segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Internacionalização da Marca

Salve, Buteco! O tema não é novo e sempre foi abordado como uma espécie de meta dos Blues desde a campanha da eleição de 2012. Neste segundo mandato da gestão Rodolfo Landim, volta e meia retorna ao noticiário (1, 2 e 3). No último sábado, no dia em que o mundo inteiro do futebol foi forçado a assistir ao Al Hilal da Arábia Saudita enfrentar o Real Madrid pela final do Mundial de Clubes FIFA, em vez do esperado (e anunciado) confronto entre os Merengues e o Flamengo, o jornal inglês The Guardian publicou esta matéria qualificando a eliminação para os sauditas, na semifinal, como humilhante.

Percebam que a questão é mais profunda do que pura e simplesmente analisar o valor do elenco do algoz, assim como os bons valores individuais que possui, na medida em que envolve a expectativa que o Flamengo tem criado, no mundo do futebol, de ser uma potência sul-americana capaz de começar a desafiar o patamar de entrada da esfera mais competitiva do futebol europeu. É neste mesmo contexto que se inserem (im) posturas como a do vice-presidente de futebol Marcos Braz e do atleta Arturo Vidal, cada qual provocando a sua maneira, descontraída ou quase erótica, o clube mais vitorioso do mundo em competições internacionais.

Questionado, o dirigente afirmou que foi apenas uma brincadeira e que o assunto não deveria ser levado tão a sério. Contudo, parece ser inevitável que este ente ao qual me refiro, o "Mundo do Futebol", analise contextualmente as provocações e a maneira pela qual o Flamengo se preparou para o início da temporada/2023 e o próprio Mundial de Clubes. Temas como a "auto concessão de férias" pelos próprios jogadores, com o Campeonato Brasileiro ainda em curso, e a extensão dessas mesmas férias, além das saídas de titulares e troca de treinador, não têm como ser afastados dessa mesma análise.

Causa-me enorme desconforto a lembrança que essa sequência de eventos me traz em relação ao vexame do América do México, nas oitavas de final da Libertadores/2008. A comemoração antecipada, os festejos exagerados, o menosprezo à força da competição e dos adversários, bem como à reputação do clube em competições internacionais, e ainda ao próprio projeto e à expectativa da internacionalização da marca, que os próprios dirigentes criaram...

Tudo isso forma um cenário que me impede de ter esperanças em uma evolução no Departamento de Futebol até o fim do atual triênio dessa Diretoria, que parece confiar incondicionalmente no estilo de gestão pessoal, amador e festivo do vice-presidente de futebol.

Trocar de gestor já seria complexo pela escassez no mercado de profissionais aptos a um desafio desse tamanho. Mais complicado ainda é, até para quem se predispõe a "trabalhar sério", definir um "projeto esportivo" que tantos cobram. Logo, não faz sentido cobrar algo dessa envergadura de quem não tem a menor predisposição para tanto. 

Por isso mesmo, o nosso destino, ao menos até o final de 2024, é continuar na ciranda de técnicos, contratações aleatórias e "intuitivas", vexames e recuperações dramáticas, com muitos festejos, embora essa última espécie de desfecho talvez possa ser considerada cada vez mais improvável.

Milagres não acontecem em todas as temporadas.

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A substituição de Dorival Junior por Vítor Pereira tem vários ângulos pelos quais pode ser analisada. Tecnicamente, envolve dois estilos de jogo completamente distintos. Segundo os experts, o do brasileiro seria de estilo mais funcional, curto e aberto a improvisações (jogo intuitivo), preferido pelo elenco do Flamengo, enquanto o do português seria mais posicional, longo e físico, com movimentos mais controlados. Há também os precedentes Domènec Torrent e Paulo Sousa, e o desgaste notório de ambos com o elenco, antes de suas respectivas demissões.

O caso de Vítor Pereira, contudo, traz nuances que claramente faltam aos paradigmas europeus anteriores. O português é, desde a saída de Jorge Jesus, o primeiro treinador do Velho Mundo, aqui referido como o primeiro patamar do futebol internacional, com bom currículo internacional, assim entendido como o acessível ao patamar do Flamengo. Não há fundamento em questionar a sua capacidade para treinar o clube e este elenco, sejam quais forem as preferências pessoais dos nossos estimados e talentosos, porém idiossincráticos atletas.

A saída de dois titulares e a falta de reposições à altura, em ambos os casos pelas diferentes características de sucessores e antecessores, forma outra nuance que infelizmente não tem entrado na balança das avalições sobre o trabalho do atual treinador. Sem as duas peças (Rodinei e João Gomes), e com a extensão do período de férias que ele próprio ajudou a conceder aos atletas, nem mesmo Dorival poderia "se repetir". Logo, muito provavelmente, acaso houvesse permanecido, estaríamos em pleno debate acerca dos seus "prazo de validade" e "teto" como motivos da decomposição da qualidade de jogo e da competitividade do time, só que numa proporção maior do que a dos debates que precederam as finais das Copas no ano passado.

