quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Caso Diego Maurício: Só Acredita Quem Quer

Bon Giorno, Buteco! Tivemos mais do mesmo no final de semana. Quando morei em Goiânia, havia um comentarista, já falecido, da inesquecível "Rádio K" (bons tempos...), do Kajuru, o Washington Luiz, que, quando havia um jogo difícil para um time, ele tinha que "parir um caminhão de porcos espinhos" para vencer ou mesmo empatar aquela partida; enfim, para atingir determinado objetivo; ou então que o time tal estava tão encurralado que se encontrava "com a bunda no azulejo"... e que o outro estava prestes a "estourar o cativeiro". Eu morria de rir. Uma figura o falecido. Adorava os comentários irados, flamejantes, vivos dele.


Esse ano, no Flamengo do Luxemburgo, muito melhor do que o do ano passado, diga-se de passagem, o que a gente mais vê é o Flamengo prestes a "estourar o cativeiro"; contudo, ao mesmo tempo, o Flamengo tem que "parir um caminhão de porcos espinhos" para marcar um gol", um golzinho sequer. Se a gente está falando em gol, e ter que marcar gols, eu sou obrigado a falar do esquema tático e do centroavante, ou seja, da mesma ladainha da qual nós estamos falando por aqui há tempos. Mas hoje, para não ficar repetitivo, eu decidi não falar do esquema tático, dos volantes, da necessidade de que não errem passes, joguem verticalmente, em velocidade, para que, assim, o Ronaldinho Gaúcho seja bem aproveitado. Não vou falar em torno de quem o esquema tático está sendo montado. Não, hoje não. Hoje eu vou falar sobre quem eu acho que deveria ganhar uma chance como titular como centroavante do Flamengo: Diego Maurício.


Uma entrevista recente no site Globo Esporte.com trouxe o que, para mim, foi uma verdadeira pérola do Luxemburgo: vejam só, amigos, que, segundo ele, o Diego Maurício "cai para a esquerda" e, com isso, jogaria na mesma faixa do Ronaldinho Gaúcho e o atrapalharia.


Olhem, eu confesso que jamais vi tamanha cara-de-pau na minha vida. Aliás, já vi, mas esse episódio é daqueles exemplares. E o que me surpreende é que essa ladainha, essa conversa fiada, não teve o menor questionamento na mídia, por comentaristas, por quem ganha a vida para comentar e questionar atrocidades como essa. Pois então eu, que não ganho a vida para isso, na condição de torcedor indignado tratarei de o fazer aqui neste espaço.


Desconstruindo o "argumento"


Vamos fazer uma viagem no tempo: o ano é 1995 e o técnico é... Vanderlei Luxemburgo! O Flamengo contrata o craque da Copa do Mundo de 1994, o gênio Romário. Claro, um homem de área, que fez mais de 1000 (mil) gols na carreira jogando como centroavante. Beleza. Lembram por onde Romário gostava de cair? Pela esquerda, é claro. Todo mundo se recorda disso.


Agora vamos nos lembrar quem era o companheiro de ataque dele? Sávio. Canhoto, mas de tão canhoto, o pé direito só servia para o apoio no chão. Não lembro de ter visto o Sávio chutando a bola com o pé direito em toda a sua carreira, nem para dar um passe curto. Mas, engraçado, o Sávio o Luxemburgo não disse que atrapalharia o Romário. Será que, desde então até hoje, ele reviu os seus conceitos?


Bem, ainda que fosse o caso, o que eu não acredito que seja, não deixaria de ser uma tremenda covardia, primeiro porque bastaria uma conversa para acertar o posicionamento entre os dois, como ocorreu entre o Romário e o Sávio, e todos lembram do tanto de gols que saiu naquela época (o que faltava ao Flamengo era um camisa 10...).


Como ia dizendo, é uma suprema covardia com um rapaz que está surgindo para o futebol em uma geração cujos companheiros, de outros clubes, já foram convocados para a seleção. Embora alguns deles, principalmente o Neymar, já sejam craques, e estejam brilhando na seleção principal, o Diego Maurício, na seleção sub-20, foi o primeiro reserva do ataque e fez bonito, marcando gols e dando passes em todos os quase todos os jogos nos quais entrou. Seus companheiros são titularíssimos em seus clubes. É óbvio, então, que ser banco do Wanderley, do Deivid está atrasando o desenvolvimento do rapaz, prejudicando-o como atleta, e prejudicando o Flamengo.


Quanto às características de jogo as quais o Luxemburgo se referiu, qual é o problema? O rapaz não completou vinte anos e portanto está em idade de assimilar novos posicionamentos táticos e formas de autar em campo. Como se não bastasse, tem porte físico de jogador de área, de quem pode enfrentar os zagueiros mais corpulentos. Consta inclusive que jogou dessa forma, centralizado, nas divisões de base!


Aliás, com o tempo, exatamente por conta desse porte físico, e porque, pela idade, está naquela fase final de crescimento, a tendência (uma possibilidade forte) é de que não consiga mais jogar aberto pelas pontas e que tenha naturalmente que migrar para o centro da área. Não é todo o jogador de futebol corpulento que consegue ter explosão e velocidade para jogar aberto em velocidade pelas pontas a carreira toda, como o equatoriano Guerrón, ex-LDU, por exemplo. Qualquer treinador com um mínimo de massa encefálica o escalará como centroavante no meio da área. Isso é tão óbvio que qualquer aprendiz que se detenha alguns minutos para refletir a respeito do assunto consegue enxergar.

Agora, vamos analisar seus concorrentes. Apresso-me em esclarecer que não se trata de um ataque ao Wanderley nem ao Deivid. Aliás, torço para que os dois acertem e, enquanto ninguém efetivamente "ganhar a posição de vez", todos merecem, de forma cíclica, chances como titular, como vem ocorrendo... à exceção do Diego Maurício.

Mas o pior não é nem isso. Reparem que, no Flamengo do Luxemburgo, é comum que os jogadores sejam testados fora de suas reais posições. Por exemplo, o Angelim foi testado na lateral esquerda, o David Braz passou a jogar como quarto-zagueiro, o Ronaldinho Gaúcho foi testado como centroavante (!), o Negueba foi testado como centroavante (!), o Renato Abreu foi escalado em várias posições até ser acomodado em uma especial, só para ele; o Wanderley foi testado na ponta direita (!), o Deivid foi testado na ponta esquerda (!), à exceção do Diego Maurício. Esse não pode ser testado como centroavante, partindo da premissa do Luxemburgo, a de que ele "cai pela esquerda".


Entenderam o problema? À exceção do Diego Maurício.



Agora parem para refletir: será que o Luxemburgo não percebeu tudo isso? Eu duvido. Eu não entendo mais de futebol do que ele, disso eu tenho a mais absoluta certeza. Qual será o problema então?


Eu sinceramente não sei e não farei especulações irresponsáveis. O que eu sei é que o Luxemburgo simplesmente decretou que o Diego Maurício, um menino de dezenove anos, que já jogou nas categorias de base como centroavante, que é atacante, que sabe fazer gols, que tem características de centroavante que joga dentro da área, ao contrário do que o Luxemburgo diz (é só observar), é uma espécie de "ponta esquerda" que vai embolar com o Ronaldinho Gaúcho e ponto final.


Meus caros amigos do Buteco, só acredita nessa lorota quem quer.


Bom dia e SRN a todos.