sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Revista: "Grandes Clubes Brasileiros"
...........Flamengo (Ué,...e tem outro grande?)
Edição Nº-04 de 1971- CR$2,50 - Relíquia





.......................................O MESTRE ZIZA
...................................Tomaz Soares da Silva
Incluído com todos os méritos entre os maiores meias-armadores do mundo, Zizinho notabilizou-se no futebol pelo seu admirável estilo cerebral de jogo. Em sua época muitos foram os jogadores que se destacaram pela técnica e pela inte­ligência, mas nem todos conseguiram o renome de Zizinho, um craque no mais legítimo sentido que a denominação re­presenta. Legenda brilhante de uma das fases áureas do Flamengo, Zizinho foi um dos ídolos da massa rubro-negra durante dez anos e êle próprio relem­bra com saudade:
_Comecei no Flamengo no final de 1939 e saí no início de 1950. A torci­da rubro-negra sempre me deu o máxi­mo apoio, com a liderança desse homem sensacional que é Jaime de Carvalho, um autêntico líder de massa. E tive grandes momentos na minha passagem pelo clube da Gávea.
_Qual foi a vitória mais sensacional pelo Flamengo?
_A do jogo final do campeonato de 1944. Lutávamos pelo tricampeonato, so­nho dourado de todos os rubro-negros. Faltavam só três minutos para o final do jogo quando Valido subiu e cabe­ceou para marcar o goal da vitória. Foi um delírio, uma loucura na torcida e no campo. Uma festa inesquecível.
_Qual a melhor equipe da sua época no Flamengo?
_Todas as formações-base de 42, 43, 44 foram boas, tanto que conseguiram ganhar o título nos três anos consecuti­vos, mas como a pergunta exige uma resposta objetiva, fico com a equipe de 43, que das três me pareceu a melhor.
_Qual foi a base de 1943?
_Jurandir, Domingos e Newton; Biguá, Bria e Jaime; Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.
_Há quem afirme que Vevé era o brilhante dessa equipe, você concorda?
_Seria injustiça não reconhecer o valor do Vevé, pois existiram pouquíssimos extremas com as virtudes dele. Mas é bom lembrar que nesse ano existia o senhor Domingos da Guia. Que benção!
_Já que o papo é sobre grandes craques, Zizinho, qual o mais brilhante você viu até hoje?
_Se deixar de dizer que é o Pelé, estarei com toda certeza contrariando o resto do mundo. O negão até hoje não teve rival. Mas em outras épocas tam­bém vi jogadores brilhantes, quase tan­to quanto Pelé. Um só é difícil citar. Domingos da Guia, Nílton Santos, Leônidas, Ademir, Bauer. Esses foram o fino.
_Como jogador do Flamengo, qual a derrota que mais o entristeceu?
_Eu jamais fiquei conformado nas der­rotas, mas uma grande tristeza que ti­ve no Flamengo não foi por ter perdido, mas por não ter ganho um jogo que era decisivo. O Fla-Flu final de 1941 na Gávea, que terminou 2 x 2 e o Flumi­nense, que precisava do empate, foi o campeão. Essa foi minha maior triste­za, mesmo sem ter sido uma derrota.
_Decepção, Zizinho, você teve algu­ma?
_No Flamengo, uma só, mas que foi a maior de toda a minha vida de joga­dor profissional.
_Quando e por quê?
_No início de 1950, quando o então presidente Dário de Melo Pinto vendeu meu passe para o Bangu.
_Decepcionou-se por quê? Não queria sair do Flamengo?
_Não, não foi por Isso. Minha decep­ção foi grande porque o presidente não me falou que ia fazer a transação. Não me consultou a respeito.
_E quando você soube que iria ter o passe negociado?
_Quando Silveirinha me chamou em Bangu para acertar as condições do contrato que iria assinar. Só então eu soube que estava fora do Flamengo.
_Qual o melhor presidente que o Fla­mengo teve, Zizinho?
_Na minha opinião, foi Gustavo de Car­valho, um dirigente dedicado, trabalha­dor e leal.
_Você se lembra do goal mais bonito que marcou até encerrar a carreira?
_Essa pergunta eu vou deixar sem resposta porque francamente foram mui­tos os goal que marquei e decorrem tan­tos anos que não me lembro qual te­rá sido o mais bonito.
_Qual o seu melhor orientador téc­nico?
_Foi Flávio Costa, um treinador de muitos conhecimentos. Exigente, mas flexível. Penso que até hoje o futebol brasileiro não conheceu outro igual. Coi­sas que Flávio ensinava no meu tempo e que êle dizia, até hoje são repetidas com certa frequência.
_Por que o Brasil deixou escapar a Copa de 50, Zizinho?
_Por excesso de confiança.
_Só por isso?
_Simplesmente por isso. O excesso de confiança foi de todos.
_Você acha que a seleção de 50 foi a melhor que já houve no Brasil?
_Não. Foi boa, mas não a melhor. Me­lhor que aquele "scratch" de 50 foi o do Sul-Americano de 1945.
_Melhor em quê, Zizinho?_Melhor em tudo, principalmente no ataque, que era Tesourinha, Zizinho, He­leno, Jair e Ademir.
_Sua opinião sobre Zanata?
_É bom, tem futuro, mas não chega a ser um jogador completo.
_Qual a maior virtude que você vê no Zanata?
_O sentido de colocação que êle tem em campo. Êle passa relativamente bem, precisando caprichar mais nos passes.
_Qual o maior defeito que você vê no Zanata?
_O Zanata toca muito a bola para os lados. Isso é ruim. Jogador de meio-campo tem que jogar para a frente, de preferência lançando em profundidade e êle não faz isso.
_Sua opinião, Zizinho, sobre o Zico?
_Acho que esse garoto conhece tudo de bola. Ganhando um pouco mais de corpo, vai longe. É de uma boa escola, a escola do Edu. Futuro certo. Deve evi­tar a máscara.,
_Era mais fácil jogar no seu tempo, Zizinho?
_Penso que hoje, para determinado tipo de jogador, é melhor.
_Por exemplo.
_Jogador de defesa. Joga mais pro­tegido, tem o auxílio do meio-de-campo e até dos atacantes, que recuam mui­to. Para os atacantes a coisa se com­plicou um pouco mais.
Tomaz Soares da Silva, o Zizinho ou Mestre Ziza, nasceu em São Gonçalo. O Governo do Estado do Rio reconhecendo-o como um dos filhos mais dedicados, nomeou-o agente fiscal em 1962. Zizinho escreve também para o "Jor­nal dos Sports".
_Escrever é mais fácil que jogar, Ziza?
_Às vezes, não. Há jogos que nada oferecem para que se escreva.
_Você foi ao México e viu toda a Copa. Como resume o êxito do Brasil?
_Organização. Esse ponto foi a base de tudo. Independente dos valores in­dividuais, que eram grandes.