terça-feira, 4 de junho de 2019

Perspectiva sobre a chegada de Jorge Jesus

Olá Buteco, bom dia!

Hoje teremos uma coluna especialmente produzida pelo meu primo, Luiz Filho, sobre a chegada do português Jorge Jesus.

Com a palavra, Luiz!

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Fala Butecada! Beleza?

Depois de algum tempo e depois de uma conversa com o Leandro, dono do espaço, fui instado a escrever sobre Jorge Jesus. Escrever pro Buteco e voltar pra casa é sempre reconfortante e muito bom! O problema é que a tal conversa se deu antes da confirmação da contratação feita pelo clube, e já saíram diversas matérias sobre a forma em que joga, o perfil, etc, etc, etc. Como ser “criativo”? Complicado não ser repetitivo neste momento. Tentarei. E trarei aspectos sobre o que penso para o Flamengo após a Copa América. 

Perfil

Jorge Jesus (o salvador e novo treinador do Flamengo) tem 64 anos é português e foi um jogador mediano, que chegou a jogar no Sporting. Como treinador passou novamente pelo Sporting e pelo Benfica, sendo o recordista de temporadas consecutivas no comando (seis). Evoluiu na carreira com clubes desde a terceira até a primeira divisão portuguesa e é considerado por muitos o melhor treinador de Portugal (dentro do mercado interno deles, não o melhor português, diga-se). Por não dominar a língua inglesa, e talvez, por ter um linguajar popular, não conseguiu migrar para outras grandes ligas na Europa (esteve com um pé no Milan).
Tem qualidade para ser testado em liga maior na Europa e bom conhecimento sobre o futebol do Brasil. É ‘workaholic’, focado em questões táticas e personalidade muito forte. Enxerga o trabalho do particular para o geral, conversa diretamente com os atletas do elenco, com instruções individuais e encaixe coletivo no campo e por vídeo em palestras. A comunicação é simples e meticulosa, o treinamento é mecânico, em busca padrões, repetições, e após, variações dentro desse padrão atingido. É bastante exigente taticamente. Obsessivamente. 

Sistema de Jogo e Características


Seu esquema principal, o 4132 não é muito usual nem na Europa, já que “espeta” os dois atacantes nos zagueiros adversários. Deve jogar com os três meias (Arrascaeta, Diego e Éverton Ribeiro) e linha defensiva com quatro jogadores e às vezes um quinto jogador, o volante central (à frente explicaremos). Esta linha de três meias tem jogadores de diversas características, e neste aspecto um elenco tão heterogêneo, como o do Flamengo leva vantagem na montagem e na rodagem dos atletas quando o calendário apertar. Suas equipes são competitivas e tem a mentalidade ofensiva e organizada, intensidade alta, principalmente sem a bola. É provável que deva acelerar o jogo.
Organização Defensiva

A característica principal do jogo de Jesus é a recuperação da posse e o posicionamento defensivo. A preferência, na verdade o treino, se dá no sentido de que os atacantes ocupem os espaços vazios, sem pressionar “diretamente” o portador da bola. Buscar o erro do passe, sem dobra de marcação e com a subida da linha de zaga para sufocar, sem deixar espaços vazios em que o adversário escape. Quanto mais rápido se recuperar a bola perto do gol adversário, melhor. Quando o adversário gira a bola e “inverte” o jogo, a defesa se reposiciona da mesma forma, mesmo que andando para trás. 



O objetivo é a recuperação da posse com intensidade no perde e pressiona, via fechamento de linhas de passe e compensação com cobertura. Atacantes que povoam a faixa central, flutuam para o lado apenas na pressão defensiva. Na virada de bola, o time acompanha, povoando o setor da bola. A ilustração tenta demonstrar o posicionamento dos jogadores no campo. Diego, Arão e Arrascaeta, principalmente, vão ter dificuldade neste sentido, sofrer na cobertura eventual de companheiros que tenham sido sobrepujados, mas nada que o treinador não resolva. Cuellar sobra neste aspecto.



A “novidade” se dá em relação ao posicionamento defensivo, a linha baixa em "L", sempre deixando um dos dois atacantes pronto para o contragolpe e o volante vem pra linha dos zagueiros. Jesus gosta da defesa com linha de cinco “flutuante”, sempre protegendo o centro do campo (frente do gol). Posiciona ao menos três jogadores para fechar a linha de passe ofensiva. Um dos dois atacantes estará sempre disponível para contragolpear o adversário. Vale repetir e salientar que são aspectos fundamentais para o novo treinador a recuperação da bola e pressão no adversário, transição defensiva e proteção à área, além do escape (bote) para um contragolpe veloz e direto.

