Incerteza e renovação.

Como costuma acontecer
nesses casos, o primeiro pescoço degolado é o do treinador, no caso Zagalo.
O “Lobo”, que contava com
o título brasileiro para catapultar seu retorno à Seleção Brasileira, pagou por
subestimar seus adversários e montar um planejamento equivocado, julgando que
três empates fora de casa bastariam para a conquista da vaga (arrumou dois
empates no Nordeste, perdeu em Pelotas e viu um desmotivado Bahia ser
facilmente superado em casa pelos xavantes na última rodada, resultado que se
tornou decisivo para definir a chave). Ademais, o pobre futebol apresentado por
uma equipe coalhada de craques como Zico, Tita, Adílio, Bebeto, Jorginho,
Leandro, Andrade, Mozer e Fillol (onde, em seis jogos, apenas os 3-0 sobre o
Bahia foram convincentes), aliado ao desgaste natural ocasionado por um
trabalho de mais de um ano sem conquistas expressivas, selaram a sorte de
Zagalo, cuja demissão é decretada após a derrota no primeiro jogo de uma excursão
pelo Brasil arranjada às pressas (0-1 Blumenau).
Enquanto os membros da
Diretoria vão medindo forças e tentando emplacar seus preferidos para o lugar
de Zagalo, o Flamengo segue seu cansativo “bye bye Brasil”, em busca de cachês
que minimizem a perda das esperadas arrecadações milionárias das Finais do
Brasileiro. Assim, no dia em que o Coritiba supera o favorito Bangu (que
amassara o GE Brasil nos dois jogos das Semifinais, aumentando a irritação rubro-negra)
e, diante de um Maracanã com 100 mil pagantes, conquista nos pênaltis seu
primeiro (e provavelmente único) Brasileiro, o Flamengo, diante de uma animada
plateia que se aboleta no pequeno Estádio João Krieck, em Rio do Sul-SC, goleia
o Juventus local por 5-0.
Recomeço.
A próxima parada promete
ser mais divertida. Tarde de domingo, Estádio Rei Pelé, Maceió-AL. O Flamengo
irá enfrentar o CSA, numa partida que é badalada ao longo de toda a semana. O
tira-teima. O grande duelo. Mais um capítulo do embate entre Zico e… Jacozinho.
Abre parênteses.



Alguns jornais, com
efeito, não perdoam: “Jacozinho rouba a festa de Zico”.
Fecha parênteses.
Os jornais de Maceió
abrem manchetes garrafais, promovendo o “tira-teima” entre Zico e Jacozinho.
“Depois de brilhar no terreiro de Zico, agora Jacozinho vai cantar de galo em
sua casa”, “Jacó roubou a festa de Zico e vai mostrar quem é que manda aqui”,
entre outras provocações.
Além da envergadura do
adversário e do peculiar contexto criado para a sua promoção, a partida também
ganha importância para o torcedor do CSA, uma vez que provavelmente assinalará
a despedida de Jacozinho. É aguardada a presença, na capital alagoana, de um
dirigente do América-RJ, que deseja contratar o jogador. Botafogo e Santa Cruz
também manifestam interesse, e os Dirigentes azulinos sabem que o momento de
negociar Jacozinho, no auge de sua valorização, é agora. Assim, não são poucos
os que tratam esse amistoso contra o Flamengo como a “Despedida de Jacozinho”.
Tal como o Flamengo, o
CSA pereceu na Segunda Fase do Brasileiro. Mas, enquanto a eliminação caiu como
um vexame na Gávea, a participação da equipe alagoana (superada por
Atlético-MG, Guarani e Ponte Preta), que fechou em 13º um campeonato com 44
participantes, foi recebida com orgulho por sua torcida. Que acredita, sim, que
o Azulão é capaz de se impor ao poderoso Flamengo de Zico.


21 minutos. Escanteio
para o Flamengo. Élder cobra, Zé Luís sai de soco e Adalberto, na risca da
grande área, acerta bela cabeçada por cobertura. Flamengo 2-0.
23 minutos. Chiquinho
arranca pela esquerda, dribla um zagueiro e bate fraco. Zé Luís bate roupa e
Zico, na corrida, emenda pro gol. Flamengo 3-0.


Tudo sob o comando de
Zico, que vai regendo a equipe, enjoando de fazer lançamentos e passes
açucarados para seus companheiros, que invariavelmente “arrumam uma forma” de
desperdiçar as chances criadas. O Galo vai mostrando um posicionamento um tanto
mais recuado e uma índole mais organizadora. Vai assumindo o papel de regente,
de “arco” da equipe. E mostrando que, em forma e com ritmo de jogo, sobrará no futebol
brasileiro, tão carente de talento.
Resta a Jacozinho aceitar
seu papel de coadjuvante. É bem verdade que o irrequieto ponteiro emplaca uma
ou outra jogada mais plástica, que serve apenas para divertir os presentes e
aporrinhar o lateral Jorginho. Apagado, apenas chama a atenção quando, na
descida para o intervalo, cercado por microfones, abre um sorriso e, resvalando
para a desfaçatez, desfere sua frase de efeito:
“Vamos virar!”
Evidentemente, o CSA não
vira a partida. Aliás, não chega nem perto disso. É bem verdade que o Flamengo
tira um pouco o pé, e com isso os alagoanos melhoram de produção, passando a
circular um pouco mais nos arredores da meta de Zé Carlos. Mas, tirando um
saçarico de Jacozinho que rabisca a defesa flamenga e se perde pelo caminho e
uma cobrança de falta perigosa que exige uma boa defesa de Zé Carlos, os da
casa pouco produzem. E é o Flamengo quem, novamente, consegue as melhores
oportunidades, a maioria criada por minuciosos lançamentos de Zico. Num deles,
Ronaldo Torres se projeta e entra sozinho na área, mas é derrubado pelo estabanado
goleiro Zé Luís. Pênalti, que Zico cobra mal, fraco, nas mãos do goleiro
alagoano, uma das poucas cobranças que desperdiça em toda a sua carreira.


Afinal de contas, o
espetáculo não pode parar.
* O Flamengo, depois de
golear o CSA, ainda realiza três amistosos pelo Nordeste. Vence todos, jogando
um futebol elogiado. O desempenho, os resultados e o minucioso relatório
preparado no retorno ao Rio impressionam a Diretoria, que passa a prestar mais
atenção em Sebastião Lazaroni.
* Após quase fechar com
Ênio Andrade e chegar a anunciar Edu Antunes, voltando atrás após protestos e
pichações promovidas por algumas torcidas organizadas, o Flamengo contrata o
experiente Joubert (Campeão pelo rubro-negro em 1974) para o comando técnico da
equipe, o que é considerado um retrocesso. Joubert não resiste à péssima
campanha na Taça Guanabara e é demitido. E, enfim, chega a hora de Lazaroni.
* O América desconfia de
leilão e desiste da contratação de Jacozinho, que assina com o Santa Cruz. Na
equipe pernambucana, não consegue repetir o brilho das atuações no CSA, e logo
retorna ao clube alagoano. Depois, perambula por mais algumas equipes
nordestinas e encerra a carreira, de forma quase anônima.
* Zico marca mais dois
gols nos amistosos restantes, seguindo como o grande nome da equipe. Na
estreia pela Taça Guanabara, anota duas vezes nos 5-0 sobre o Bonsucesso. Na
rodada seguinte, surge Márcio Nunes. E o resto é história.
Esta coluna entrará em
recesso junino. Retorno previsto em 17 de julho.