segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Gelo no Sangue

Salve, Buteco! A única vez que Flamengo e Racing se enfrentaram por uma competição oficial remonta ao longínquo ano de 1992, nas semifinais da Supercopa dos Campeões da Libertadores. Na ocasião, o jovem time do Flamengo, então já campeão brasileiro, acabou sendo superado pelo mais experiente Racing (3x3 e 0x1), que ainda tinha alguns jogadores campeões da edição de 1988 da mesma competição. Minhas memórias mais vivas são do jogaço de ida, disputado no Pacaembu, tendo em vista a interdição do Maracanã para reformas após a tragédia do segundo jogo da final contra o Botafogo, naquele mesmo ano. Do jogo do Cilindro, mal me recordo do gol que deu a classificação para a Academia. O jogo do Pacaembu foi o do golaço do Maestro Júnior de falta e o Mais Querido quase saiu de campo derrotado, só conseguindo empatar no finalzinho com um gol de pênalti de Djalminha. No bom time do Racing, destacavam-se os uruguaios Ruben Paz (ex-Internacional) e Gustavo Matosas (ex-São Paulo), além do infernal atacante Cláudio "Turco" Garcia, que marcou um gol e fez um partidaço naquela noite de novembro. 

Observem que Turco Garcia, ex-jogador da Seleção Argentina nas categorias de base, não deve ser confundido com Omar "Turco" Asad, famoso centroavante do Vélez Sarsfield, que várias vezes enfrentou o Mais Querido naquela mesma década. Eis uma foto do cabeludo Turco Garcia, ao lado do cracaço Ruben Paz:

Não podemos extrair qualquer referência daquele encontro, senão que, aparentemente, os papéis estão invertidos no confronto pelas oitavas de final da Libertadores/2020. Hoje, o Flamengo é o time mais tarimbado e também com mais talentos individuais, enquanto o desfalcado Racing e seu jovem treinador buscam encontrar forças para superar o atual campeão da América do Sul.

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O jogo de sábado foi, taticamente, o que mais gostei desde a volta da paralisação para a pandemia. O time realmente jogou como se ainda fosse dirigido pelo saudoso Velho Marrento de Lisboa. Não enxerguei nem mesmo o que de bom havia no time do nada saudoso catalão. Méritos ao Ceni, que felizmente parece estar preocupado com o ajuste do sistema defensivo. Mal comparando, naqueles 6x1 sobre o Goiás, em 2019, segundo jogo do Mister no comando do Mais Querido, o time foi bem mais incomodado pelo Goiás do que o fisicamente combalido time de Ceni pelo Coritiba. Em contrapartida, o número extravagante de chances perdidas e os próprios placares mostram que ainda há um longo caminho para o Flamengo voltar ao "outro patamar" do qual tanto nos orgulhamos.

Especialistas em futebol argentino indicam que o jovem Sebastián Becaccece montará um Racing mais cauteloso, mesmo que em seus domínios, tamanho o número de desfalques e considerando ainda o péssimo retrospecto recente. Que isso não seja motivo para excesso de confiança por parte dos nossos jogadores, primeiramente pelo exemplo de superação que eles próprios deram nas partidas contra Barcelona de Guayaquil, Independiente del Valle e Junior de Barranquilla, nas três últimas rodadas do Grupo A. Em segundo lugar, a História do Futebol é repleta de exemplos de equipes que vão mal nos campeonatos nacionais e conseguem se superar nas copas. O próprio Flamengo de 2003 e 2004 é prova disso.

No lugar de Ceni, iria para o Cilindro com "gelo no sangue" e esperaria o Racing tomar a iniciativa e buscar o resultado. Apesar de muito feliz com a atuação de sábado, acho que ainda falta bastante, em termos físicos e também táticos, para podermos assumir tantos riscos marcando em linha alta. Vale lembrar que o placar foi aberto e a vitória foi construída a partir de um fulminante contra-ataque. E assim também foram construídas muitas das melhores chances desperdiçadas.


Aposto como o inquieto Becaccece não aguentará muito tempo no modo cauteloso, se o Mais Querido tiver frieza suficiente para esperar.

E vocês, o que fariam no lugar do Ceni?

Bom dia e SRN a tod@s.