Foto: Ricardo Cassiano/Agência O Dia |
"Há no Flamengo esta predestinação para ser, em certos momentos, uma válvula de escape às nossas tristezas. Quando nos apertam as dificuldades, lá vem o Flamengo e agita nas massas sofridas um pedaço de ânimo que tem a força de um remédio heróico. Ele não nos enche a barriga, mas nos nunda a lama de um vigor de prodígio." José Lins do Rego.
Salve, Buteco! O que fazer quando não tem jogo do Flamengo? Neste 20 de maio, aqui no Buteco, celebraremos o aniversário de João Batista Nunes de Oliveira, o "João Danado" ou "Nunes do Flamengo", o "Artilheiro das Grandes Decisões".
Nascido nesta mesma data no ano de 1954, na cidade de Cedro de São João, em Sergipe, Nunes passou 5 (cinco) anos nas categorias de base do Flamengo, onde ingressou no infantil, egresso do Fluminense de Feira de Santana, até ser dispensado na transição para o profissional.
Conforme relata Marcos Eduardo Neves em seu livro "NUNES, o Artilheiro das Decisões" (1ª Edição; Rio de Janeiro; Rotativa, 2018), foi um período de grande aprendizado, especialmente a partir do momento em que pôde começar a residir na antiga concentração de São Conrado:
"Joãozinho finalmente se mudava para a concentração. Local onde pôde conhecer Cantarelli, Rondinelli, Geraldo, Zico, jogadores da sua e das categorias de cima. A partir de então, passaria por uma gigantesca transformação.
Quando entrei na Gávea minha infância acabou. Passei a ser preparado para ser jogador. Era outro tipo de formação, de educação. Sempre fui reservado, focado. Quando se quer muito chegar a um objetivo, é preciso evitar tentações. Tem que saber se alimentar, treinar bastante, dormir cedo, não beber ou fumar, enfim, ter vida de atleta. Por sorte, aprendi isso cedo."
O sonho de jogar no profissional do Flamengo, contudo, não se concretizou. Ao menos naquele momento. Mas algo lhe dizia que um dia iria voltar.
"Na única experiência como comandante do ataque, por exemplo, deu mostras de que vinha sendo mal aproveitado como ponteiro:
Numa segunda-feira, o Mineiro me viu abatido e disse: por que você não treina de centroavante? Aceitei. Zagallo comandava os profissionais em e colocou contra seus reservas. Fiz quatro gols no Renato. Pena que foi o último treino."
"Ao estourar a idade limite, ganhou a dispensa. Ainda assim, Mineiro lhe pediu para passar na sua sala antes de se despedir.
Ele tinha assistido àquele meu último treino e decidiu ligar pro Dequinha ex-volante que fez hstória no Flamengo e treinava o Confiança, em Aracaju. Avisou que mandaria a Sergipe o centrovante que ele precisava. Escreveu uma carta e me deu. Agradeci, e ele ainda fez questão de pagar minha passagem de volta pro Nordeste.
Retornou sem um tostão no bolso.
A ajuda de custo que ganhávamos só dava para comprar sabonete; comer pipoca no cinema, quando saíamos com algumas meninas; e comprar o mínimo de roupa. Não sei como, mas eu ainda coseguia mandar um dinheirinho pra minha mãe.
Decepcionado, numa das poucas vezes na vida em que chorou, com os olhos marejados e o coração a arder, num misto de revolta e raiva, deixou com o enfermeiro Serginho uma profecia:
Estão me mandando embora, mas ainda vão me comprar bem caro"
Pé na estrada, sua vitoriosa carreira continuou, a despeito da grande frustração. E depois de muitos anos, durante os quais se tornou o maior jogador das histórias do Confiança e do Santa Cruz, recebendo propostas de Atlético de Madrid e América do México (recusadas pelo Santa Cruz), e de defender as cores do Fluminense e do Monterrey, além da Seleção Brasileira, sempre marcando muitos gols, o dia do retorno finalmente chegou:
O resto é História.
E vamos relembrar um pouco dela, com o Manto Sagrado, nas palavras do próprio aniversariante do dia:
Depois do Flamengo, mais pé na estrada - Botafogo, volta ao Flamengo, Náutico, Santos, Atlético Mineiro, Boavista (Portugal), mais uma vez Flamengo e Volta Redonda.
Nunca deixou de ser ídolo. Tanto que, com a camisa do Botafogo, ajudou a derrubar até presidente - Antonio Augusto Dunshee de Abranches, que havia vendido Zico e debochado da torcida, renunciaria ao cargo pouco depois dos vexaminosos 0x3, os quais, com direito a olé, apressaram um bocado todo o processo.
Despediu-se do futebol na Gávea, numa emocionante homenagem do clube que sempre amou e foi amado de volta:
Deus te abençoe, João Danado! E que Ele ainda te dê muitos anos de vida, repletos de saúde e felicidade!
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.