quarta-feira, 1 de maio de 2019

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos.

Como aperitivo para o jogo de logo mais, seguem algumas lembranças positivas de jogos do Flamengo no Beira-Rio.

Que traga bons presságios para o Mengão.

* * *

INTERNACIONAL 2-3 FLAMENGO, 17 DE MARÇO DE 1982

O Flamengo vem de derrota no Mineirão para o Atlético-MG (1-3), e novo revés tornará dramática a situação rubro-negra no chamado “Grupo do Povo” da Segunda Fase do Brasileiro. A chave, que tem o surpreendente Corinthians (egresso da Taça de Prata, a Segunda Divisão) em primeiro lugar com 7 pontos, está embolada na segunda posição, com Flamengo (4 pts), Atlético-MG (3 pts) e Internacional (2 pts) brigando diretamente pela vaga restante nas duas últimas rodadas.
A torcida colorada, consciente do que está em jogo, comparece ao Beira-Rio, com 41 mil pagantes. Que assistem a uma das melhores partidas de toda a competição. O Internacional pressiona muito, encurrala o Flamengo, mas é o rubro-negro que abre o marcador, quando Zico (que atua sem condições de jogo, sofrendo forte conjuntivite) escora de cabeça uma bola rebatida por Gilmar Rinaldi. Os da casa não desistem e pouco depois chegam ao empate, num gol esquisito do zagueiro Mauro Pastor, aproveitando falha clamorosa de Raul. O gol incendeia o estádio, e logo no início da segunda etapa o Inter vira o marcador, numa cabeçada do trombador Geraldão. O Flamengo sente o gol e sofre pesada pressão. Por pouco os colorados não liquidam a fatura, o que é evitado por várias defesas espetaculares de Raul, que se redime da falha. Mas, quando tudo parece perdido, o elenco faz a diferença. Reinaldo Potiguar, após bela trama do ataque, fuzila na saída de Gilmar, empatando o jogo. E, já a três minutos do fim, Vítor manda um balaço de fora da área, selando a sensacional virada flamenga. É um prêmio para o volante, que na véspera havia sido convocado para a Seleção de Telê (mesmo ocupando a reserva de Andrade). A vitória, além de espantar o fantasma da desclassificação, ainda resulta na conquista da vaga antecipada. É o Flamengo no caminho do Bi.


INTERNACIONAL 1-1 FLAMENGO, 06 DE DEZEMBRO DE 1987

O Beira-Rio, apinhado com 63 mil pagantes, tinge-se de vermelho para a primeira partida da Final do Brasileiro. O Flamengo, que vem de um triunfo histórico contra o Atlético-MG no Mineirão, é tido como favorito. Mas os de Carlinhos, conscientes das armadilhas preparadas pelo matreiro treinador colorado Ênio Andrade, mantêm suas linhas recuadas e fazem um jogo cauteloso, cientes das dificuldades ofensivas do adversário. Dá certo. O jogo, truncado, desenvolve-se com raras chances de gol. O destaque é Renato Gaúcho, que perturba, provoca, faz gestos e desestabiliza o adversário. E, numa jogada individual, cruza para Bebeto escorar de cabeça, já com 30 minutos de jogo. Os rubro-negros ainda comemoram o gol quando o Colorado, ferido, consegue o empate num belo arremate de seu goleador Amarildo. A segunda etapa segue no mesmo tom. O Flamengo, cauteloso, retendo a bola em seu campo, e o Internacional impotente para furar o bloqueio do rival e exercer uma pressão mais aguda. Bebeto, em um dos mais belos lances do campeonato, ainda acerta uma bicicleta no travessão. E o Inter, no último momento do jogo, suspira a chance da vitória numa bola mal recuada para Zé Carlos. No fim, o empate em 1-1 que é celebrado pelo Flamengo e aceito com otimista resignação pelos gaúchos. “Já derrotamos outros adversários fora de casa. Estamos acostumados”. Mas dessa vez será diferente. No tira-teima do Tetra Brasileiro, o Flamengo de Zico & Cia. levará a melhor.


