Salve, Buteco! E eis que, segundo alguns setoristas, a Diretoria do Flamengo está fritando mais um treinador. Surpresos? Só se for pelo tempo que o atual entregador de coletas durou, certo? O certo é que a demissão e a sucessão já estão na pista, pois ganharam a atenção da grande mídia. Eis o vídeo divulgado antem por Paulo Vinicius Coelho, o PVC, do Uol:
O fuzuê dos setoristas e o treinador trabalhando, como uma espécie de "dead man walking", rumando em direção à execução, sendo humihado publicamente, é uma prática quase selvagem, que poderia perfeitamente ser evitada se o clube tivesse a tal comissão técnica fixa.
Não que isso seja exatamente simples. Treinadores como Jorge Jesus, Jorge Sampaoli ou Vitor Pereira certamente não aceitariam um integrante indicado pela Diretoria para integrar suas comissões técnicas. Então, o único formato que consigo idealizar seria uma espécie de assessor do diretor técnico, que acompanharia todo o trabalho e o auxiliaria na avaliação.
Não que isso seja exatamente simples (2). Afinal de contas, tanto o Velho, como o Careca, só para ficar em dois exemplos, eram bem restritivos quanto ao acesso de pessoas ao local de treinamentos. Só que esse interessante debate é meramente retórico, se pensarmos na atual estrutura do nosso Departamento de Futebol.
No Flamengo da gestão azul, o único exemplo de treinador de comissão técnica fixa do clube do qual me recordo é o de Marcelo Salles, o "Fera", que dirigiu o Flamengo em 4 jogos do Campeonato Brasileiro de 2019, entre a demissão de Abel Braga e a contratação de Jorge Jesus, com o bom aproveitamento de 3 vitórias e 1 empate - 2x0 Fortaleza (Engenhão), 1x0 Corinthians (Maracanã), 0x0 Fluminense (Maracanã) e 2x0 CSA (Mané Garrincha - fui presente).
O interessante da campanha sob o comando do Fera é que o time melhorou a olhos vistos naqueles 4 jogos. O sistema defensivo se tornou bem mais sólido e o Flamengo correu bem menos riscos. Tal como hoje ocorre com Tite, os jogadores corriam pelo experiente treinador anterior, mas o trabalho não fluía. A situação não era de exaurimento, como a atual, mas caminhava em direção à inviabilização.
Os outros casos recentes de "mandato tampão" dos quais me recordo é de treinadores do sub-20 que assumiram interinamente o time profissional, seja entre demissão e contratação de um treinador, seja naqueles inícios de temporada, no Campeonato Carioca, quando o elenco principal, ainda em pré-temporada, não disputa as primeiras rodadas.
Zé Ricardo, em 2016, assumiu interinamente o time principal logo após a demissão de Muricy Ramalho. Como os resultados começaram a aparecer, foi merecidamente efetivado no cargo. Já seu sucessor no sub-20, Maurício Souza, o "Cartunista" (risos), chegou a dirigir o Flamengo no Monumental de Nuñez no 0x0 contra o River Plate pela sexta rodada do Grupo D da Libertadores/2018, em substitiuição ao treinador Maurício Barbieri, suspenso.
Passados quase 2 anos, comandou o time nas primeiras rodadas dos Campeonatos Cariocas de 2020 e 2021, porém nesta última temporada dirigiu o time por vários jogos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, primeiro numa licença-médica de Rogério Ceni por Covid-19 - 1x0 Coritiba (Couto Pereira - CdBr/3ª Rodada), 2x0 América/MG (Maracanã - BR/3ª Rodada), 2x0 Coritiba (Maracanã - CdBr/3ª Rodada) e 2x1 Chapecoense (Maracanã - BR/5ª Rodada).
Pouco menos de 2 meses depois, dirigiu o time na vitória por 1x0 sobre o ABC na Arena das Dunas, em Natal, pelo jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, e voltaria a estar à beira do gramado após a saída de Renato Gaúcho, logo em seguida da final da Libertadores, entre a 35ª e a 38ª Rodadas do Campeonato Brasileiro - 2x1 Ceará (Maracanã), 1x1 Sport Recife (Arena Pernambuco), 0x1 Santos (Maracanã) e 0x2 Atlético/GO (Antônio Accioly).
