segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Semana Perigosa

Salve, Buteco! Fevereiro chegou para fechar a 33ª Rodada do Campeonato Brasileiro, a primeira (vejam só), desde o início do certame, na qual todos os participantes começaram com o mesmo número de jogos. Parto da premissa de que no momento estamos potencialmente em segundo lugar, a quatro pontos do líder Internacional, faltando seis rodadas e dezoito pontos a serem disputados. É que, no âmbito do G4, o Flamengo será o último a jogar, hoje, as 20:00h (o Ficha Técnica subirá as 19:00h), já sabendo o que precisa fazer para diminuir a distância em relação ao líder. E é bom que dê alegrias à torcida, pois o efeito dos históricos 4x2 sobre o Grêmio, em Porto Alegre, já passou.

Também pudera. Neste último final de semana, a torcida rubro-negra passou pelo constrangimento de assistir ao, hoje, maior rival interestadual conquistar a Copa Libertadores da América/2021, em pleno Maracanã. Será que o elenco rubro-negro sentiu a responsabilidade que tem nos ombros nessa reta final de campeonato? Espero que sim, pois os dois próximos adversários adversários, muito embora lutem para fugir da temida ZR (zona do rebaixamento), têm uma filosofia de jogo reativa que complicou o nosso time em partidas recentes, sob o comando de Rogério Ceni, como, por exemplo, os 0x0 contra o Fortaleza e o 0x2 contra o Ceará.

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Mal comparando, o Sport Recife joga de maneira semelhante a ambos e também ao Goiás, adversário que enfrentamos pela 30ª Rodada em Goiânia. Dirigido por Jair Ventura, o rubro-negro pernambucano tenderá a "generosamente" ceder a bola ao Flamengo, visando aproveitar espaços na nossa defesa por via de contra-ataques em velocidade. Porém, além de ter um meio de campo um pouco mais técnico do que o dos goianos, o Sport tem características que apimentam o jogo no aspecto psicológico. Para início de conversa, os confrontos contra esse adversário, mais ou menos desde a década retrasada, passaram a ser marcados pela rivalidade decorrente da disputa pelo título brasileiro e da Copa União de 1987, o que, especificamente no confronto de hoje, tem como elemento adicional a peculiar presença de Rogério Ceni no banco do Mais Querido.

Não conheço nem sequer um torcedor flamenguista que tenha remota simpatia por esse coirmão nordestino, e a recíproca parece ser verdadeira. Além disso, e como se já não fosse o suficiente, o treinador Jair Ventura e o meia Thiago Neves são conhecidos "desafetos" da Nação Rubro-Negra, e Márcio Araújo, se não chega a ser, é quase isso, motivo pelo qual não deixou saudades.

Por outro lado, o histórico do confronto direto contra esse adversário tem outras peculiaridades bem interessantes. Há quem não dê peso algum a retrospecto e considere uma mera superstição, mas gosto de pesquisar o tema, na medida em que, quando menos, lida-se com fatos e uma possível tendência para confrontos futuros. Pois bem, considerando os confrontos na Ilha do Retiro, Sport Recife e Flamengo já enfrentaram, por competições oficiais, em dezoito ocasiões, com 6 vitórias cariocas, 6 empates e 8 vitórias dos pernambucanos. A vantagem dos mandantes foi construída no Século XX, que terminou com 8 jogos, dos quais o Flamengo venceu apenas 2, empatou 1 e perdeu 5. Já no Século XXI o Mais Querido, em 10 jogos, venceu 4, empatou 3 e perdeu outros 3.

Para quem é realmente supersticioso, vale ressaltar que, todas as vezes em que foi campeão brasileiro e jogou contra o Sport, o Flamengo perdeu ao menos uma partida (em 1992 foi 1x2 no Maracanã), e as duas disputadas na Ilha do Retiro - 1982 (1x2) e 2009 (2x4, de virada). Inclusive, em 1982 o time então campeão do mundo estava quase completo, desfalcado apenas de Nunes. Em contrapartida, quando venceu, o que ocorreu em 1982 (2x0) e 2009, pelo Campeonato Brasileiro, o Mais Querido não tomou gols no Maracanã e o último placar (2009) foi 3x0, tal como em 2020, pela 13ª Rodada. 