INTERNACIONAL 1-2 FLAMENGO, 11 DE AGOSTO DE 1999

É a quarta rodada do Brasileiro. O Flamengo, em 14º lugar após vencer a Ponte Preta na estreia (1-0) e ser derrotado pelos paranaenses Atlético (2-3 na Baixada) e Paraná (0-1, no Maracanã), precisa se reabilitar para se aproximar do pelotão de classificação (o chamado “G-8”). Mas a situação do Internacional é ainda pior. Ocupando a lanterna após perder as três partidas que disputou, o Colorado já começa a se assustar com o fantasma do rebaixamento. E é um Beira-Rio às moscas, nervoso e hostil que assiste ao Flamengo (desfalcado de Romário, lesionado) tourear um adversário que não consegue dominar os nervos. Os primeiros 45 minutos, de baixo nível técnico, terminam sem gols. Na segunda etapa, Carlinhos adota postura mais agressiva e parte para a vitória. Logo no início, Athirson, em bela jogada individual, serve Beto, que deixa para Leonardo Inácio bater forte e abrir o marcador. O Flamengo segue melhor na partida, sem ser ameaçado. E dá a estocada final aos 38', quando Leandro Machado, que volta ao time após três meses, acerta uma varada no ângulo do goleiro Preto. Leandro, ex-Inter, num gesto ainda pouco comum, não comemora o tento em respeito ao adversário. O segundo gol é a gota d'água para que a torcida passe a hostilizar sua própria equipe, aplaudindo a troca de passes flamenga, ao irônico grito de “olé”. Nem mesmo o gol do atacante Christian (que está se despedindo do clube), marcado aos 42' numa falha defensiva da zaga flamenga num escanteio, arrefece o clima pesado. No fim, Flamengo 2-1 e o início de uma arrancada que acabará na liderança. O ápice que precederá a queda. E a crise.


INTERNACIONAL 1-3 FLAMENGO, 11 DE AGOSTO DE 2002

Cravar que a expectativa do torcedor flamengo para a estreia do Brasileiro é baixa significa incorrer em certo exagero. Porque, a rigor, é nenhuma. Em menos de um ano, o dinheiro da ISL se esvai e, como que acordado de um sonho para uma dura realidade, o rubro-negro, ao invés de Petkovic, Edilson, Gamarra, Vampeta e Leandro Machado (jogadores com os quais o Flamengo perdeu, em negociações e rescisões, R$ 52 milhões), agora conta em seu plantel com nomes como Valdson, Hugo, André Gomes e Andrezinho. Júlio César e Athirson são os solitários destaques, e o jovem desconhecido Liedson é a aposta para um Brasileiro, cujo horizonte, tendo em vista os deploráveis resultados da temporada, aponta para pouco mais do que a briga para evitar a queda à Série B.
A penúria rubro-negra parece contaminar o ânimo dos colorados. “Venceremos por 3-0”, prevê, sem o menor constrangimento, o zagueiro Luiz Alberto, ex-Flamengo. E, rolada a bola, o início parece dar razão ao defensor (que está no banco). O Inter desperdiça várias oportunidades claras de gol. Mas acaba castigado, quando Andrezinho arranca pela esquerda e bate rasteiro pra área. Liedson, esperto, aproveita falha grotesca de Clemer e empurra pro gol. Mas a vantagem dura cinco minutos. Numa bela troca de passes, o Inter chega ao empate com Fabiano Costa. No entanto, o ritmo elétrico do início parece ter cansado as equipes, que cadenciam o ritmo até o final da primeira etapa.
Após o intervalo, o treinador Lula Pereira segue mantendo o Flamengo recuado, buscando explorar, em contragolpes, a fragilidade defensiva dos laterais da equipe gaúcha (Luizinho Netto e Cássio, outro ex-Flamengo). Num desses lances, Andrezinho, novamente, escapa agora pela direita e cruza rasteiro para o jovem Felipe Melo escorar e abrir 2-1. É mais um gol importante do garoto contra o Inter. Após o segundo gol, os gaúchos se descontrolam e o Flamengo passa a mandar na partida. E, novamente pelas laterais, liquida o confronto. Athirson recebe de Andrezinho e cruza, rasteiro. Liedson emenda, marca seu segundo gol e decreta os 3-1 no placar. Exatamente três anos após sua última vitória no Beira-Rio, o Flamengo derrota os colorados em seu estádio. Mas as duas equipes sofrerão com as agruras da briga contra o descenso. O Flamengo escapará na penúltima rodada. O Internacional, somente em sua última partida.


