segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O Caminho de Abel


Salve, Buteco! Quem me dá a honra de interagir nos comentários diários ou nos posts que escrevo toda segunda-feira sabe que venho batendo na tecla da importância da rodagem de elenco desde o início de 2018, tendo em vista as agruras do calendário brasileiro de futebol profissional. O motivo é a experiência de 2017, quando o avassalador segundo semestre derrubou um treinador (Zé Ricardo) e culminou com uma exaustiva e frustrante maratona na qual o Flamengo foi vice-campeão de dois torneios disputados em formato eliminatório e alcançou apenas o 6º lugar no Campeonato Brasileiro daquela temporada. Posteriormente, passei todo o ano de 2018 batendo nessa tecla e, muito decepcionado, vi o clube insistir no erro e o jovem treinador Maurício Barbieri se perder ao utilizar basicamente um único time durante a pior fase da previsível maratona de jogos.

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Em 2017, Pará jogou nada mais, nada menos do que 65 (sessenta e cinco) partidas na temporada, enquanto Rodinei apenas 41 (quarenta e um), ou seja, 24 (vinte e quatro) partidas a menos. Na reta final da temporada, sob o comando de Rueda, entre os meses de setembro em dezembro, Pará jogou 18 (dezoito) vezes, enquanto Rodinei apenas 11 (onze). Curiosamente, Rodinei foi mais utilizado em agosto, enquanto Pará foi o preferido do colombiano de setembro em diante.

Em 2018 saiu Rueda e veio a sequência Paulo César Carpegiani/Maurício Barbieri. Inobstante o rodízio de técnicos, o desequilíbrio na rodagem do elenco na lateral direita persistiu, embora de maneira distinta. Rodinei disputou 45 (quarenta e cinco) partidas, enquanto Pará apenas 31 (trinta e uma); mas o rodízio entre ambos, na pior parte do calendário (agosto/setembro), intensificou o erro do ano anterior: Pará disputou 9 (nove) partidas em sequência no mês de agosto, enquanto Rodinei disputou 7 (sete) seguidas em setembro.

Pergunto-me por que os gênios não cogitaram um simples rodízio, que certamente não faria nenhum dos dois jogar o que não sabe, mas evidentemente evitaria o desgaste potencializador do que têm de pior.

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O que dizer de Willian Arão, que em 2017 disputou assustadoras 68 (sessenta e oito) partidas na temporada? Se parece ser consenso que o atleta não é um modelo de “raça” e aplicação tática, é fácil calcular como a maratona atingiu sua performance. Não deixa de ser curioso observar que sua melhor fase no Flamengo foi na temporada passada (2018), na qual jogou apenas 33 (trinta e três) vezes, especialmente na reta final sob o comando de Dorival Júnior, que, empoderado pela Diretoria, posicionou-o taticamente em sua posição original.

Àquela altura, contudo, Inês já agonizava.

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É preciso atenção tanto para evidentes discrepâncias, como também para determinadas nuances com os números. Por exemplo, ainda em 2017, o Grêmio campeão da Libertadores utilizou os meias Arthur e Luan, destaques absolutos da campanha, respectivamente por 52 (cinquenta e duas) e 50 (cinquenta) vezes. O Corinthians, eliminado da Copa do Brasil em abril e que, paralelamente ao Brasileiro, disputou apenas uma Sul-Americana com grandes intervalos entre os jogos, utilizou Maycon por 58 (cinquenta e oito), Rodriguinho por 57 (cinquenta e sete) e Fagner por 56 (cinquenta e seis) vezes.

É bem verdade que temos pontuais casos como, em 2017, de Jô pelo Corinthians e Éverton pelo Grêmio, com 64 (sessenta e quatro) e 61 (sessenta e um) jogos, respectivamente, ou Dudu e Bruno Henrique pelo Palmeiras em 2018, o primeiro com 66 (sessenta e seis) e o segundo com 62 (sessenta e dois) jogos.

Contudo, são exemplos diferentes de Éverton Ribeiro pelo Flamengo em 2017, o qual praticamente iniciou todas as 40 (quarenta) partidas nas quais entrou em campo, das 44 (quarenta e quatro) disputadas pelo clube em sequência entre o início de julho (sua estreia) e a finalíssima da Copa Sul-Americana, em dezembro. Isso porque no primeiro semestre o atleta também havia disputado as partidas pelo Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos.

