sábado, 19 de setembro de 2009

Revista: "Grandes Clubes Brasileiros"
...........Flamengo (Ué,...e tem outro grande?)
Edição Nº-04 de 1971- CR$2,50 - Relíquia

























A Mística das Camisas

O Maracanã lotado e no campo duas equipes em luta. Na arquibancada, uma torcida vibrando. Cho­rando com o gol adversário, vibrando e fazendo o estádio virar uma cascata de alegria no sucesso de sua equipe. É que no gramado uma camisa está jogando. Correndo, lutando, saltando, ela é a única camisa em torno da qual existe uma mís­tica: joga sozinha. É a camisa do Flamengo, de­sejada, por tantos, que se transforma em padrão de glória para quem a veste. Mesmo depois do advento do profissionalismo, vestir a camisa rubro-negra da Gávea continuou sendo um orgulho para qualquer profissional. É a camisa que impulsiona e exige do atleta sua devoção maior. É a camisa da paixão do torcedor, que leva dentro de suas cores a vibração e a flama do amor rubro-negro. Entre tantas recordações que os profissionais lembram de suas carreiras, nada mais significativo do que Uma frase famosa de Biguá; símbolo do jogador flamenguista, ao resumir sua glória maior de cra­que de futebol: Eu vesti a camisa do Flamengo!
......................Garrincha
...............Um Capítulo à Parte














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Clube do povo, identificado com a mas­sa torcedora do Brasil, o Flamengo teve em suas fileiras jogadores dos mais fa­mosos, como Leônidas, Zizinho, Jair, Biguá, Jaime, Valdemar de Brito, Vevé, Domingos da Guia, Fausto e, entre tantos nomes, até Friedenreich esteve na Gá­vea. Não se pode, porém, deixar de fazer um registro especial pela passagem de Garrincha pelo Flamengo. Herói de duas Copas, alegria do povo, alegria do Maracanã, Garrincha realizou um grande sonho de sua vida, vestindo a gloriosa camisa vermelha e preta do Flamengo.Já no final de sua carreira, Garrincha ainda fêz vibrar a torcida, procurando retribuir no campo o que o clube fize­ra por êle, dando-lhe a oportunidade pa­ra sua reabilitação e para um reencon­tro com o seu público, no estádio que o consagrou como um dos maiores jo­gadores do mundo. Sua carreira ficou completa. Garrincha vestiu uma camisa desejada por tantos. Correu com ela, lutou por ela, valorizou-a com seu nome extraordinário, terminando no Clube de Regatas do Flamengo uma das mais glo­riosas carreiras de um grande futebolista.

.......................A cabeçada de Valido










Quando o argentino Agustin Valido dei­xou Buenos Aires, para a aventura de integrar o combinado Beccar Varela, ja­mais poderia imaginar que depois dessa excursão ficaria definitivamente radicado no Brasil e com o seu nome inscrito para sempre no futebol carioca e no coração da massa de torcedores rubro-negros. Ingressou no Flamengo em 1937 e foi titular absoluto até o bicampeonato de 1942. Era ponteiro-direito e sua principal característica o pique, para o chute forte e certeiro na conclusão. Mas jogou também como meia-direita e até se sagrou campeão carioca nessa po­sição, em 1939, formando ala com Sá e tendo como demais companheiros de ataque Leônidas (Caxambu na reserva), Gonzalez e Jarbas (Orsi na reserva). De­pois, porém, na sua verdadeira posição de extrema-direita, integrou um dos maiores ataques que o Flamengo já for­mou até hoje: Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé. Foi campeão de 1942 e bicampeão em 43, neste ano já ceden­do o posto em muitos jogos para Jaci.

















...............Cabeçada vale tricampeonato

Sentindo o peso da idade, Agustin Va­lido foi tratar de negócios. Descalçou as chuteiras e montou uma tipografia. Mas seus companheiros prosseguiram na lu­ta pelo primeiro tricampeonato. E eis que o titular da posição, Jaci, que o substituíra, de repente ficou contundido e completamente sem condições para disputar os dois últimos jogos. Valido estava há quase um ano sem jogar. Casara-se recentemente e a idéia fixa do técnico Flávio Costa obrigou-o a inter­romper por alguns dias a lua-de-mel. Valido resistiu muito, mas as circuns­tâncias exigiam o sacrifício do veterano craque já aposentado e êle acabou ce­dendo. Treinou uma semana para dispu­tar um Fla x Flu sensacional. O Fla­mengo venceu e êle passou a ter febre diariamente, em consequência do esfor­ço tremendo que fora obrigado a fazer, depois de parado há tanto tempo. Mas a obstinação de Flávio Costa o conven­ceu a jogar a final: Flamengo x Vasco da Gama. Se você ficar bem aberto na ponta-direita, Valido, o Argemiro te­rá que permanecer tomando conta e não poderá socorrer tanto os seus com­panheiros de defesa, repetia-lhe o téc­nico, a todo instante. Afinal, Valido não hesitou em jogar a cartada final. Seguiu à risca as instruções de Flávio e o mar­cador era de 0x0, quando, faltando três minutos, Vevé centrou da ponta-esquerda e Valido ainda encontrou forças pa­ra saltar e testar a bola inapelàvelmente para o fundo das redes. O salto e a cabeçada valeram o primeiro tricam­peonato do Flamengo. Depois disso, du­rante muitos e muitos anos, se discutiu se Valido teria ou não se apoiado no ombro de Argemiro para o salto e a cabeçada. Enquanto isso, êle guardava as chuteiras mais famosas ainda e vol­tava aos negócios, depois trocando ti­pografia por importação e venda de ma­deira do Paraná, tornando-se o próspero comerciante dos dias de hoje. O Grin­go, casado com uma brasileira e pai de duas filhas brasileiras, é Carioca Hono­rário desde 1964, título este que lhe foi muito bem conferido por O GLOBO.
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