Saída de Bola e Organização do Ataque 


Jesus tem como preferência o recuo do primeiro volante para a saída de bola, colocando em linha os zagueiros e abrindo os laterais. O meia central também tem papel importante na movimentação, flutuando e buscando se opção de passe. Não gosta de rifar a bola e a transição objetiva apenas atrair o adversário, alargando a marcação oponente em rápida passagem do campo de defesa para o campo de ataque, tentando pegar o adversário “distraído”. O goleiro joga e laterais saem com a bola, assim como o volante volta para iniciar está saída. A amplitude se dá no segundo momento com a bola. Depois da chegada da bola aos meias. Passe direto e velocidade.
Com o ataque organizado, busca dar liberdade aos homens criativos, mas quase sempre buscando jogadas com os dois atacantes, preferencialmente um pivô. Como não temos centroavantes com esta característica, penso que ele privilegiará triangulações com estes atacantes, tirando os zagueiros adversários da zona de conforto. Com isso, sempre um dos atacantes ficará dentro da área para finalizar. ER, Arrascaeta e Diego tem chances de jogarem juntos, desde que se encaixem na questão defensiva (perde e pressiona).
Abre o campo adversário com os laterais (amplitude), pode deixar buracos. Gosta de que a equipe entre com grande número de atletas na área pra finalizar e exige a recuperação rápida da bola. Busca a posse objetiva para definir o jogo. Em tese jogaremos com o Diego no lugar do Arão, por conta do meia central, articulador. Nosso elenco é bem versátil, vamos ver se utilizará peças diferentes em situações de jogo diferentes, inclusive variações de peças e características do meia central. Temos diversos jogadores que podem jogar em duas ou três posições diferentes, e caso queira, até com um time 1 e time 2, já que a única coisa fixa será o padrão.




Bola Parada

Não tenho imagens de bola parada, mas alguns dos podcasts e palestras que ouvi sobre a bola parada ofensiva do nosso treinador falam sobre bloqueios e atletas posicionados estrategicamente para levarem superioridade na área adversária. Na bola parada defensiva, protege o gol em zona, também em “L” desde o primeiro poste. Marca com nove jogadores dentro da área, três soltos em zonas para movimentação e um solto para a segunda bola fora da área. Para esta tem um link no You Tube.



Equipe, Treino e Preparação.

Minha grande preocupação são as relações interpessoais, que podem desgastar rápido. Jogador brasileiro é cheio de melindres. Só pelo intercâmbio já vejo como positivo. Espero que o time aceite. A nova comissão técnica precisa dar atenção ao clima, ao calendário e ao cansaço mental também, pela intensidade aplicada e pelo desgaste ao fim da temporada, observando viagens longas e partidas sequenciais.
Os auxiliares parecem muito atentos aos processos, no auxílio à equipe, vem para ajudar em aspectos extracampo, inclusive em possível prospecção de jogadores (atenção à base e jogadores de clubes pequenos). O projeto me anima pela intensidade que ele deverá aplicar ao elenco e ao campo, mas particularmente não gosto muito desse tipo de ataque direto. Exatamente o que Abel Braga tentava aplicar ao time. Prefiro um controle pela posse, evitando que o adversário fique com a bola, mas sem esterilidade. Abrir espaço e atacar, voltar, mudar para ferir o adversário. As situações e técnicas de treinamento devem diferir do aplicado por Abel Braga. A diferença entre os dois estará no tipo do sistema de marcação e defesa. Intensidade altíssima!

A escola portuguesa tem muitas nuances, como as nossas aqui, portanto é terrível igualar nomes e estilos, comparar coisas às vezes incomparáveis. Vivem muito o jogo e seus atletas também tem que vibrar na mesma energia. Todos tem que ter compromisso com O JOGO, com os detalhes, com a preparação, tudo. São estudiosos. Espero sinceramente que eleve o Flamengo a um patamar ainda não atingido, um patamar de enfrentamento europeu, de quem chegou longe em ligas Europa e competiu em Champions League. A ver o que se pratica e como se aplica ao Brasil. De toda forma, bem-vindo JJ! Sucesso!

FLAMENGO HIC ET UBIQUE

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Fontes