segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Revista: "Grandes Clubes Brasileiros"
...........Flamengo (Ué,...e tem outro grande?)
Edição Nº-04 de 1971- CR$2,50 - Relíquia
















.........................CANEGAL
......................trinta e dois anos
........................servindo ao flamengo


Newton Canegal está ligado ao Flamen­go há 32 anos e considera que nos 13 anos que jogou como zagueiro rubro-negro, conta que teve muito mais ale­gria que tristeza:

_Mas de todas as fases alegres da minha vida no Flamengo a do tricampeonato de 42-43-44 foi sem dúvida a melhor.
_Dos três títulos qual terá sido o mais emocionante?
_Sem dúvida o que completou a sé­rie. Havíamos feito duas campanhas ár­duas e no último ano daríamos até a própria vida para não deixar escapar o Tricampeonato.

Carioca do Rio Comprido, Newton Ca­negal nasceu em 4 de junho de 1921. Iniçiou-se no futebol pelo Tijuca, "um clube de estudantes da Praça Saens Peña", atuando em 36/37 pela Portu­guesa e 38 pelo Bonsucesso.


_Vim para o Flamengo, trazido por Flávio Costa, em março de 1939, mas meu contrato só foi registrado no dia 1 de abril. Quando Flávio me trouxe do Bonsucesso, dizia que me considerava o único zagueiro capaz de substituir o grande Domingos da Guia, a cujo esti­lo o meu modo de atuar era bem se­melhante. Flávio, reconhecendo que nunca imitei Domingos, aconselhou-me a que jogasse diferente dele. Quando Do­mingos saiu para o Coríntians, passei a ser seu substituto, felizmente sem comprometer.

A primeira alegria de Newton Canegal no Flamengo foi o campeonato de 1939, ano em que, segundo êle, a equipe rubro-negra era uma parada:

_Já entrei no Flamengo com a ale­gria de ser campeão carioca no mesmo ano da minha contratação. O título de 39, ganho por antecipação, foi sensacio­nal. No último jogo, já de faixa, ga­nhamos de 4 x 1 do Vasco e essa é a vitória de que me lembro com mais sa­tisfação até hoje, por causa do placar, que não era tão comum, devido à força igual das equipes.
_Qual a formação base do título de 39?
_Yustrich, Domingos e Newton, Jocelino, Volante e Médio; Valido, Zizinho, Pírilo, Gonzalez e Jarbas. Essa equipe era uma parada,
_Quem era o destaque?
_Um só? Muito difícil responder. Do­mingos, um senhor beque. Zizinho, aque­la bola. Gonzalez e Jarbas, que ala-esquerda! Era um grande quadro.
_Como você formaria o Flamengo de todos os tempos?
_Se tentasse, cometeria por certo mui­ta injustiça. O Flamengo, sempre na li­nha de frente do futebol nacional, teve um sem número de jogadores admirá­veis em todas as suas épocas. Só de goleiro, por exemplo, Yustrich, Jurandir, Luís Borracha, Válter Goulart e Garcia, dos que vi em ação. O fabuloso Do­mingos. Fausto, a Maravilha Negra. Zizinho, Gonzalez, Vevé, Bria, Perácio, Dida e é melhor parar porque não con­sigo fazer uma equipe com tanta gente para 11 lugares.
_Qual a formação base de 44, último ano do tricampeonato, hem Newton?
_Jurandir, Domingos e Newton; Biguá, Bria e Jaime; Tião ou Jaci, embora no último jogo tivesse entrado o Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.


_Você chegou a formar em seleções cariocas?
_Fui bicampeão brasileiro formando numa seleção que contava com oito jo­gadores do Flamengo, uma base assim muito sólida como a que deu o Vasco para a seleção nacional de 50.
_Qual era a equipe carioca?
_Jurandir, Domingos e Newton; Bi­guá, Danilo e Jaime; Pedro Amorim, Zi­zinho, Pirilo, Lelé ou Ademir e Vevé.
_Em que outras seleções atuou, New­ton?
_Na seleção brasileira que disputou o Sul-Americano na Argentina, a Copa Rio Branco e a Copa Rocca.
_De todos os técnicos, qual o real­mente mais técnico que conheceu?
_Dos que passaram pelo Flamengo, todos muito bons. Flávio Costa, Renganeschi, Solich e agora Yustrich. Sem diferença de um para outro, cada um com seu método de trabalho. O impor­tante é ressaltar que todos os técnicos que servem ao Flamengo sabem fazê-lo sempre com dedicação.
_Houve muita evolução ou você acha que o futebol da sua época era melhor?
_A única evolução que se pode dizer que houve é a da preparação física. Tecnicamente os jogadores são bons em todas as épocas, pois a renovação se não existir teremos a morte do futebol. Tecnicamente, tàticamente e até disci­plinarmente o futebol não mudou, pois os temperamentais hão de existir sem­pre, assim como os equilibrados. Na mi­nha época, e já citei alguns, havia muito jogador fora de série, como hoje existem Pelé, Rivelino, Gérson, Paulo César, Jairzinho, Zanata e tantos outros bons como Tostão e Dirceu Lopes.
_Pelo menos cinco rubro-negros fo­ra de série que você viu em todos os tempos, Newton.
_Domingos, Fausto, Zizinho, Leônidas e Dida.
_Qual o jogo que mais mexeu com seus nervos?
_Graças a Deus sempre fui muito cal­mo. Os clássicos, em linhas gerais, são sempre os que motivam o jogador a uma grande apresentação. Mas nunca tive problema de ficar nervoso por cau­sa de um jogo.


_Flamengo x Vasco ou Fla-Flu, qual dos dois é mais clássico?
_Fora de dúvida, o Fla-Flu. Mesmo que as duas equipes não se encontrem bem colocadas no campeonato, Fla-Flu é sempre a tradição e a mística para empolgação da torcida.
_Quantas vezes você dirigiu a equipe principal do Flamengo?
_Deixei o futebol em dezembro de 51 e logo comecei treinando os juvenis e auxiliando Flávio Costa. Em 1965, du­rante um mês e meio dirigi a equipe principal, antes da chegada do Renganeschi, que foi o técnico campeão da­quele ano. Antes, quando Solich deixou a equipe no Nordeste, também assumi, mas por poucos dias. Prefiro mesmo ser assistente, dando o que posso de melhor para auxiliar o técnico. E estou certo de que, de todos os que passaram até hoje pelo Flamengo, nenhum deve ter queixa de mim. E espero continuar assim.