Como se não bastasse, em 2018, dentro do total de 58 (cinquenta e oito) partidas disputadas pelo Flamengo, a partir de 18 de julho (pós-Copa) até 29 de setembro Éverton Ribeiro entrou em campo em uma alucinante e absurda sequência de 20 (vinte) jogos sem intervalo no meio de semana, sempre iniciando as partidas. Ao contrário, jogadores como Éverton “Cebolinha”, Dudu e Bruno Henrique frequentemente foram poupados e entraram em campo apenas nos minutos finais de vários jogos. 

Porém, não custa lembrar que, entrando no final de uma partida do Brasileiro contra o Bahia, na Arena, "Cebolinha" sofreu uma contusão muscular que acabou comprometendo o destino do tricolor gaúcho na Libertadores... Mesmo uma branda exceção à regra cobrou sua fatura no caso do Grêmio, que não conquistou título relevante em 2018.

Enquanto isso, nas Alterosas, um certo uruguaio de nome Giorgian De Arrascaeta foi utilizado pelo Cruzeiro, no triênio 2016/2018, respectivamente por 53 (cinquenta e três), 44 (quarenta e quatro) e 48 (quarenta e oito) vezes, e nem sempre iniciando as partidas… Adivinhem em quais anos vieram os títulos?

Agora eu lhes pergunto: diante desse contexto, o que podemos dizer a respeito da intensidade ou do desempenho físico de Éverton Ribeiro em sua temporada e meia pelo Flamengo?

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Enquanto a alternância de jogos se der entre a Libertadores e o Estadual, terá maior relevância a escolha de qual time disputará cada competição. Todavia, a partir do final de abril até a paralisação para a Copa América, o Flamengo intercalará jogos pela 6ª Rodada do Grupo 4 da Libertadores, oitavas de final da Copa do Brasil e as oito primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, quando então a discussão sobre time titular e reserva perderá em muito a substância. Logo adiante, após o final da competição sul-americana de seleções, acaso chegue às finais da Copa do Brasil e da Libertadores, o Flamengo iniciará uma exaustiva maratona sem intervalos no meio de semana até novembro, quando então falar em time titular ou reserva, e não em times A e B, não fará mais o menor sentido.

Time A muito mais forte do que o time B resultará em fracasso precoce em alguma competição muito importante. Se o time A for utilizado no Brasileiro, as chances de título serão maiores, ao passo que, acaso isso ocorra nas competições eliminatórias, sujeitas a muito mais variáveis, as chances diminuirão.

Abel e o Departamento de Futebol do Flamengo têm suas razões não só quando deixam de repetir 2017 e 2018, como também quando “copiam o modelo cruzeirense, gremista e palmeirense, clubes que, enquanto ficamos a ver navios, conquistaram importantes títulos no último triênio. É certo que, executando essa estratégia, especialmente Cruzeiro e Grêmio não disputaram efetivamente o título brasileiro neste mesmo período. Não menos correto é que nenhum dos dois teve um elenco do nível que o Flamengo terá em 2019.

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Adianta planejar bem e errar na execução? Guardadas as devidas proporções, por decorrência das fragilidades do plantel rubro-nego no sistema defensivo, um bom exemplo é o Palmeiras/2018. Trocou de comandante no meio da temporada e ao seu final colheu os frutos pelo forte e homogêneo elenco que montou.

No que foi até aqui o time A do nosso novo treinador, assistimos perplexos ao Arão jogando em linha com Uribe, enquanto Diego e Everton Ribeiro se posicionam logo à frente de Gustavo Cuéllar, o que parece jogar por terra todo o avanço conquistado sob o comando de Dorival. No time B, Jean Lucas embolava com Arrascaeta, tão perdido quanto Hugo Moura, que não sabia se avançava ou ficava ao lado de Piris da Motta.

Por enquanto, os times A e B de Abel Braga formam uma baderna tática que atraiu merecidas críticas do torcedor e da crônica esportiva, até porque ressuscitaram formações que, por não terem dado resultado, já haviam sido descartadas. 

Embora Abel tenha escolhido o caminho certo, precisa demonstrar que consegue percorre-lo.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.

PS: por enquanto, evitarei o assunto Sampaoli.