domingo, 31 de julho de 2022

Placar Moral: Flamengo 8x0

 

Salve, Buteco! Acho que já contei pra vocês, mas gosto de lembrar que cresci lendo as resenhas esportivas de "O Globo". Foi inclusive parte do meu processo de alfabetização. Dá saudades de muita coisa, inclusive da coluna "Penalty", do jornalista "Otelo Caçador", que exalava humor e rubro-negrismo saudáveis. Uma de suas tiradas para mim mais impactantes (eu ainda era muito novo) foi quando ele publicou (com direito a charge e tudo) a notícia de um convite de um Convento de Freiras para um amistoso com o... Botafogo.

Imagino como ele faria a festa hoje em dia, com tanto mimimi de adversários rubro-negros...

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A passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo entrou para a História por conta de tudo o que sabemos e também por outro aspecto menos comentado, que é jogar luzes sobre o atraso tático de treinadores brasileiros, e mais ainda sobre o atraso em gestão de departamento (de futebol, claro) dos dirigentes.

Desde a temporada de 2020 noto, progressivamente, treinadores até mesmo de divisões inferiores brasileiras implantando conceitos táticos mais modernos. Por exemplo, acho que não tem mais ninguém hoje em dia que faça a saída de bola com o famoso "bicão para frente" como proposta principal de jogo e não como um recurso ocasional, cada vez mais raro. Não é que ninguém fizesse uma "saída de três" antes, mas depois de Jesus muita coisa mudou, inclusive o hábito de jogar com linhas altas.

O mais curioso, para mim, é o caso do treinador brasileiro que julga ser europeu, ou que virou europeu. Já é possível ver vários assim. E o processo pode ser pior quando se trata de um ex-atleta famoso. Um exemplo claro é o Jorginho, ex-lateral do Flamengo, do Vasco da Gama e da Seleção Brasileira.

Após suportar a tradicional pressão de início de jogo do mandante, o sujeito resolveu adiantar as linhas e foi tomando um, dois, três, quatro gols, que poderiam ter sido cinco, não fosse a inacreditável chance perdida por Lázaro. O time goianiense é organizado, mas falta a Jorginho, como a outros treinadores brasileiros, coragem para enxergar limites para seus sistemas pretensamente autorais. Não que seja exclusivo de brasileiros, pois há bons exemplos de estrangeiros alucinados por aí. Incorporar ideias novas exige filtro. É como se estivéssemos, no Brasil, indo do oito para o oitenta, sem meio termo.

O destaque absoluto do primeiro tempo foi Victor Hugo. Pelo porte físico e talvez o estilo de jogo, será que pode ser um novo Renato Augusto? Arturo Vidal também teve o feeling para aproveitar o momento e já marcar o seu primeiro gol com o Manto Sagrado, de "Penalty". Os titulares poupados saindo do banco de reservas para abraçá-lo foi um excelente sinal de energias positivas no grupo.

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Uma das partes que mais gostava da coluna "Penalty", de Otelo Caçador no Globo, era a do "Placar Moral", quando ele falava do escore final que poderia ter sido em cada jogo. Contava tanto volume de jogo, quando gols perdidos. Já falei da chance desperdiçada por Lázaro no primeiro tempo, e o cria resolveu perder outra igualmente clara na segunda etapa. Parece que precisa melhorar o fundamento do jogo aéreo. De qualquer modo, gostei de sua movimentação no ataque. Confesso-me surpreendido pela desenvoltura.

Vitinho resolveu seguir o exemplo de Lázaro e, talvez em sua partida de despedida pelo clube, perdeu mais dois gols feitos em lances que ainda poderiam ter trazido mais duas assistências para as estatísticas individuais de Gabigol, que por sinal entrou com fome de bola (outro ótimo sinal).

Na transmissão, Paulo Vinícius Coelho, o PVC, falou (bizarramente) que o Atlético Goianiense goleou no primeiro tempo e "ganhou o segundo", como no jogo do Palmeiras e em outro, tentando estabelecer um padrão. Ocorre que o único padrão que pode ser tirado do jogo de ontem, até porque o gol goianiense foi irregular, por falta em Diego no início da jogada, é o das cotoveladas de adversários em jogadores do Flamengo, que parecem ter virado moda.

Ah, e foi pênalti claro no Marinho, assim como Léo Pereira e Willian Maranhão deveriam ter tomado cartão vermelho, no primeiro caso pela cotovelada em Everton Cebolinha e, no segundo, pela criminosa entrada em Marinho.

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Essa postagem de ontem no Twitter é do tamanho do Atlético Clube Goianiense.

O placar moral do jogo é Flamengo 8x0 e não se fala mais nisso.

Saudades, Otelo Caçador.

Bom domingo e SRN a tod@s.