É claro que a diferença entre os estilos e ideias de Dorival Junior e Vítor Pereira aumenta o problema; porém, além da extensão desse aumento ser inexata e de quase impossível aferição, até porque o português é bem mais flexível do que seus antecessores europeus "pós-Jesus", vale lembrar, como afirmei mais acima, que é inescapável a qualquer análise contextual a forma pela qual o Flamengo planejou  a temporada/2023 e sua participação no Mundial de Clubes.

Para além disso, a insistente repetição de padrão, com a contratação de "europeus posicionais" seguida de um "choque cultural" com o elenco, resultados catastróficos e as posteriores demissões com rescisões milionárias, sucedidas por contratações de brasileiros "gestores de grupo", já está um tanto esquisita, abrindo margem para um diversificado e perigoso naipe de desconfianças e questionamentos.

De minha parte, se a duração da passagem de Vítor Pereira pelo Flamengo vier a ser minimamente diferente do que o cumprimento de seu contrato até o último dia, não defenderei mais a contratação de treinadores estrangeiros por essa gestão, pouco importando o estilo, de jogo ou de gestão de grupo.

É preciso limites e autocrítica, até mesmo por nós, torcedores, ou ninguém mais poderá dizer que está sendo enganado.

E quem vos escreve, vocês bem sabem, não é exatamente um fã incondicional do jogo de posição, certo?

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Falando um pouquinho de campo e bola, deixo-os com esse vídeo do canal do ótimo jornalista Bernardo Ramos e o que me parece ser o problema mais imediato a ser atacado pelo nosso atual treinador português. "O Flamengo não marca ninguém", como disse o notório e experiente treinador argentino Ramón Diaz, "ex-futuro-quase do Botafogo", atualmente no Al Hilal. O número de lançamentos bem-sucedidos dos adversários, aludido pelo Bernardo, é simplesmente assustador - a cada dois, um atinge o alvo, o que gera um grau de 50% de ineficiência nas interceptações (!).

Vítor Pereira parece estar convicto de que a solução é o time se defender por via da posse de bola e, no que transpareceu ser uma defesa dessa ideia, elogiou os vinte e poucos minutos iniciais da partida contra o Al Ahly, durante os quais, de fato, os egípcios mal saíram de seu próprio campo e o Mais Querido abriu a contagem. Entretanto, como nunca nos deixa esquecer o querido Bitts (@Bittencourt23), como marcar e recompor com o desgastado quarteto? A efemeridade da execução deste plano de jogo, contra o Al Ahly, justifica plenamente os antigos questionamentos do nosso exigente amigo.

A primeira dúvida que me ocorre, e me intriga, é a condição física de Giorgian de Arrascaeta. Até acho que o uruguaio jogou mais ligado no último sábado, coisa que, convenhamos, há tempos não acontecia, mas a verdade é que já passou da hora de se identificar a causa (anímica, contusão ou simplesmente física) e combatê-la. O mundo não vai acabar se, durante o processo, o xodó da Nação começar algumas partidas no banco. É de obviedade ululante que, em plenas condições, é titular natural e absoluto. 

Que tal ele colaborar mais para atingir esse objetivo?

Outra dúvida é Everton Ribeiro, que gosto de chamar de "Mago da Camisa 7". Adoro, meu ídolo, a ponto de meu coração torcer para que renove o contrato e encerre a carreira no clube, claro que antes aceitando a condição de jogador de elenco e não ostentando mais a condição de titular (e mesmo de capitão). 

Será que estou sonhando demais?

E para não dizerem que não falei das flores, Gabriel Barbosa, o nosso novo camisa 10. Estou entre os que desconfiam que anda mais lento, talvez pelo estilo de trabalho muscular que vem desenvolvendo. Mas há quem diga que é só impressão, pelo "uniforme apertado" (rs). O certo é que está mais forte e musculoso (não me parece nem um pouco obeso), e a sua condição de "meia", assim entendida como de jogador mais recuado e participante da construção de jogo, ao menos para mim, ainda está para ser provada. Uma grande atuação contra o Palmeiras, e outras duas nem tanto, contra os "Als", Hilal e Ahly, justificam as minhas dúvidas.

Pedro, o "Queixada", forte, ágil, focado e implacável, seria hoje o meu único titular absoluto do quarteto.

E encerrando por aqui, pergunto-lhes o que Mister VP deveria fazer: manter quarteto, montar quinteto, como alguns sugerem (com Cebolinha), ou reduzir para trio ou duo? E com quais volantes?

O importante é não desafinar.

Algo dentro de mim confia e me faz acreditar que Vítor Pereira superará essas adversidades, convertendo-se no nosso grande maestro fora das quatro linhas.

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A palavra, como sempre, está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.