quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

De Márcio Braga a Patrícia Amorim

Coluna do GUSTAVO BRASILIA.

Chegamos ao fim de outra gestão Márcio Braga, com mais um título brasileiro. E o que isso quer dizer? É Márcio Braga o maior presidente da história do Flamengo ou ele é apenas um sortudo?
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Márcio Braga iniciou o seu primeiro desses dois últimos mandatos com um discurso e ideias promissoras: austeridade financeira, “isolamento” do futebol, com gestão profissional, e realinhamento fiscal com uma discussão com o governo, no que resultou na Timemania e a (aparente) composição da imensa dívida com o Fisco.

Sua escolha para a direção do Departamento de Futebol recaiu sobre o nosso grande ídolo Júnior e o técnico contratado foi Abel Braga, que alguns anos depois se sagraria campeão da Libertadores e do Mundial da Fifa pelo Internacional de Porto Alegre. Mas Júnior teve a sua gestão marcada por sucessivas e desastradas intervenções do então vice-presidente de futebol, Artur Rocha. O episódio Dimba foi emblemático. Depois, saiu Júnior, saiu Abel, e assumiram Gerson Biscotto e depois Anderson Barros. Quase veio o rebaixamento.

No apagar das luzes de 2005, com o time à beira da Série B, Márcio Braga tomou uma das decisões mais importantes das suas duas gestões: dividiu o poder. Entregou o Departamento de Futebol a um adversário político do clube, Kleber Leite. Joel Santana foi contratado e o time, numa reação avassaladora, fugiu heroicamente no rebaixamento, numa reversão de expectativas que talvez só possa ser comparada à reação do Fluminense na Série A desse ano.

Com Kleber Leite, o Departamento de Futebol deu um salto de qualidade e o Flamengo deixou de ser um protagonista do drama do rebaixamento para voltar a ser um protagonista nas lutas pelas posições e títulos mais importantes do futebol brasileiro. Veio o título da Copa do Brasil de 2006, o terceiro lugar em 2007, o decepcionante, porém honroso, se comparado ao início da década, quinto lugar em 2008 até a sua saída no meio do ano de 2009, eleitoral, por divergências com o vice Delair Dumbrosk.


Aqui abro um parêntesis para falar de Kleber Leite. Eu o entendo como alguém que não possa ser classificado como anjo ou como demônio. Kleber Leite é um furacão; impulsivo, muitas vezes precipitado e não raro sem critério. Mas sua gestão foi, sem dúvida, um “upgrade”, já que com ele voltaram grandes jogadores e o Flamengo voltou a ser competitivo. Estou aqui pregando a sua volta? Não, não, não, não, não. Longe disso. Kleber Leite e sua impulsividade geraram episódios patéticos como a festa para Joel Santana antes de um jogo decisivo eliminatório de Libertadores ou contratações pra lá de duvidosas, além da inexplicável e, ao meu ver, irresponsável demora na recomposição do elenco em 2008, após as saídas, principalmente, de Renato Augusto e Marcinho (artilheiro do campeonato. E, fiquem tranquilos, vocês não me verão chorando pela saída do Souza.). O mercado tinha poucas opções e fomos de Sambueza, Fierro e Marcelinho Paraíba para o segundo semestre. Apenas o último deles rendeu e o título e a vaga da Libertadores se foram. Vocês entenderão melhor a parada para falar do Kleber Leite ao final desse texto.

Volto então à saída de Kleber Leite. Neste ponto foi novamente elogiável a postura de Márcio Braga. Afastou-se e novamente permitiu o exercício do poder por alguém que, embora fosse seu vice-presidente, historicamente foi adversário político. Novamente Márcio Braga cedeu espaço, dividiu responsabilidade, e Delair, contrariando todos os prognósticos possíveis, bancou o Petkovic, indicou o contestado Marcos Braz para a vice-presidência de futebol; junto com ele contratou cirurgicamente Álvaro e Maldonado e, senhoras e senhores, veio nada mais, nada menos que o tão sonhado título brasileiro de 2009.

Márcio Braga é apenas um sortudo, então? Não. Não é. Sua visão estratégica foi importantíssima para o clube, já que deu um rumo que, claro, pode ser perfeitamente corrigido, aprimorado, mas foi um início de gestão mais responsável, que culminou com os dois últimos anos sendo superavitários, segundo suas próprias palavras. E teve também (ao meu ver, pelo menos) a importantíssima divisão de poder, que permitiu a união de forças antagônicas para o benefício do clube.

Márcio Braga é então um super-presidente? Um gênio? Não. Menos, muito menos, gente. Sozinho, levaria o Flamengo, como quase o levou, à Série B. Mas um dos grandes méritos das pessoas é saber onde chegou o seu limite e o momento para pedir ajuda. Esse é o maior, e importantíssimo, mérito de Márcio Braga, que merece ficar na história do clube por sua inegável importância.

Chegamos então a Patrícia Amorim. Seu discurso, sua plataforma, não são ruins. Prega profissionalismo, mas não apenas no Departamento de Futebol e sim em todas as divisões do Departamento de Esportes Olímpicos. Nada mal. Não é uma ideia ruim, muito pelo contrário, já que parte da premissa que cada um desses setores será independente e administrado por executivos, de modo a que sejam cobrados profissionalmente por conquistas, e sempre dentro de um plano de resp0nsabilidade fiscal. Afirma, porém, que quer ver o Flamengo do futebol continuar a ser vencedor.

Ótimo, excelente. Mas é aqui que volto a Kleber Leite. Não fiquem surpresos. Basta refletir um pouquinho. Se Patrícia Amorim não for bem sucedida, se fracassar retumbantemente no futebol, quem vocês acham que voltará como salvador da pátria para dirigir o Departamento de Futebol?

Eu acho que o Flamengo precisa avançar. Precisa de novas ideias, de novos projetos, de novos líderes e pessoas. Considero que o Kleber Leite, inclusive, se redimiu em parte (em parte, o problema da Multiplan ainda não está resolvido) da sua primeira e sua desastrosa gestão. Mas tudo tem o seu momento e a roda do tempo girou, exigindo algo de novo (pela graça do Senhor, não é, amigos?).

Patrícia Amorim, receba meus votos de pleno sucesso. Não preciso te dizer que está no sucesso do futebol o respaldo e a confiança do clube no seu modelo de gestão profissional dos esportes olímpicos. Diria até que está no sucesso do futebol a sobrevivência dessa linha política na Gávea. Justa ou injustamente, Patrícia Amorim, você sabe que a sua gestão será analisada sob esses parâmetros. Daí a sua grande responsabilidade.

Boa sorte e que Deus te ilumine, Patrícia.

SRN a todos, especialmente a Comunidade Butequiana!


PS: O nosso amigo e um dos fundadores do Buteco do Flamengo GUSTAVO BRASILIA, e o nosso mais novo colunista, passando de Free Lance a EFETIVADO.
GUSTAVO para os mais novos no Buteco, foi o primeiro a colocar um post no Blog e uma das pedras fundamental juntamente com a LUCIANA e o MARCELO AGUIAR que estao conosco desde os primeiros passos.

Damos as boas vindas a esse Rubro-Negro com DNA 100% puro.