sábado, 5 de setembro de 2009

Revista: "Grandes Clubes Brasileiros"
...........Flamengo
(Ué,...e tem outro grande?)
Edição Nº-04 de 1971- CR$2,50 - Relíquia



















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Em homenagem ao Mitchell
.....................YUSTRICH
................Um nome discutido




Natural de Corumbá, Mato Grosso, Dorival Knippel herdou esse sobrenome porque por parte de pai descendia de avós alemães. E aos 6 meses de idade, apenas, foi trazido pelos pais, ao Rio e entregue aos seus tios, que passaram a criá-lo e educá-lo. Ao atingir os 7 anos, o menino Dorival já era órfão de pai e mãe. Começou a estudar no colégio Jo­sé de Alencar, no Largo do Machado, onde completou o primário. Depois fêz os dois primeiros anos ginasiais, no Ginásio Lafaiete e os restantes como interno do Instituto João Alfredo.

_Yustrich, e quando foi que você deixou de ser o Dorival Knippel para se tornar simplesmente o Yustrich que ho­je o Brasil inteiro conhece?
_Aconteceu aos 15 anos quando, tro­cando de posição, comecei a jogar co­mo goleiro pelo Andaraí.
_E a origem do apelido?

_Pouco antes tinha passado pelo Rio uma equipe argentina com um goleiro que o meu técnico, Hermógenes, achou que eu parecia. Fosse pelo porte, fos­se pelo fato de que resolvi usar também um boné de pano parecido com o que êle usara, naquela época. Não impor­tam os detalhes, pois o importante foi que o apelido pegou e eu passei a ser Yustrich para todos e para sempre...

Nascido a 28-9-1917, Yustrich não foi filho único, tendo 4 irmãos. Seus pais tinham indústria de papelaria e tipogra­fia e ninguém da família, antes dele, foi ligado a qualquer modalidade de esporte, especialmente o futebol.

A época era de grandes goleiros. Yustrich e Rei são nomes de destaque.



















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Uma juventude rubro-negra

Sócio do Flamengo desde menino, ain­da da época da rua Paissandu, Yus­trich foi escoteiro rubro-negro e aos 13 anos tornou-se center-half titular do qua­dro infanto-juvenil. Nessa época, era pivot, jogava no meio do campo e ain­da nem pensara em se tornar o goleiro que mais tarde conquistaria o campeo­nato de 1939 pelo Flamengo e alcan­çaria também a façanha do primeiro tricampeonato rubro-negro. Quando co­meçou, no infanto-juvenil, Yustrich teve como seu primeiro técnico Júlio Silva, figura que se tornaria conhecidíssima pela sua participação há longos anos no carnaval carioca, sempre desfilando como O Bloco do Eu Sozinho. Aos 15 anos, Yustrich se transferiu para jogar como goleiro pelo 1º time do Andaraí, ao qual defendeu durante apenas 8 meses. Jogava pelo Andaraí e disputava o campeonato colegial. Mas voltou ao Flamengo, convidado que foi pelo já então técnico Flávio Rodrigues da Cos­ta, tornando-se titular da equipe princi­pal rubro-negra a partir do ano seguin­te à implantação do profissionalismo no futebol carioca. Yustrich substituiu a Raimundo, na meta do Flamengo e pas­sou muitos anos como titular absoluto, mesmo em 1939, quando se sagrou campeão carioca, tendo na sua suplência a Válter, que era o goleiro da Seleção Brasileira e naquela oportunidade se transferira do América para o Fla­mengo. Foi campeão, bicampeão e tri-campeão, pois em 1944, quando encer­rou a sua carreira na Gávea, cedendo de uma vez o posto a Jurandir, Yus­trich ainda disputou os seis primeiros matches. Em 1945 êle foi emprestado pelo Flamengo ao Vasco da Gama, pelo prazo de 1 ano, porém só permaneceu 8 meses em São Januário, decidindo pendurar definitivamente as chuteiras, como jogador. Durante todo o tempo em que defendeu o Flamengo, Yustrich teve a dirigi-lo apenas dois técnicos: Flávio Costa e Doris Kruschener e nos 8 me­ses de Vasco, seu único treinador foi Ondino Viera.












Início em Volta Redonda

O que pouca gente sabe é que Yustrich chegou a cursar até o terceiro ano de agronomia.
_Enquanto eu cursava Agronomia, He­leno de Freitas fazia Direito. Ambos es­tudávamos em Niterói e êle se formou, mas eu tive que desistir e mudar afinal de profissão.
_Por quê?
_Porque depois do 3º ano eu teria, obrigatoriamente, que me transferir pa­ra completar o curso em Viçosa. E co­mo jogava futebol no Rio, preferi não ir e cursei, então, a Escola Nacional de Educação Física da Praia Vermelha, pela qual me diplomei.
_E o início da sua carreira de téc­nico? Como foi?