Cheguei aonde vocês queriam (risos). Projetei ontem, mas não prometi, um post sobre o Filipe Luís, mas acabou sendo mais sobre a estrutura do Departamento de Futebol e os vácuos no comando da equipe profissional. No final das contas, os assuntos acabaram se misturando.
Na estrutura do futebol profissional do Flamengo, o treinador do sub-20 é o "tapa buracos" quando o time está sem comando, seja por demissões, seja por outros motivos, tais como suspensões ou mesmo enfermidades.
O fato de "Fili" não estar disposto a assumir o encargo acaba gerando um problema difícil de ser contornado, a começar porque a estrutura de futebol do clube funciona contando com a utilização desse tapa-buracos, mas também e especialmente por estarmos nos cerca de 60 dias finais de uma gestão de dois triênios e que não pode se reeleger.
Fili tem suas razões. É estudioso, metódico e sobre ele recai uma enorme expectativa quanto às qualidades como treinador. Além disso, é preciso reconhecer que o momento atual é extremamente conturbado e o time vive um colapso tático e técnico que se mistura com o desastre que foi a preparação física nesta temporada. O ambiente realmente não é o ideal para a estreia de um treinador iniciante no profissional.
Contudo, o clima no vestiário não era de extrema leveza após a saída de Muricy Ramalho em 2016, quando Zé Ricardo pegou o touro à unha e iniciou uma campanha a qual, se na reta final se tornou frustrante, pela perda das chances de título, representou um renascimento para o clube, que voltava a esse patamar de disputa.
Muitas décadas antes disso, tampouco era um mar de rosas o ambiente do vestiário quando Paulo César Carpegiani assumiu o time após a demissão de Dino Sani, em 1981. Tal como Fili, Carpa havia encerrado a carreira de atleta profissional de futebol havia pouco tempo e tinha relações estreitas com o elenco que até pouco tempo compunha. Terminou campeão do mundo.
Por mais que tente entender os torcedores quando "protegem" Fili de assumir o Flamengo neste momento, vêm à minha memória os exemplos de Carlinhos, Júnior, Andrade e Jayme, além do próprio Carpa, os quais não recusaram os pedidos de ajuda do clube nos momentos de necessidade e grandes atribulações.
Ficará difícil enxergar o Fili neste patamar se houver mesmo uma recusa, até porque já é funcionário do clube. Então, já que não quer se submeter à função de tapa-buracos, historicamente típica dos treinadores sub-20 do clube, e como é difícil enxergá-lo como um assistente de diretor técnico em temporadas futuras, dadas suas justas ambições, talvez seja o caso de clube e jovem treinador seguirem caminhos distintos doravante.
É raro eu concordar com algo dessa Diretoria, mas nesse caso eu consigo entender uma possível frustração ou, como disse ontem com sagacidade o nosso amigo Laercio, o presidente "não receber bem a recusa" do ex-jogador.
Durante 4 temporadas e meia, Fili teve tudo do clube, inclusive proteção do vice-presidente de futebol e do próprio presidente nos intermináveis cabos de guerra contra diversos treinadores, durante os quais não faltaram entrevistas polêmicas à imprensa, sem falar nas anônimas e inesquecíveis declarações dos "líderes do elenco".
Como já frisei, Fili é inteligente, talentoso e tem boas e justas razões, mas o clube, ainda que caótico e contraditoriamente "amador em sua estrutura de futebol profissional", tem suas necessidades imediatas.
Não existe certo ou errado nesse cenário na recusa de Fili, mas para mim existe sempre o Flamengo em primeiro lugar e o meu conceito de ídolo.
Quem sabe o Fili não muda de ideia? Estou torcendo por isso.
A palavra está com vocês.
Bom FDS e SRN a tod@s.