domingo, 26 de outubro de 2025

Divagações Sobre a Unanimidade

 

Salve, Buteco! O Universo Rubro-Negro, com seus para lá de 50 milhões de adeptos, é um tanto vasto. Então, se na vida já é difícil obter unamidade entre pessoas, qualquer que seja sua microbolha ou comunidade, imagine em meio a tanta gente. Eu, fã confesso do "tricolor mais rubro-negro da História", desconfio muito das unanimidades, das verdades absolutas, das conclusões sem contrapontos. 

Qual não foi a minha perplexidade, então, quando constatei que estamos diante de um evento desafiador da máxima rodriguiana, já que não conheço, não vi e não consigo imaginar alguém que não deposite 100% da responsabilidade pelo que aconteceu ontem, no Castelão, no treinador do Flamengo. "Ah, mas o Samuel Lino é uma usina de perder gols", "o Léo Pereira não ganhou uma pelo alto", "ninguém jogou nada".

Amigo, eu acompanho o Flamengo há mais de meio século, não canso de repetir, e não tem nada mais Flamengo do que sua verve Robin Hood: roubar dos mais ricos para dar aos mais pobres. Por isso mesmo, alguns comportamentos são previsíveis, tanto que, na conclusão do Esquenta de anteontem, alertei:

"(...) os caminhos da bola são imprevisivelmente traiçoeiros e a distância do Leão do Pici para o vice-líder do Brasileirão, que vem de três vitórias seguidas em três jogos chamados "grandes", o último deles pela semifinal da Libertadores, será um tanto reduzida pelo desgaste de alguns atletas, pela expectativa do jogo de volta em Avellaneda e até por algumas contusões. 

Para enfrentar esse time, o Fortaleza certamente estará jogando alguns de seus poucos dados restantes, literalmente no desespero.

Quem pode jogar? Quem deve ser escalado? Como fazer para manter o foco e conquistar os três pontos na rodada em que, dentre todas as restantes, há mais chances de ultrapassar o Palmeiras na tabela, diante do confronto direto no clássico palestrino contra o forte Cruzeiro, terceiro colocado no certame?"

Na verdade, previsivelmente traiçoeiros, né? A sequência 3x0 Botafogo, 3x2 Palmeiras e 1x0 Racing, com um jogo contra o Fortaleza, vice-lanterna, no Castelão, intermediando o jogo de volta no Cilindro, em Avellaneda, é um convite para o tropeço. Um tropeço tipicamente flamengo, rubro-negro por essência.

Só que a maneira como um treinador lida com a previsibilidade é um dos traços marcantes do seu sucesso ou fracasso na carreira, e SuperFili anda teimando em um momento crucial de uma temporada que pode vir a ser o início de uma trajetória brilhante ou produndamente frustrante.

"Ah, eu trabalho com elenco de 23 jogadores". Meia verdade. Ele trabalha com uns 14, 15 e isola o resto do elenco. Não que seja o único adepto dessa prática. Há sintonia fina com o diretor técnico do Flamengo nesta íntima convicção, tipicamente europeia, por sinal. 

Ocorre que os dois podem levar tudo a perder por se mostrarem absolutamente OBTUSOS (para não utilizar nenhuma expressão injuriosa) na ADAPTAÇÃO dessa filosofia a um país e a um continente que exigem dos clubes sequências como Botafogo (Rio), Palmeiras (Rio), Fortaleza (Fortaleza) e volta para o Rio e Racing (Buenos Aires/Avellaneda).

Tá, o Real Madrid foi jogar outro dia contra um time do Cazaquistão (Kairat). 11 horas de voo, com escala, por trecho. Porém, isso acontece uma vez por temporada, enquanto um clube como o Flamengo, que disputa a Série A do Campeonato Brasileiro e a Libertadores todo o ano, atravessa o Brasil, país de dimensões continentais, e o próprio continente várias vezes por ano. Antes fossem 22h (ida e volta) uma vez apenas em toda a temporada...

O que aconteceu ontem, no Castelão, foi, antes de tudo, ESTÚPIDO. Era absolutamente PREVISÍVEL não somente o desfecho, como a própria dinâmica da partida, especialmente o VERGONHOSO primeiro tempo. Ontem era jogo para um time que conseguisse COMPETIR FISICAMENTE em campo.

"Ah, o Campeonato Brasileiro é prioridade, eu seguirei com as minhas convições". Não, seu IMBECIL! Disputar com competitividade as 38 rodadas do Campeonato Brasileiro é que deveria ser a prioridade.

Já que comecei esse texto citando Nelson Rodrigues, nada melhor do que encerrá-lo com uma de suas mais célebres frases, sobre os IDIOTAS DA OBJETIVIDADE:

"Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos."

Tenham um bom domingo (se for possível).

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.