segunda-feira, 2 de março de 2020

O Junior de Barranquilla

Salve, Buteco! O Club Deportivo Popular Junior Fútbol Club S.A. ou Junior de Barranquilla, também conhecido por "El Tiburón", é o maior clube da "região caribenha" da Colômbia, o terceiro clube mais antigo e o quinto que mais conquistou títulos no futebol colombiano. Apesar disso, não costuma ser incluído dentre os "5 maiores", quais sejam, Atlético Nacional, Millonarios, América de Cali, Independiente Santa Fé e Deportivo Cali. Na verdade, dois clubes antigos e tradicionais lutam para entrar nesse grupo: o próprio Junior de Barranquilla e o Independiente de Medellín, porém o Junior, graças ao grande sucesso futebolístico obtido na última década dentro do futebol colombiano, não só descolou, como superou o tradicional Deportivo Cali em número de títulos: doze contra onze. Criou, assim, uma "situação de fato" e agora busca consolidá-la. E realmente basta pesquisar um pouco a respeito do Junior para que se perceba a sua luta para se tornar um grande e ser reconhecido como tal. É importante ter atenção a este aspecto para compreender o adversário da próxima quarta-feira, que possui características que talvez nenhuma outra torcida entenda tão bem como a do Flamengo, conforme explicarei adiante.

Por ora, observem que o sucesso do Junior na última década é digno de nota, pois nesse período conquistou quatro de seus cinco títulos do Campeonato Colombiano, suas duas Copas da Colômbia e sua única Superliga da Colômbia. Chama ainda mais a atenção o fato de que os dois últimos títulos foram conquistados em 2019 - o Apertura/2019 e a Superliga da Colômbia, ambos no primeiro semestre do ano, sendo que, no segundo semestre, o Junior foi vice-campeão do Finalización, perdendo a final para o América de Cali.

Portanto, amigos, o Junior de Barranquilla é uma realidade atual do futebol colombiano, ascendente na América do Sul nas últimas duas décadas. Aliás, justamente pela ascensão do futebol colombiano, cuja forte seleção tem diversos jogadores no exterior, inclusive em grandes centros da Europa, o Junior, ao contrário dos equatorianos, não tem jogadores que venham sendo convocados para a seleção principal; porém, da mesma forma que eles, possui vários jogadores da seleção sub-23 do país, dos quais merecem destaque o lateral esquerdo Gabriel Fuentes e os meia-atacantes Edwuin Cetré e Luis Sandoval. 

O Junior tem ainda o segundo elenco mais caro do Grupo A, com alguns jogadores bem conhecidos dos torcedores brasileiros e rubro-negros, tais como o centroavante Borja, contratado ao Palmeiras, e o meia Sherman Cárdenas, ex-Atlético/MG e Vitória, além de alguns remanescentes da campanha semifinalista da Copa Sul-Americana de 2017, que enfrentaram o Mais Querido, tais como o goleiro Sebastián Vieira (capitão), o zagueiro Rafael Pérez, o meia James Sánchez e o veteraníssimo centroavante Teófilo Gutiérrez (34 anos), autor do gol que abriu o placar na inesquecível virada de 2x1 no Maracanã, e também destinatário, em Barranquilla, de um inesquecível corretivo aplicado pelo nosso ex-volante Gustavo Cuéllar, na não menos inesquecível vitória por 2x0.

Todavia, apesar da boa temporada em 2019, o início de campanha do Junior no Apertura/2020 tem altos e baixos, mesmo com a quarta colocação. Após uma tranquila vitória por 2x0 sobre o La Equidad na estreia, sobrevieram três empates por 0x0 (Deportivo Cali, Once Caldas e Tolima), um 1x0 (Independiente Medellín) e duas partidas com muitos gols, sendo elas uma derrota de 1x3 para o Santa Fé e a outra uma vitória, na última sexta-feira, por 3x2 contra o modesto Jaguares, apenas o 15º colocado. A impressão é de um time que ainda não se acertou nesta temporada, pois os números, definitivamente, estão longe de impressionar: 12.3% de acerto nas conclusões a gol e média de 90 minutos para marcar um gol.

Contudo, o diabo mora nos detalhes e é bom ter atenção para algumas peculiaridades da performance do Junior na última década. Para começar, na fase "todos contra todos" do Apertura e do Finalización/2019, uma espécie de fase de pontos corridos, o Junior ficou, respectivamente, em modestos 7º e 4º lugares. Ocorre que os títulos desses torneios, após essa fase de "todos contra todos" entre os vinte participantes, são decididos por uma final entre os dois classificados nas semifinais, compostas por dois grupos de quatro nos quais todos se enfrentam em jogos de ida e volta, exatamente como na fase de grupos da Copa Libertadores da América.

Pois bem. Tanto no Apertura, quanto no Finalización/2019, o Junior terminou em primeiro em seu grupo, demonstrando que o desempenho na fase de "pontos corridos" escondia um time que cresce muito nos momentos decisivos. O desempenho de 2019, ademais, apenas repete o que ocorreu nas campanhas vitoriosas da década no próprio Campeonato Colombiano, na Copa da Colômbia e na Superliga Colombiana, como ainda nas boas campanhas nas Copas Sul-Americanas de 2017 (semifinal) e 2018 (final, vice-campeão para o Athletico/PR), comprovando que o Junior se tornou um especialista em competições do tipo "mata-mata" ou eliminatórias.