Escolham a superstição de sua preferência, valendo lembrar que o Mais Querido gastou praticamente todos os créditos para tropeços.

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Não tenho dúvidas de que o confronto com potencial mais explosivo é o de quinta-feira, contra o arquirrival Vasco da Gama, no Maracanã. Desde que trouxe de volta Vanderlei Luxemburgo, o adversário inegavelmente se tornou mais forte psicologicamente, ganhando a confiança necessária para, ao menos temporariamente, escapar da temível ZR. O mesmo Luxemburgo que já foi um treinador cujo futebol de seus times enchia os olhos de qualquer um que gostasse do esporte, porém entrou em um processo de decadência do qual jamais se recuperou. Contudo, apesar disso, além de, com sua experiência, encontrar espaço para acalmar o conturbado ambiente do Vasco da Gama, que há tempos vive uma crise intermitente, o "Luxa" tornou-se um tipo de especialista em jogos nos quais atua como "franco-atirador", ou seja, naqueles confrontos nos quais toda a responsabilidade, inclusive de propor o jogo, é do adversário. Foi assim nos 4x4 contra o Flamengo de Jorge Jesus e no recente 1x1 contra o Palmeiras de Abel Ferreira, o mais novo campeão sul-americano.

Não é que os times dirigidos por Luxemburgo sejam totalmente incapazes de converter em gol jogadas bem construídas, e sim que esse tipo de ocorrência, no passado natural e rotineira, passou a ser uma raridade. Mauro Cezar Pereira (@maurocezer), no Twitter, nesta última semana, apontou bem um desses eventos raros, justamente nos 3x2 contra o "propositivo" Atlético/MG de Jorge Sampaoli. A jogada do terceiro gol, uma verdadeira pintura, foi concluída com a assistência do bom meia Benítez para a finalização do ótimo centroavante German Cano, dupla argentina que representa, efetivamente, a maior ameaça ao improvisado sistema defensivo rubro-negro.

É aqui que, literalmente, mora o perigo. O que mais me preocupa em relação a esse confronto é o aparente "encaixe" entre as maiores virtudes do limitado time cruzmaltino e os defeitos mais recorrentes do Flamengo neste certame, viabilizado pela, se é que assim podemos dizer, "distribuição de responsabilidades" que atualmente existe neste confronto. A bela construção do terceiro gol vascaíno pode ser uma raridade, mas os gols de Cano, o "artilheiro de um toque só", ainda mais com as potenciais assistências de Benítez, certamente não o são.

Vale lembrar que motivação não faltará ao adversário. São 16 jogos (5v e 8e) e quase cinco anos desde a última derrota, na semifinal do Estadual de 2016 (jogo de Manaus).

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Além desses dois adversários "reativos", a semana terminará em Bragança Paulista contra a sensação atual do campeonato, o Bragantino, dirigido por ninguém menos do que o nosso ex-treinador Maurício Barbieri, e que, ao contrário dos outros dois, deverá disputar a posse de bola e efetivamente pressionar o Mais Querido do Brasil, fechando uma perigosa e decisiva semana para as pretensões de título no Campeonato Brasileiro/2020. Este Flamengo vem se sentindo mais a vontade contra os "propositivos" do que contra os "reativos", porém o Massa Bruta deverá jogar de maneira bem mais intensa do que o Grêmio.

Voltando à superstição, digo, ao retrospecto, o Mais Querido mais venceu (2v e 1d) do que perdeu no Marcelo Stefani, sendo que os últimos dois jogos terminaram com 1x0 ao nosso favor.

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O Flamengo, enquanto aspirante ao título brasileiro da temporada 2020, não resistirá a essa perigosa semana se não tornar uma constante tanto a postura, como o desempenho do segundo tempo dos 4x2 em Porto Alegre.

Os pênaltis marcados a favor do Internacional, contra Grêmio e Bragantino, e do Atlético/MG, contra o Fortaleza, mostram que a CBF não está para brincadeira.

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A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.