domingo, 4 de setembro de 2022

Entre o Oba-Oba e a Priorização Velada

 

Salve, Buteco! Os posts mais difíceis de escrever, para mim, são os pós-jogo com resultado desfavorável para o Flamengo, especialmente em jogos disputados no domingo à noite. Não me adianta escrever na segunda-feira pela manhã, por falta de tempo. Então, toda derrota no domingo, especialmente à noite, é um desafio aos meus ideais de ponderação e racionalidade. São poucas horas até a virada do dia e, apesar do compromisso de tentar ser o mais lúcido e racional possível nas análises, é muito difícil não ceder às emoções. 

Ora, então por que diabos esse post logo agora, se o jogo foi as 11:00 am? Não seria melhor deixar para a noite e esfriar a cabeça por algumas horas? Correndo o risco de ser taxado de incoerente, a energia desse jogo está tão pesada que prefiro deixá-lo logo para trás e pensar no calendário, tema do post de amanhã.


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A mesclagem do time A com o B não é tão simples como parece. Marinho, Gabigol e Cebolinha é uma formação muito pouco utilizada. O Ceará, a seu turno, não é um adversário do tipo "boi da baba cansada". Apesar de ainda não ter vencido no returno, tem, entre os clubes de menor investimento, um dos elencos mais equilibrados. Há anos que a Diretoria cearense aposta em força física, altura e defesa sólida, fórmula que vem mantendo o Vovô na Série A há alguns anos.

Dorival conhece essa realidade, até porque veio para o Flamengo rescindindo o contrato com o próprio Ceará Sporting Club, o que certamente se tornou um fator especial de motivação para eles, além do histórico de surpresas contra o Mais Querido, entre edições da Copa do Brasil e alguns jogos pontuais no Maracanã.

Esse contexto torna difícil compreender a escolha por Diego Ribas começando o jogo. Não se nega a força mental, a liderança, a raça e a coragem do capitão. Só que já passou (e muito) da hora de reconhecer que acrescenta muito pouco ao time atualmente. A título de exemplo, o primeiro escanteio em favor do Ceará surgiu de um giro de Jô na frente da grande área, totalmente livre, com o nosso capitão, próximo ao lance, não reagindo e apenas assistindo. Por sinal, um prenúncio do gol que ainda viria a ser sofrido minutos depois, no final da primeira etapa.

O problema piorou porque Victor Hugo, como volta e meia acontece, simplesmente foi um mero espectador dentro de campo. Somaram-se ainda o desentrosamento do Pulgar e a falta de encaixes entre os pontas e os laterais, a explicar a absoluta ausência de criação por parte do time nos quarenta e cinco minutos iniciais. Aliás, se jogou algumas vezes com Pulgar pela Seleção Chilena, por que Vidal não foi escalado?

A verdade é que, no contexto de dois 4-3-3 espelhados, o Vovô teve menos problemas do que o esperado para neutralizar o nosso ataque.

Ressalvo e destaco a atuação de Gabigol, que muito se movimentou no ataque e foi rigorosamente o único jogador que ameaçou levar perigo à defesa cearense antes do intervalo.

Gostei também do Varela. Não que tenha se destacado, mas para mim mostrou boa movimentação e ainda venceu quase todos os duelos individuais.

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Dorival mostrou atitude e corrigiu o problema (e seu próprio erro na escalação inicial) com as entradas de Matheuzinho, Vidal, Everton Ribeiro e Pedro já no intervalo. Ainda nos minutos iniciais, Gabigol confirmou o foco no jogo e a boa atuação no primeiro tempo conseguindo empatar a partida. Só que, depois disso, e apesar da pressão, o time assustou poucas vezes o gol cearense. Até a interrupção da transmissão do Premiere, os lances mais perigosos me pareceram as finalizações de Pedro (grande defesa de João Ricardo) e Cebolinha (raspou no travessão).

Demonstrando bem menos organização do que em partidas anteriores, desde o primeiro tempo o time cedeu vários contra-ataques perigosos ao Vovô. Ainda que o adversário não tenha levado perigo ao gol de Santos, esses contra-ataques propiciaram-lhe oportunidades para afastar a bola de sua defesa, fazer o tempo correr e desgastar o Flamengo na tentativa de recuperar a bola.

Infelizmente, esse contexto levou Dorival a cometer o seu segundo maior erro, ao lado da escalação inicial. Ao retirar Pulgar e lançar Matheus França, nosso treinador agravou o problema, praticamente suprimindo a capacidade do meio campo de se antecipar aos contragolpes e possibilitando ao Ceará aumentá-los em quantidade, assim como em proporção todos os problemas daí recorrentes. 