Essa identidade "copeira" que o Junior construiu na última década se deve em boa parte à umbilical relação que possui com o seu veterano treinador uruguaio Julio Comesaña (71 anos), que dirige o clube pela nona vez. Com ele, o Junior conquistou três campeonatos colombianos (1993, 2018 e 2019) e uma Copa da Colômbia (2017), o que o transforma em uma espécie de "Carlinhos do Junior de Barranquilla", com curiosos episódios de "idas e voltas", a ponto de, no último, no início de 2019, após o Junior iniciar o ano sob o comando de Luiz Fernando Suárez e a imprensa local bradar que "por fin un técnico de talla internacional dirigirá al Atlético Junior", Comesaña, vindo de passagem relâmpago pelo Colón de Santa Fé, retornar triunfal no início de maio para os "cuadrangulares semifinales", recuperando "o brilho e o nível" dos jogadores, e afirmando que seu lugar no mundo "es Barranquilla e sentado en el banco del Metropolitano".

Comesaña é um velho conhecido do Flamengo, pois dirigiu o Junior nas semifinais de 2017. Naquela ocasião, descreveu seu time como "un equipo al que gusta jugar com el balón. Cuando no podemos hacerlo porque los adversarios nos superan, conseguimos defendernos bien sin la pelota. Nos agrupamos bien en diferentes partes del campo y tenemos que saber jugar de las dos formas: cono o sin o balón." Incomodou, sem dúvida, mas não foi páreo para o nosso ex-treinador colombiano Reinaldo Rueda, que então possuía um saldo recente positivo contra o uruguaio. Aliás, embora na imprensa colombiana encontre-se boas referências táticas, inclusive recentes, ao trabalho de Comesaña, o estilo falastrão parece fazer parte da personalidade do uruguaio, que no final de 2019 atribuiu ao seu Junior a condição de mejor equipo táctico de la Liga”.

A emocional relação entre o Junior e Comesaña, ao meu ver, é emblemática e define um clube que tem um pé no profissionalismo, a ponto de ser uma S.A. (sociedade anônima), e outro no  lado mais emotivo do amadorismo. As aspirações do Junior são altas e lembram, em alguma medida, a verdadeira sina pela qual o Flamengo passou até resgatar sua identidade no passado recente, particularmente no ano de 2019, com a diferença de que, ao contrário do Flamengo, que sempre foi um gigante, o Junior busca ser reconhecido como um clube grande. Apesar de já haver dado passos firmes nesse sentido no cenário colombiano e ter feito boas campanhas na Copa Sul-Americana nos últimos anos, nunca passou de uma verdadeira baba quando disputou a Copa Libertadores, o que de certa forma explica as recentes declarações do presidente do Junior exigindo a vitória sobre o Flamengo, sem dúvida um pitoresco exemplo do espírito amador que ainda marca esse clube, que parece não haver se convencido de que pode atingir as metas que estipulou para si próprio.

É aqui que mora o perigo.

Que ninguém se engane: por sofrer a pressão de ser menor do que gostaria que fosse, especialmente em nível sul-americano, e pelo alto nível do Grupo A, o jogo de estreia, Senhoras e Senhores, será uma final para o Junior de Barranquilla. Em razão disso, acredito que os colombianos elevarão a temperatura do jogo, possivelmente com jogadas mais ríspidas e até violentas. O Flamengo deve desprezar o histórico do início da temporada em curso e esperar um adversário jogando em seu mais alto nível, tomando por parâmetro mínimo os melhores momentos da temporada passada. O Junior, portanto, jogará sua vida na Libertadores/2020 nessa estreia. 

Ganhando bem o Flamengo, o Mais Querido matará psicologicamente o Tiburón e até o “amaciará” para os equatorianos, provavelmente chegando na condição de líder do Grupo, após o jogo do Maracanã pela segunda rodada (Barcelona), aos dois confrontos sequenciais como visitante no Equador (Independiente del Valle e Barcelona). Contudo, se perder (ou até empatar), Amigos, pode “despertar o monstro”, sedento por uma campanha dignificante na Libertadores, e complicar ainda mais um Grupo que já nasceu complicado. Vale lembrar que o Flamengo receberá o Junior no Maracanã na última rodada do Grupo A e o "Velho" Comesaña vem mostrando que sabe como “zerar” um placar, especialmente como visitante. Por isso mesmo, na minha opinião, não existe esse papo de “empate fora de casa é bom resultado.” Tem é que ganhar, e bem.

O desafio do Grupo A parece ter sido feito à medida para o Supercampeão do Brasil e da América do Sul, mais conhecido como “O Campeão da Porra Toda”.

A bola rola para Junior de Barranquilla x Flamengo as 21:30h da próxima quarta-feira, 4 de março de 2020. A partida será disputada no Estádio Metropolitano Roberto Meléndez, El Coloso de la Ciudadela, com capacidade para 46.788 espectadores, onde a Seleção Colombiana manda os seus jogos e onde o Flamengo já jogou e venceu duas vezes o próprio Junior, pela Libertadores/84 (2x1) e pela Sul-Americana 2017 (2x0).

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.