sexta-feira, 9 de julho de 2010

Entrando em campo

Olá galera do Buteco, boa tarde a todos.

Nosso amigo Victor, colunista habitual das sextas, está passando por um momento complicado e não poderá escrever durante algum tempo. Queria pedir a todos que se unam numa corrente de energia positiva em prol do amigo e de sua família - Força, Victor!

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Foi com muita surpresa e alegria que recebi o convite para preencher este espaço e espero estar à altura. Confesso que desde que me deram esta incumbência, na quarta-feira, tenho pensado muito sobre o quê e como escrever. Não é uma missão simples estar ao lado de uma galera tão boa - e muito menos substituir o Victor - e cheguei a uma conclusão importante: vai ser no peito e na raça mesmo, bem ao estilo dos melhores times que já nos orgulharam com a camisa do Mengão. Cada semana, um desafio a ser superado, uma torcida a ser conquistada, um gol a ser marcado - acho que nunca cheguei tão perto de realizar o sonho de ser um jogador de verdade, esse frio na barriga de assinar uma primeira coluna deve ser comparado à emoção de entrar em campo porque, apesar de não ter a Magnética cantando e gritando lá das arquibancadas, o mundo virtual permite uma expressão muito grande e desinibida aos internautas. Então, que venha o primeiro leão!

O que é Flamengo? O Flamengo pra mim é uma definição pra lá de abstrata. É um amor incondicional - você não espera ser amado de volta, e haja o que houver o verdadeiro Rubro-Negro estará pronto para dar seu apoio, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença. Das primeiras lembranças que tenho da infância quase todas estão relacionadas ao Mengão. Foi o primeiro uniforme que ganhei (tenho a foto, um menininho orgulhoso com um sorriso que não cabia no rosto com o Manto, short branco, meião também e o kichute da época). Depois foi meu jogo de botão, que também está guardado, assistir aos jogos na TV com meu pai, ouvir rádio Globo desde sempre, fui agraciado de já ter idade para entender desde 79 e sonhar em assistir o Galinho ao vivo. Não nasci nem fui criado no Rio, então o Maracanã só veio a fazer parte da minha vida já adulto, mas a magia Rubro-Negra que sempre me encantou desde cedo veio junto com a imaginação que só uma criança é capaz de conceber. Afinal, naquela época de locutores sensacionais, com narrativas e bordões fantásticos, como fazer para visualizar os dribles, golaços marcados e vitórias heroicas que construiram a melhor e mais bonita fase do nosso clube? O Flamengo era, então, uma coisa louca, apaixonante, com um tal de Zico em seu comando, conquistando tudo, chegando ao outro lado do planeta e conquistando o mundo em 81. Como é que heróis de gibis e desenho animado poderiam concorrer contra uma coisa tão Sagrada?

Além da distância do Maraca, também fiquei longe de ter a categoria em campo que minha família tem. Na boa: eu era horroroso. Meu pai me levou para as escolinhas que tinham em Petrópolis, onde morava, e eu nunca voltava para a segunda aula. Não por pedido meu, quem pedia isso era o treinador dos fraldinhas! Todo sábado meu pai levava eu e meu irmão com ele no carro, para a sua pelada semanal, e lá eu estava com minha camisa e com minha bola - só sendo dono da pelota pra poder jogar com os outro moleques...

Depois de crescer compensei minha falta de categoria e talento com muita garra e disposição, como convém a todo bom rubro-negro. Mas nunca desisti e melhorei muito nos últimos 20 anos, hoje eu não preciso mais ser dono da bola para jogar na minha pelada semanal de quinta-feira. Tenho orgulho em dizer que não virei um botinudo destruidor de jogadas. Meus exemplos foram dos ídolos eternos do Flamengo e eu nunca poderia subverter isso. Dou até o último sangue em campo e acredito na vitória até acabar o jogo, mas com lealdade, honra e dignidade.

Essas lições, esses exemplos de atletas como o Zico me ajudaram a ser uma pessoa melhor. Eu sinceramente acredito que a volta do Galinho fará com que não tenhamos mais o tipo de pessoa que usou o Manto Sagrado recentemente - felizmente saíram quase todos. Essa coluna que ficou tão cheia de nostalgia acabou virando um depoimento de como uma coisa tão grande como o Flamengo pode afetar não só nossa alegria de comemorar os títulos, mas também até a maneira de se encarar a vida com exemplos adequados. O Zico e o Mengão precisam de nosso apoio, vamos acreditar e dar tempo para que o trabalho apareça. Nenhum dos heróis que já vi no Fla até hoje era como o Mandrake, que num passe de mágica resolvia tudo de uma hora pra outra.

Bom fim de semana galera! Obrigado a todos que aguentaram ler até o fim e um agradecimento especial aos que me incentivaram e deram esta oportunidade.

Saudações Rubro Negras!