quinta-feira, 21 de abril de 2011

Reflexões ao Horizonte

Buon Giorno, Buteco! Na noite de ontem, quarta-feira, tivemos trinta minutos animados, que deram a falsa e tênue impressão de que o time do Flamengo poderia, com uma formação ofensiva, ainda que contra um adversário inexpressivo e desconhecido, apresentar algum futebol de qualidade e que pudesse agradar sua exigente torcida. Ledo engano. O que vimos foi, ao longo do restante da partida, a repetição de atuações pífias e de triste memória da Taça Rio, como contra a Cabofriense, o Olaria, o Madureira, o Duque de Caxias e o Macaé. Convenhamos, ninguém deveria estar surpreso, já que o adversário é do mesmo nível desses times e de outros como o Boavista, o Resende, o Nova Iguaçu ou o Volta Redonda. A essa altura do campeonato, olho para o horizonte, claro que valendo-me de um trocadilho talvez não tão criativo, mas inevitável diante das circunstâncias, e vejo aquela "Perfect Storm" ameaçando se formar, o que me leva a fazer algumas reflexões que venho compartilhar com vocês, meus amigos do Buteco:


Formação ofensiva - claro que a prefiro em relação à anterior; contudo, tenho algumas ponderações para quem ficou surpreso com o desempenho do nosso desconhecido adversário: por acaso perceberam o quanto é ofensivo? Viram os placares dos jogos do Horizonte? E agora me digam: é ou não, como eu conversava com o Rocco na segunda-feira, um adversário do nível daqueles que citei acima, os quais o Flamengo enfrentou nas Taças Guanabara e Rio? E por que, especialmente na Taça Rio, que oferece risco muito menor do que a Copa do Brasil, o Flamengo não se valeu dessa formação ou de qualquer outra mais ofensiva? Parece evidente que a incapacidade do time de manter o ritmo do início das duas etapas se deve à óbvia razão de não haver jogado com essa formação anteriormente. Faltou, portanto, o entrosamento, a jogada ensaiada; enfim, o conjunto, que só poderia existir acaso esse time tivesse sido testado e treinado junto. O Flamengo que treinou para jogar sem inspiração durante mais de três meses, quando foi colocado em campo para jogar de acordo com suas tradições, não soube jogar no improviso durante 90 (noventa) minutos. Natural.


Negueba na esquerda e Diego Maurício na direita - vejam só a "coerência" do nosso treinador: o Diego Maurício não pode jogar pela esquerda porque "embola com o Ronaldinho Gaúcho" por ter a característica de atuar pela esquerda. Qual não foi a minha surpresa quando vi o Diego Maurício aberto pela direita... E o Negueba, que joga bem pela direita, foi para a esquerda. Vá entender... Aliás, alguém entendeu alguma coisa? Antes que alguém diga alguma coisa, apresso-me em defender o treinador: não vejo problema algum nisso! E tudo bem que o treinador tem direito a ter suas opções, mas quando elas contrariam frontalmente o seu discurso e acabam servido de prova cabal das suas implicância e perseguição contra o melhor atacante disponível do elenco, logo a gente vê que há algo de errado. O que eu sei é que o torcedor do Flamengo não é palhaço.


Ronaldinho Gaúcho x Luxemburgo - lamento lhes dizer, mas está para acontecer. E parece que falta pouco. O time é amarrado e a torcida dá a impressão de estar por um triz para explodir com o ídolo e jogar em cima dele toda a responsabilidade pelos recentes, digamos, insucessos. Dá pra sentir que o pessoal está se contendo pela empatia que tem com ele, porque ele é gente boa, sabe fazer um marketing como poucos, coisa e tal, mas a verdade é que a coisa está ficando tensa, ele está sentindo a pressão se dirigindo para cima dele, perigosamente, e, óbvio, no acerto de contas a ser feito o modo do Manager/Técnico armar o time, suas escolhas, provavelmente serão colocados à mesa durante a discussão, isso se não forem parar na imprensa. Estou exagerando? A conferir. Mas o certo é que o cara já deve estar de saco cheio de jogar ao lado de um bando de pernas-de-pau, de cabeças-de-bagre, não ganhar de ninguém, e ter que ser escalado até de centroavante...


Ronaldinho Gaúcho x Torcida - é verdade. Não está jogando porra nenhuma. Mas galera, quero fazer uma ponderação séria neste ponto e não vou arrumar desculpa para o cara e nem culpar terceiros pelo desempenho do nosso milionário. Eu acho que o Flamengo, ao trazer o Ronaldinho Gaúcho, contratou um grande propulsor, com a vantagem de que ele ainda tem toda aquela habilidade individual. Mas se repararmos bem, jamais foi o jogador a decidir sozinho, a ser a única estrela da companhia ou, sendo, levar sozinho um bando de cabeças-de-bagre a sua volta a títulos importantes. Por acaso foi assim no Grêmio, no Paris Saint Germain ou no Milan? Por que seria no Flamengo, então? No Barcelona, é bom que se recordem, tinha uma constelação de estrelas e excelentes jogadores ao seu lado; destacou-se por seu talento, mas a responsabilidade era dividida e exatamente por isso pôde solar e colocar o seu talento em favor do time. O talento do Ronaldinho funciona, na minha opinião, dessa forma, e foi por isso que eu sempre preguei por aqui, como um mantra, para que fossem escalados ao seu lado jogadores tecnicamente qualificados, que fizessem a bola rolar do jeito que ele gosta, para que o jogo fluísse naturalmente, não com a pretensão de repetir o Barcelona, mas para que o verdadeiro jogo dele aparecesse. Sem o ideal combustível e no veículo errado, o propulsor não funcionará adequadamente. O ideal é que a torcida enxergasse isso e desse o devido peso a esse aspecto. A tendência, porém, é que a responsabilidade seja toda jogada em cima do salário e da fama exigida por Ronaldinho e seu irmão/empresário naquela negociação que todos gostaríamos de esquecer. E há que se ponderar, também, que a voz do povo é a voz de Deus, e Ronaldinho também está jogando muito pouco para tanto salário. Isso também é a mais pura verdade, que tem vários ângulos e é complexa, não se traduzindo em algo simples e tão fácil de se explicar.

O que fazer agora? - sinceramente, amigos, não sei. Resta torcer para que o ambiente interno do grupo ainda seja bom, que eles gostem uns dos outros, que estejam felizes em trabalhar juntos, e que queiram os dois títulos. A impressão, a nítida impressão, é que o treinador já não sabe mais o que fazer. Teve muitas oportunidades durante a Taça Rio de treinar e de testar formações mais ofensivas como a que lançou ontem e não fez. Aliás, se chegou a treinar, então a coisa está ainda mais feia, pois o resultado foi o que vimos ontem; mas com certeza, convenhamos, não foi por muito tempo...


O que poderá salvar o Flamengo é a força de vontade de seus atletas, a energia da torcida e um gesto de humildade de seu próprio treinador, que, com a ajuda da Providência Divina, enxergue sua própria prepotência, pare de perseguir o nosso melhor atacante, e escale o que tem de melhor.


Na quarta-feira que vem o Flamengo terá que jogar como time grande ou a tão temida "Perfect Storm" poderá estar formada.

Fla-Flu? Assunto para amanhã com Victor Esteves! (segura essa, irmão!)

Bom dia e SRN a todos.