Salve, Buteco! Acredito que, nessa convivência de mais ou menos 15 anos e meio com vocês por aqui, cresci como pessoa. Aprendi a importância de escutar opiniões diferentes e, mais do que tudo, especialmente em futebol, que nem tudo tem uma só causa ou uma explicação simples. Logo, acredito ser muito importante escutar a opinião de cada torcedor, até quando não parece, em princípio, fazer sentido. Tenho como postura de vida tentar ser coerente, sem ter medo de mudar de opinião quando os fatos me mostram o contrário.
Tem algo de errado no time de Tite e o jogo de ontem, entre Corinthians x Fluminense, acabou me fazendo enxergar melhor e, sobretudo, aceitar que o Campeonato Estadual pode ter sido uma ilusão. A rigor, o Flamengo, jogando bem, ganhou do Fluminense, porém os outros adversários do tricolor carioca vêm mostrando que o campeão da Libertadores já não é mais o mesmo.
O que sobra, então, no time do Tite nesta temporada, se desconsiderarmos os jogos contra o Fluminense, esse Fluminense que apanha de todo mundo?
Absolutamente nada, desde o Philadelphia Union e o Orlando City, sejamos francos. No máximo, uma vitória sobre o São Paulo com o elenco derrubando o treinador Thiago Carpini. Logo, é forçoso que o Flamengo de Tite, em 2024, só se impôs contra adversários relevantes que estavam em processo de decomposição.
Admitir esse fato não retira a minha obrigação (comigo mesmo) de ser coerente. Eu ainda não fui apresentado a motivos consistentes para mudar minha opinião quanto à maior responsabilidade da relação mal explicada e miscigenada da Diretoria, especialmente o vice-presidente de futebol, com o elenco, especialmente suas maiores estrelas, e daí achar que os treinadores, um a um, são muito mais inviabilizados do que se inviabilizam pelos erros que cometem.
Continuo achando que é muito mais do que estranho, mas absolutamente bizarro que treinadores com a experiência e o patamar salarial (internacional) de Vitor Pereira, Jorge Sampaoli e Tite não consigam fazer o Flamengo jogar futebol. E continuo achando que há um processo de decadência do elenco, que tem essa convicção de não ter a obrigação de jogar o futebol globalizado que o mundo todo pratica, o qual exige o "jogo sem a bola" e uma dedicação maior à profissão, em detrimento dos prazeres que a vida na Cidade Maravilhosa proporciona aos mais apaniguados financeiramente.
Só que agora o bicho pegou. A gente que vive e respira o Flamengo sabe que a derrota de ontem foi um divisor de águas, especialmente considerando os riscos assumidos pela comissão técnica em suas decisões, algumas delas claramente decorrentes de insatisfações com a própria Diretoria, conforme não deixaram margem para dúvidas as declarações públicas de Tite (escalação no segundo jogo contra o Nova Iguaçu).
Os dois próximos jogos pelo Brasileiro e pela Libertadores, após a estreia na Copa do Brasil contra o Amazonas, no Maracanã, serão Bragantino, no Nabi Abi Chedid, e Palestino, no Municipal Francisco Sánchez Rumoroso, em Coquimbo, no Chile. Nos dois últimos jogos em Bragança Paulista, 0x1 em 2022 (queda de Paulo Sousa) e 0x4 em 2023 (sacolejo de Jorge Sampaoli); nos dois últimos jogos no Chile contra adversários absolutamente inexpressivos, dois empates - 2x2 contra o Unión La Calera em 2021 (Ceni, pouco antes das finais do Estadual) e 1x1 contra o Ñublense em 2023 (Sampaoli, alvejado por críticas).
Como cantaria Cazuza, vejo um museu de grandes novidades - treinadores posicionais tentando impor jogo físico e pelas pontas, e o elenco respondendo com atuações desalmadas, sem qualquer inspiração. Os treinadores vão e a torcida fica... amarrada com correntes aos mesmos dirigentes e jogadores. Ninguém merece! Estou com as barbas de molho, inclusive porque o Flamengo do Tite, repetindo o Flamengo do Vitor Pereira e também o do Sampaoli, é absolutamente pífio como visitante.