_Fui convidado pelo Coronel Macedo Soares, àquela época Diretor Técnico da Companhia Siderúrgica Nacional, pa­ra organizar o Parque Esportivo de Vol­ta Redonda. E passei exatamente 1 ano organizando tudo. Quando o Parque Es­portivo estava em pleno funcionamento, cessaram os meus compromissos e re­tornei ao Rio. Era Polícia Especial, aqui, mas como esse não era o meu ideal, já que desejava seguir carreira como técnico de futebol, aceitei um convite que me foi feito pelo meu velho e gran­de amigo Fernando César (também com­positor famoso) Pereira, para ser o re­presentante comercial da firma Carlos Pereira Produtos Químicos, em Belo Horizonte. Aceitei e assim já em 1948 iniciava como técnico do América, na capital mineira.





Clubes e títulos

Desde então, diversos têm sido os clu­bes pelos quais Yustrich passou, como treinador, sempre calcando a sua filo­sofia de trabalho em dois pontos bá­sicos: uma disciplina rígida antes e acima de tudo e uma preparação físi­ca o mais próxima possível da perfei­ção, com seus comandados tendo de levar a vida regrada de atletas pro­fissionais que se dedicam integralmente à observância de todas as suas obri­gações contratuais.
_Em Minas Gerais só não dirigi o Cruzeiro. Levei o América à conquista do campeonato, em 1948, depois de longos 17 anos divorciado do título, co­mo se encontrava o tradicional clube mineiro. Dirigi o Atlético ao qual dei dois títulos, o Vila Nova, e levei também o Siderúrgica, ao qual tive a felicidade de conduzir ao título máximo, depois de 27 anos que êle não era campeão.

Pequena pausa e uma referência direta sobre a primeira experiência interna­cional que fêz como técnico:
_Foi em 1956, quando me transferi para o F. C. do Porto, que havia 17 anos não era campeão de Portugal e con­quistou o título na temporada de 56-57 e também a Taça de Portugal. Voltei para a temporada de 58-59 e estava na liderança do certame até quando só já nos faltavam dois jogos, para alcançar­mos o título. Infelizmente, não o logra­mos, mas alcançamos logo em seguida a conquista da Taça de Portugal.
_E no Rio, Yustrich?
_Aqui eu dirigi o América na época em que Wolnei Braune era o presidente. Recuperei alguns jogadores e lancei outros, acreditando que valha a pena recordar alguns nomes como os do go­leiro Ari, do zagueiro Jorge, do meio-campo Amaro e dos atacantes Calazans e Canário, este até vendido ao futebol da Espanha, por bom preço. Essa mes­ma equipe rubra, por sinal, acabou por se sagrar campeã carioca no ano se­guinte, 1960.
_E depois?

_Dirigi o Bangu, mas somente duran­te uma excursão ao exterior. O alvir-rubro precisava de um técnico diplo­mado para viajar para a Europa e,os Estados Unidos, contratando os meus serviços. Esquecia-me que, antes disso, quando saí do América fui para o Vas­co, clube ao qual dirigi tecnicamente durante apenas 8 meses, deixando-o tão pronto houve a mudança da Diretoria, com a sucessão presidencial.

Yustrich, que já dirigiu várias vezes o Atlético Mineiro, veio para o Flamengo assim que terminou o seu último con­trato com o clube carijó, iniciando suas atividades na Gávea logo nos primeiros dias de 1970. E de pronto conquistou, invicto, o Torneio de Verão e a Taça Guanabara, chegando a liderar o cam­peonato carioca durante muito tempo, mas começou a perder os seus melho­res jogadores, por contusões e aciden­tes de jogo, decaindo verticalmente o rendimento do quadro. Recuperou a equipe e lutou na Taça de Prata de igual para igual, deixando de se classificar às finais porque, embora com o mesmo número de pontos perdidos que o Flu­minense, foi superado pelo tricolor pela diferença de apenas 1 goal.

A maior satisfação

_Se outra coisa eu não tivesse con­seguido ou não vier a alcançar, no fu­tebol carioca, a minha maior satisfa­ção foi a de haver provocado uma pro­funda modificação na forma de sua disputa. O futebol carioca era extre­mamente lento, até que eu cheguei pa­ra o Flamengo. Então a velocidade com que a equipe rubro-negra começou a jogar a todos assustou e não houve outro caminho a seguir, para os outros clubes, senão o de se prepararem para jogar do mesmo jeito, na base da ex­trema rapidez exigida pelo futebol mo­derno. De resto, a minha consciência me assegura que tentei dar o máximo de mim, diariamente, para proporcionar ao clube é à massa de torcedores do rubro-negro — já que ninguém é mais Flamengo do que eu, como torcedor! — tudo o que eles merecem.
Yustrich passava seis dias da semana trabalhando em regime de tempo inte­gral no Flamengo, mas no dia 26 de maio acabou deixando a Gávea. Seu no­me continuará sendo discutido, pois afinal assim tem sido toda sua vida.