

SRN!