INTERNACIONAL 0-0 FLAMENGO, 27 DE SETEMBRO DE 2009

Após somar 10 pontos em 12 disputados, o Flamengo se depara com o mais duro teste desde que Andrade “achou” a formação ideal para a equipe, comandada pela dupla Petkovic e Adriano. E é o Internacional, atual quarto colocado, que eliminou justamente o rubro-negro das Semifinais da Copa do Brasil, o adversário. Sabendo das dificuldades da partida, Andrade adota um esquema cauteloso, com três zagueiros (R.Angelim, David e Álvaro, que no primeiro semestre defendera exatamente o Inter). O goleiro Bruno, suspenso, é um desfalque preocupante, cedendo lugar ao instável Diego.
Mas um elemento imprevisto acaba dando o tom da partida. Uma chuva torrencial alaga o gramado do Beira-Rio, afasta o público e por pouco não causa o adiamento do jogo. Sob protesto de alguns (“esse campo não tem condição nenhuma de jogo”, esbraveja o Imperador), a partida acontece. Mas o gramado empoçado transforma a peleja em um pastelão, com bolas levantadas a esmo nas duas áreas, todas invariavelmente rebatidas pelos eficientes sistemas defensivos das duas equipes. O Inter assusta com duas cabeçadas, defendidas com certa dificuldade por Diego. Mas o Flamengo é quem consegue as oportunidades mais concretas. Duas cobranças de falta passam rente à trave, e Leonardo Moura, diante apenas do goleiro Lauro após sobra de um escanteio, desperdiça a chance da vitória. De qualquer forma, o resultado é bem recebido. E se mostrará vital ao fim da competição. O Flamengo ganha confiança e seguirá na espetacular arrancada que o levará ao Hexa Brasileiro. Ironicamente, um ponto à frente do Internacional.



INTERNACIONAL 1-2 FLAMENGO, 08 DE JULHO DE 2015

2015 tem sido uma temporada difícil para o Flamengo, que começa a viver o momento de transição entre a escassez e a demanda pelo protagonismo. Nesse contexto, a contratação do atacante Paolo Guerrero, destaque e ídolo no Corinthians, é esperada como o ponto de inflexão desse trajeto. Num Brasileiro em que o rubro-negro, até então, tem oscilado entre o meio da tabela e a perigosa distância para o pelotão que briga para não cair, a chegada do peruano (e de outros reforços) assinala a expectativa para que o clube volte a brigar pela ansiada vaga à Libertadores. É o que o contexto, por ora, permite.
Guerrero parece motivado. Após a participação na Copa América (da qual termina como artilheiro), desembarca no Rio de Janeiro na véspera da partida contra o Internacional, é apresentado às 13 horas na Gávea e às 15 horas embarca para Porto Alegre. No dia seguinte, está em campo com Everton, Emerson Sheik e demais para enfrentar o Internacional de Aguirre, que também não vive bom momento.
O treinador Cristóvão Borges pede, e o Flamengo começa a partida de forma agressiva. Após criar algumas oportunidades, chega ao primeiro gol logo aos 10', quando Guerrero, o estreante da noite, escora bola levantada por Canteros (impedido) e abre o placar. O Flamengo não encontra dificuldades para controlar a partida, mas só chega ao segundo gol na segunda etapa, por meio de Everton, que aproveita bela assistência do peruano e manda no ângulo de Muriel. O gol colorado acontece nos descontos, quando boa parte da torcida já deixou o estádio. A vitória por 2-1, que quebra um jejum de 13 anos sem vencer no Beira-Rio, coloca o Flamengo na 13ª posição. Como esperado, o rubro-negro chegará a ocupar o G-4 ao longo do campeonato, mas sucumbirá às deficiências e à irregularidade de um elenco ainda limitado. E às mazelas da falta de comando.