Salve, Buteco! Chegou o dia da estreia do Clube de Regatas do Flamengo, o Mais Querido do Brasil (e do Mundo), na Copa do Mundo de Clubes/2025. Os generosos Amigos que me honram ao ler os posts que escrevo para este Blog certamente se recordam da sequência de posts sobre o Mundial de Clubes e a Copa Intercontinental, que escrevi antes da participação do Fuderosão Safadão no Mundial/2022 (disputado em 2023).
Basicamente, como demonstrei no terceiro e no quarto posts da série, até o advento da chamada "Lei Bosman", resultado final do julgamento do processo C-415/93 pela Corte Europeia de Justiça - ECJ (European Court of Justice), o supremo tribunal da União Europeia para assuntos relacionados com a aplicação da European Union Law ou o sistema de normas que regem aquela associação de países, o placar da Intercontinental assinalava América do Sul 20x14 Europa.
A Lei Bosman e o fim da "Lei do Passe" são resultado de uma habilidosa e maquiavélica estratégia, que se apropriou sem pudor de uma premissa humanista autêntica, qual seja, o drama vivenciado por jogadores que tinham o seu vínculo empregatício com um clube expirado, os quais só conseguiam trabalhar se o antigo empregador fosse financeiramente indenizado pela perda do "passe" ou direitos sobre a força de trabalho do atleta. Uma forma mais branda e contemporânea de escravidão, portanto.
Entretanto, como eu dizendo, a estratégia foi maquiavélica, isso porque o novo marco regulatório, ao (corretamente) abolir o odioso e escravagista instituto do passe, simplesmente deixou para o "mercado", em sua essência mais crua, ou seja, sem regulação, "regular" as transferências de atletas. Resultado: sob uma bandeira humanista, passou a vigorar a Lei do Mais Forte - financeiramente, é claro. Estamos falando de dinheiro, arame, mufunfa, cascalho.
Não à toa, no mundo todo os clubes mais ricos passaram a exercer a hegemonia em seus respectivos países. Por exemplo, o Bayern de Munique, o Gigante da Baviera, que ontem goleou impiedosamente o amador Auckland City por 10x0, sempre foi o maior e mais vencedor clube da Alemanha, porém depois da Lei Bosman abriu-se um verdadeiro fosso entre ele e os concorrentes.
Na Itália, a Juventus, a maior vencedora no cenário nacional, disparou deixando a concorrência comendo poeira. Na França, o PSG saiu da posição de clube chique e quase inofensivo da capital para a condição de opressor dos rivais, tal como o Bayern na Alemanha. Na Inglaterra, onde o dinheiro sempre falou alto, mas havia concorrência, Liverpool e Manchester United assistiram rivais como o Chelsea e o Manchester City ganharem terreno e se tornarem mais competitivos do que o Arsenal.
O que existe hoje, em nível de regulação, é mera mitigação da Lei do Mais Forte. A Lei Bosman estabeleceu o paraíso para os clubes mais ricos da Europa. Sonho com o dia que alguém que tenha acesso a instrumentos de pesquisa adequados revelará ao mundo a influência da UEFA no julgamento do processo C-415/93.
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O eurocentrismo futebolístico, contudo, não conhece limites e sua ganância não se contentou com o que foi alcançado com a Lei Bosman. De forma cruel, a UEFA passou a entupir o calendário europeu com competições que tornaram cada vez mais difícil o intercâmbio com os outros continentes. É o caso, por exemplo, da famigerada Liga das Nações.
Qual seria o sentido da existência dessa competição, diante da tradicionalíssima e empolgante Eurocopa, senão o de isolar o futebol europeu do contato com os demais continentes?
É neste ponto que peço licença para elogiar Gianni Infantino e a Dona FIFA. O mais importante dessa nova competição é o intercâmbio com os clubes mais ricos da Europa, descarada e historicamente beneficiados pela Lei Bosman.
Mesmo que aqui ou acolá possa ocorrer um 10x0 ou um placar apenas um pouco menos constrangedor, o eurocentrismo foi obrigado a ceder e se misturar com a escumalha. Bem ou mal, o intercâmbio volta a existir. A pedra fundamental foi lançada.
Gol do futebol.
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O jornalista que critica o nível técnico de alguns dos participantes da Copa do Mundo de Clubes ou a falta de engajamento da torcida local é o mesmo que alimenta o ufanismo da torcida com a Seleção Brasileira e o negacionismo quanto à enorme queda de qualidade e competitividade do futebol brasileiro.
Anti-Flamengo notório, prega "bandeiras" como divisão "igualitária" de cotas de direito de transmissão, desde que isso signifique tirar dinheiro do Flamengo e não do time para o qual torce. Costuma evitar assuntos espinhosos como dívidas, seja com o Governo, seja com outros clubes.
Sempre enaltece todos os adversários do Mais Querido em transmissões ou mesas redondas. Adora passar pano para dirigentes da CBF.
Anda com muita dor de cotovelo porque seu time, decadente e endividado, não está no Mundial e dificilmente voltará ao patamar de disputá-lo.
Tremendo de um arrombado.
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O ótimo Raphael Rabello, do canal Falando de Tática, presenteia a Nação Rubro-Negra com a ótima análise sobre o Espérance de Túnis trazida neste vídeo no YouTube. Em suma, o Sorridente tem boas jogadas ensaiadas em bola parada e usa bastante as ultrapassagens do jogo associativo para chegar à linha de fundo. Além disso, lançamentos por cima da defesa adversária em busca do atacante em movimento de "facão".
Nada que atenção e aplicação na execução do bom sistema defensivo rubro-negro não possam manejar. É difícil projetar um jogo contra um adversário tão desconhecido, mas um dos pontos que me desperta maior curiosidade é como o Espérance enxerga o Flamengo. Será que o vê como um adversário mais forte ou facilmente superável?
O mesmo Raphael Rabello, neste tuite, observa que o Sorridente é um time descompactado e que oferece generosos espaços ao adversário. Bem, será que cometerá o erro do Juventude e do Fortaleza (no segundo tempo)? Tomara que sim, né?
O Analista não esconde o seu desejo de que Arrasceta esteja acompanhado de Pedro no setor ofensivo. É, também, o que quer a maior parte da torcida, mas será que essa formação suportaria o restante do torneio?
Quero crer que o que aconteceu no Mineirão, no confronto contra o Cruzeiro, pela 7ª Rodada, passou a condicionar muitas das decisões de SuperFili a partir de então. Naquela fatídica tarde nas Alterosas, e enfrentando um adversário sob comando europeu, o Flamengo foi claramente sobrepujado nos campos físico e tático.
Um problema que talvez só venha a ser resolvido com a reformulação do elenco. Boto começou mal com o bravo Juninho Xereca.
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O Ficha Técnica subirá ao cair da noite, as 19:00h, como de costume.
A palavra está com vocês.
Uma semana abençoada pra gente.
Bom dia e SRN a tod@s.