sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A mala sem alça que está sendo 2010...

Mais um campeonato de pontos corridos está acabando e eu confesso que continuo sem uma opinião definitiva sobre os benefícios deste tipo de competição. Meu primeiro impulso é defender o “mata-mata”, com seus jogos emocionantes, estádios cheios nas últimas rodadas, e sem nenhuma possibilidade de “marmelada”. Mas tenho que reconhecer que para os times que ficam fora da fase final é uma pasmaceira de fazer dó, sem contar que a falta de receitas pode acabar matando muito time médio ou pequeno, terminando por prejudicar o próprio futebol brasileiro e o aparecimento de bons jogadores que despontam nestes times de menor expressão (menor expressão futebolística, ou seja, times com torcidas e quadros sociais menores).

Por outro lado, mesmo sabendo que esta afirmação não conta a concordância de todos, esse negócio de “entregar o jogo para não beneficiar o rival” é de uma antiesportividade sem par. Ver o tricolor paulista tomar de quatro do genérico carioca e sua torcida comemorando me embrulha o estômago. Até o poeta Pelé foi à imprensa dizer que mala branca é um “incentivo”. Desculpem os que pensam diferente, mas isso é uma vergonha, só possível em um país que nos últimos anos passou a achar “normal” a locupletação com dinheiro público, a impunidade e a zorra total. Se um jogador recebe dinheiro de outro clube ou pessoa para jogar “mais” do que ele deveria jogar pelo salário que recebe (a tal da “mala branca”), nada me tira da cabeça que ele toparia receber dinheiro também para jogar “menos” (a mala preta), ou para jogar apenas o feijão com arroz. É claro que a corrupção existe desde tempos imemoriais, mas eu imagino alguém chegando para o nosso time de ouro e oferecendo dinheiro para eles se superarem. Posso ser diplomado na Universidade da Madre Teresa de Calcutá, mas eu acho que o propositor tomaria uma carreira dos jogadores. O que o torcedor diria se o jogador tiver um desempenho nitidamente superior em uma partida ? Porque ele não fez isso quando o time ainda estava em condições de disputar o título ? Recentemente, na Fórmula 1, tivemos um exemplo fantástico : o team que não fez o tal “jogo de equipe” acabou sendo o campeão. Mais : Se tivesse feito, dizem os contabilistas do esporte, teria perdido o campeonato de pilotos, pois o Weber teria ficado com pontos que foram necessários para o Vettel ser campeão. Belo exemplo para nossos jovens, ao contrário dessa discussão, a meu ver estúpida, sobre qual o esforço que cada time deve fazer para não beneficiar um rival regional.

Assim, é hora de pensar em alternativas. Até agora, a melhor e mais fácil sugestão que ouvi foi a do Carpegianni, que disse que os jogos finais deveriam ser clássicos locais, pois ninguém iria querer fechar o ano com uma derrota para seus adversários históricos. Pode funcionar, mas não é abrangente o suficiente, pois o que fazer quando não existirem dois adversários da mesma cidade ou estado no mesmo campeonato ?

Para não dizer que não dei alguma sugestão, segue a minha. É verdade que o campeonato de pontos corridos tem o mérito de apurar o melhor desempenho geral no campeonato, pois o campeão sempre será aquele que fizer o melhor aproveitamento de pontos. Mas não poderíamos ter dois turnos completos e pinçar os dois melhores de cada turno para um quadrangular final ? Voltariam os grandes jogos finais, haveria emoção e a decisão final nunca dependeria de um time entrar ou não com 100% de sua disposição e talento. Pelo menos no Flamengo, não se fala mais em amolecer o jogo com o Cruzeiro para prejudicar o Fluminense. Taí a única (irônica) “vantagem” de chegar no penúltimo jogo fugindo da zona de rebaixamento.

Independente de quem possa ser beneficiado também, vamos para cima do Cruzeiro, para acabar de vez com este sofrido ano de 2010, a nossa verdadeira mala sem alça...