O time de Tite precisa de melhor saída de bola, é engessado e tem enormes dificuldades para criar e marcar gols. Contudo, a repetição de padrão do início de cada temporada sugere um problema muito mais complexo e profundo do que simplesmente o trabalho de cada treinador, e, na minha opinião, como ia dizendo agorinha pouco, tem a ver com a mal explicada, esquisita, nebulosa relação do vice-presidente de futebol com as estrelas do elenco.
Estrelas decadentes, que fique claro mais uma vez. Para Bruno Henrique, raçudo, jamais omisso, mas mal tecnicamente, a idade parece ter chegado. É mais difícil ganhar os duelos individuais, por mais que se esforce. Para outros, como Arrascaeta, a idade cobra uma fatura menor, mas a postura é esquisita e a falta de ímpeto, decepcionante. Os idólatras sempre o imunizarão de qualquer crítica. Mas Arrascaeta, no limiar dos 30 anos de idade, está disposto a voltar a se sacrificar e a dar o sangue como há 5 (cinco) anos, quando chegou ao clube? Ou será que quer continuar a jogar só com a bola?
Pedro, extremamente técnico, parece não ter dentro de si a gana dos vencedores, o fogo nos olhos que jamais faltou a Gabriel Barbosa, o Gabigol, quando seu maior interesse era ser jogador de futebol profissional. Pedro já teve a minutagem que vem tendo com Tite no Flamengo? Já teve, em algum momento da carreira, a responsabilidade de ser o comandante titularíssimo, absoluto, do ataque de um clube do tamanho do Flamengo? Pedro ama mais a competição e os recordes ou o conforto? Quem marca os gols quando o nosso camisa 9 está com os pensamentos no Mundo de Nárnia?
Gérson não é mais o garoto de 2019, mas tem idade para render muito mais no aspecto físico. Qual será a faceta de Gérson que prevalecerá nos próximos anos? O Guerreiro de Jorge Jesus ou o espectro que voltou da França? E Gabigol, quando voltar (se voltar)? Será predominantemente trapper ou jogador de futebol? Esses jogadores todos têm por aspiração que seus companheiros corram por eles? Querem que o Flamengo marque com quantos jogadores?
Pouco importa quem vai marcar, desde que não seja eu...
Ain, as 11:00 am eu não consigo ser intenso...
Mas o problema não acaba nas estrelas. Antes fosse. Quem são os coadjuvantes desses jogadores? Cebolinha, Luiz Araújo (o Cebolinha desidratado), Fabrício Bruno (o burro), Varela? Onde está o talento, além do inconstante Cebolinha? Alguém já parou para pensar que, em 5 anos e meio de mandatos de Rodolfo Landim e de Marcos Braz como chefe do futebol do clube, o setor direito do clube saiu de Rafinha e Everton Ribeiro (mais jovem) para Varela e Luiz Araújo? Quem tomou essas decisões? Como culpar o treinador?
Em que pese toda essa miríade de fatores que precedem a sua chegada, Tite está cada vez mais me lembrando Paulo Souza, na inflexibilidade e apego religioso às ideias táticas, bem como na esgrima com a Diretoria, inclusive cobrança por reforços, sem esquecer das decisões estratégicas. Claro que com muito mais educação, elegância e modos para gerir o vestiário.
E não que esteja totalmente errado. Muito pelo contrário, aliás. Nessa guerra, eu não teria a menor sombra de dúvida quanto a qual lado escolher.
Só que a gente sabe como o filme acaba e nesse ano não tem nenhum Dorival no mercado, valendo destacar que, dessa vez, o risco de rodar na fase de grupos da Libertadores parece ser real e concreto. Na prática, o time precisa melhorar imediatamente, num espaço de 6 a 8 dias.
Os Amigos acreditam nessa possibilidade?
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.