Foi uma decisão taticamente infeliz, para dizer o mínimo.

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Comentei com amigos durante o intervalo que a arbitragem acertou tecnicamente todos os lances no primeiro tempo, mas havia um "dolo de amarração". O árbitro escolheu a dedo os lances para atrasar e picotar o jogo, com artifícios sub-reptícios como preciosismo na escolha de local de cobranças de falta e em lances nos quais deixou de dar vantagem, por vezes interrompendo jogadas promissoras para substituições.

No segundo tempo a coisa mudou de figura. Foi mão de Vidal no lance que levou Jô a xingar o árbitro e ser expulso. O erro não justifica a atitude de Jô, assim como o "dolo de amarração" não justifica a histeria de Gabigol. O árbitro apenas escolheu o lance errado para expulsá-lo. O momento correto teria sido o escândalo digno de uma diva de ópera junto às placas de publicidade atrás do gol de Santos. O bico para cobrar logo a falta talvez passasse batido fosse outro o contexto.

Mas a  arbitragem não justifica o resultado, é bom que se diga. Muito pelo contrário, o descontrole do time para lidar com um árbitro brasileiro que picota jogo é que surpreende e preocupa. E quando lembro que o Vice-Presidente de Futebol e o Diretor de Futebol são negacionistas quanto ao tema psicologia no futebol (esporte de alto rendimento), a minha preocupação só aumenta. O ridículo cartão amarelo tomado por Pedro reforça todo esse contexto (contra o Goiás, não teremos centroavante).

Por conta disso, torço pelos mais fracos nas finais da Copa do Brasil e da Libertadores. E para mim, esses adversários são Fluminense e Athletico/PR. 

Não que viriam (ou virão) a ser fáceis. A questão é que, aos meus olhos, o Fluminense traria a motivação e a oportunidade de revanche por conta do Estadual e Fernando Diniz é menos treinador do que Vítor Pereira (com todo o respeito a quem pensa o contrário). 

Alguém dirá que o Palmeiras também traz a oportunidade de vingança, mas neste ponto, novamente pedindo perdão a quem pensa de outra forma, devo lembrar que o Palestra, além de bicampeão da América do Sul, é um time taticamente estruturado em um histórico de dois anos, e seu treinador (e sua Direção) aposta (m) profissionalmente no preparo psicológico, fator decisivo nos momentos de maior pressão.

O "mental" do Flamengo me deixa bastante ressabiado...

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Tem ainda a questão do salto alto e do oba-oba após a histórica exibição em Buenos Aires. Só que não é apenas isso.

Priorização entre as três maiores competições do calendário (Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores) é um tema recorrente, mas ainda assim um tabu para o Flamengo, ou ao menos se pode dizer que as discussões se dão em âmbito interno e sem qualquer transparência. 

Aliás, a impressão é que a priorização pelas copas é feita pela Diretoria e os treinadores são contratados cientes de que serão escudo político e assinam com o compromisso velado de não tocarem no tema em público. Tudo indica que a própria remuneração é pactuada levando esse fator em conta. Afinal de contas, é muito mais complicado assumir os erros de planejamento e escolhas anteriores de treinador, que dificultaram o desencadeamento da temporada.

A própria torcida evita o tema e prefere fingir que não existe. Sempre cobrou vencer as três ou, quando menos, "a la Zeca Pagodinho", deixando a vida (e o calendário) levar (em) o time ao sabor do vento. Só que ninguém nunca ganhou as três, tem esse "pequeno detalhe".

Ainda assim, e apesar de tudo, acho que nunca houve uma temporada com tantos fatores positivos convergindo para que o inédito (conquista das 3) ocorresse, o que, no entanto, não impediu que o velho problema ressurgisse, novamente com a Diretoria fingindo que o assunto não existe.

Convenhamos, acho que agora ficou bem claro que a priorização parece ser uma realidade nas internas. O Campeonato Brasileiro é terceiro plano. Até o elenco entrou na onda. Os relatos de jogadores brincando alegremente de "empinar garrafas" ainda no primeiro tempo não me deixam mentir.

Como dirigente não costuma assumir responsabilidade, acho que isso jamais mudará.

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América do México é o fim da picada, não me levem a mal.

Desculpa escrotal do Dorival, cujo dever é não escalar e substituir mal.

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A palavra está com vocês.

Bom resto de domingo a tod@s.