Salve, Buteco! Nosso próximo adversário, pelo "Derby das Américas" da Copa Intercontinental da FIFA, uma espécie de quartas de final do torneio, será, como todos já sabem, Club de Fútbol Cruz Azul S.A. de C.V., ou Cruz Azul, do México, um dos maiores do futebol daquele país, e que foi fundado em 1927, na cidade de Jasso, posteriormente renomeada de Ciudad Cooperativa Cruz Azul, no Estado de Hidalgo, pela empresa cimenteira Cooperativa La Cruz Azul.
A História desse clube chama a atenção primeiramente porque envolve muitas mudanças importantes, tanto de cidade-sede, como de estádios. Sem campanhas de destaques até então, a Cooperativa Cruz Azul resolveu construir o Estadio 10 de Deciembre (hoje com capacidade para 17.000 pessoas) ainda na "cidade natal" do clube, em 1960. Alguns anos depois, na temporada 1963/1964, conseguiu o acesso para a primeira divisão e o primeiro título na elite do futebol mexicana viria na temporada 1968/1969.
Começava, então, a "Era de Oro" do clube, que desde então até o final dos anos 70 converteu-se no maior ganhador da principal competição do país. Atribui-se todo esse sucesso à decisão da "directiva cementera" de mudar a sede do clube da Ciudad Cooperativa para o Distrito Federal ou Cidade do México. La Máquina Celeste começava, então, a se converter em um dos clubes mais populares do país.
Não encontrei nenhuma pesquisa de tamanho de torcidas no México (destaques para as encuestas Nielsen e Mitofsky) que não colocasse o Cruz Azul como a terceira maior hinchada do país, atrás apenas de América e Chivas Guadalajara, contando com expressivos 14,6% da preferência nacional, em um país cuja população é estimada em torno de 129,5 milhões de habitantes, o que equivale a quase 19 milhões de torcedores, números compatíveis com os da terceira e quarta torcidas do Brasil (São Paulo e Palmeiras).
Trata-se, portanto, de um grande mexicano, muito popular e vencedor tanto na Liga MX (9 títulos), como também na Champions League da CONCACAF (7 títulos). E como infelizmente acontece com muitos clubes desssa grandeza, já foi vítima da política e de apropriação de grupos criminosos. Nas palavras do jornalista Lúcio Castro para o Lance!, em matéria publicada recentemente, na última sexta-feira, 5 de dezembro, "o adversário do Flamengo (...) tenta se desvincular da fama de longa manus e lavanderia do narcotráfico."
Chocados? Então leiam mais um pouco da matéria:
Futebol mexicano teve escândalo envolvendo Cruz Azul
Em 2020, o escândalo de envolvimento dos proprietários do Cruz Azul com o narcotráfico chegou a levar a Unidad de Inteligencia Financiera (UIF) a bloquear as contas da Cooperativa La Cruz Azul, do grupo da fábrica de cimentos que patrocina o clube. Hoje, 99% do clube pertencem a cooperativa e o 1% restante da "Cementos Cruz Azul". No fim, as mesmas mãos.
As contas do clube chegaram a ficar congeladas também na ocasião.
Algumas dessas denúncias falavam em associação de ex-dirigentes do patrocinador do Cruz Azul com o Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG), hoje o principal e mais temido do país, que tem aparecido em alguns momentos associado ao PCC.
Num drama que nos faz lembrar a célebre frase de Porfírio Diaz, que comandou o país em diferentes momentos entre o final do século XIX e início do XX: "Pobre México, tão longe de deus e tão perto dos Estados Unidos". País maior consumidor e razão de ser do narcotráfico mexicano.
Acredito que esse resumo sobre o Cruz Azul mostre que o Flamengo não enfrentará nenhum infante do futebol, nenhuma virgem vestal. Será um choque com um clube muito grande, "nem um pouco inocente", o que precisa ficar bem claro.
É claro, da mesma forma, que o futebol mexicano, em tese, está tecnicamente abaixo do brasileiro. Contudo, e convenhamos, não se trata de uma distância abissal. Basta lembrar as dificuldades que a Seleção Brasileira sempre encontra quando enfrenta a Mexicana, além das boas campanhas que clubes como o próprio Cruz Azul e seus rivais América e Chivas Guadalajara já fizeram na Libertadores da América.
Os Celestes já chegaram, inclusive, a vencer o Boca Juniors de Carlos Bianchi e Juan Román Riquelme, em La Bombonera (1x0), na final da Libertadores/2021, após perderem no Estádio Azteca pelo mesmo placar, diante de um público de 115.000 espectadores, para depois sucumbirem na disputa de pênaltis (1x3).
Muito próximo em nível de investimento, até porque, desde sua formação, adotou o profissionalismo empresarial na constituição das equipes e não o modelo associativo do futebol brasileiro e do argentino (por exemplo), o futebol do México, porém, sofre com a insularização na América do Norte e com a falta de rivais competitivos para se desenvolver ainda mais, o que, todavia, como vocês puderam perceber, nunca impediu os clubes mexicanos e o próprio Cruz Azul de serem rivais bastante competitivos.
Peço, entretanto, que os mais aflitos se acalmem, pois não acredito que nada remotamente semelhante ao que aconteceu com o Botafogo ano passado, quando perdeu por 3x0 para o Pachuca, também do México, dias após a final da Libertadores, ocorrerá com o Flamengo na próxima quarta-feira.
Primeiro, porque o time assegurou com uma rodada de antecedência o título brasileiro e, portanto, pôde viajar com tranquilidade para o Qatar, onde será disputado o torneio. Dará tempo inclusive para treinar um bocadinho antes do jogo.
Segundo, porque nosso rival não teve a mesma benesse do calendário e disputou um ferrenho duelo contra o Tigres pela semifinal do Apertura na madrugada deste domingo, tendo empatado por 1x1 (jogo de ida mesmo placar, na última quarta-feira) e sido eliminado da competição.
Terceiro, porque, para além do enorme desgaste mais recente, ainda teve o infortúnio da contusão de um de seus principais zagueiros, que teve uma fratura exposta no tornozelo ao pisar em falso no gramado. Logo, é um adversário que, apesar de forte, está física e mentalmente cansado, além de psicologicamente abalado por todos esses eventos.
Por fim, quanto à parte tática, o excelente Raphael Rabello, do Falando de Tática, mostra que o Cruz Azul não assusta quanto a esse quesito, pois "aglutina muitos atletas perto da zona da bola, oferecendo o lado oposto aos adversários. Inversões encontrando pontas e laterais em situação de 1x1 podem machucar o time mexicano", como mostrou neste vídeo no Twitter.
A análise competa está neste vídeo no YouTube, da qual destaco o trecho no qual o analista tático demonstra que o adversário abusa dos passes longos, não trabalha bem a bola e ainda tem enormes dificuldades para finalizar a gol.
Quando a gente pesquisa sobre o treinador do Cruz Azul, tudo passa a fazer sentido. Trata-se do argentino Nicolás Larcamón, que dirigiu o Cruzeiro por cerca de 4 meses e não deixou saudades, tendo sido demitido após a eliminação na Copa do Brasil para o Sousa/PB e a derrota no primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro.
Então, por todo esse contexto, muito embora respeitando muito esse grande adversário, estou bastante confiante na vitória.
Pensam da mesma forma?
Tenham uma semana abençoada.
A palavra, como sempre, está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.
