segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Ecos de 1979

Salve, Buteco! Há tempos que eu procurava na Internet a confirmação de uma estória sobre uma excursão do Flamengo, nos anos 70, que meu Pai havia me contado quando eu ainda era garoto. Falava sobre o confronto contra um forte time da extinta "Cortina de Ferro" e uma inusitada troca de camisas e posições entre Toninho Baiano, lateral direito, e Cláudio Adão, centroavante. O caso é pitoresco e divertido. Lembro-me do Velho dando gargalhadas ao contar. Após algum esforço, finalmente encontrei um registro do fato no blog Historia de Torcedor, do grande rubro-negro Moraes, que o contou da seguinte forma:

"A MONTAGEM DO SUPER FLAMENGO
O Melhor Time Do Mundo

Depois da Copa, o Claudio Coutinho voltou a dirigir o Flamengo e começou a montagem do maior time do mundo, que durou até 1983, com a venda do Zico para a Udinense. Escaldado pela experiência e decepção da Copa na Argentina, ele reviu algumas idéias e realmente mudou todo o futebol brasileiro.
O time do Flamengo jogava por música. Com três ou quatro passes chegava ao gol adversário. Ver o Flamengo jogar virou programa de gente que nem flamenguista era. Futebol alegre, pra frente, com muitos gols. Com isso, o time foi ganhando projeção internacional e era convidado a toda hora para fazer amistosos, no Brasil e no exterior.
Um desses convites foi para jogar um torneio de verão na Espanha e, de lá, vários amistosos na Europa. Como não arranjei ninguém para ir comigo, lá fui eu sozinho. Nessa época eu já conhecia vários dirigentes, jogadores e, especialmente, um funcionário administrativo do clube, meu amigo Ayer Andrade, que me dava a programação completa da viagem, com jogos, hotéis e companhias aéreas. Com isso, montava meu roteiro, que incluía os mesmos vôos, ficava nos mesmos hotéis etc. Não era uma tietagem, e sim, uma forma de ter companhia em terras estranhas.
Apesar dos torneios de verão da Espanha serem desenhados para o time da casa ganhar, o Flamengo papava todos eles. Houve um em que acabamos a decisão com oito jogadores. Foi uma roubalheira danada de um juiz, que devia odiar preto e vermelho, pois expulsava qualquer jogador do Flamengo que passasse respirando perto dele. O saudoso Jorge Cúri quase morreu de tanta indignação. Foi uma época de ouro. O time se acostumou a jogar decisões e ganhá-las. O conjunto ia sendo moldado à imagem e semelhança de seu criador, Cláudio Coutinho.
Um fato que muito me marcou foi o início da nossa amizade. Batíamos longos papos e num deles ele me confidenciou:
Moraes, tudo o que eu sou no futebol devo ao Mestre Zagalo. Ele é o mestre dos mestres. Aprendi muito com ele. Mas ainda assim tive que rever alguns conceitos que ele me ensinou, e talvez o tenha feito muito tarde. Por exemplo: se fosse hoje, eu ganhava fácil a Copa da Argentina. Talvez por inexperiência ou bobeira - sei lá - perdi uma Copa. Mas o Flamengo vai me levar de volta à Seleção, e eu vou ser campeão na Espanha. Anota aí – repetiu ele – vou ser campeão da Copa do Mundo na Espanha.
Ainda me lembro dessas palavras como se fosse hoje. Uma pena que o destino não tivesse compactuado com isso. Deus levou o Coutinho para treinar o “time do Céu” antes disso.
Ainda nessa excursão, fomos jogar na Hungria e o time adversário fazia uma marcação homem a homem, pelo número da camisa. O Coutinho, esperto, mandou o Cláudio Adão entrar com a 2 e o Toninho com a 9. Na hora de começar o jogo, lá estava o Adão na lateral direita, e o Toninho junto do Zico. Das cadeiras eu pensei:
O homem pirou: o Coutinho ficou maluco, pensei!
Nem bem a bola rolou e os dois trocaram de posição. Os gringos colaram nos jogadores errados. Quando eles viram a mancada, já era tarde; tínhamos enfiado dois neles. Aí, meu irmão, um abraço..."

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Com a prestimosa ajuda do excelente acervo do FlaEstatística, descobri que tudo aconteceu durante a excursão de 1979 à Europa. O jogo? Não foi na Hungria. Tratou-se de nada menos que a decisão do Troféu Ramón de Carranza, em Cádiz, Espanha, contra o Ujpest Dozza, da Hungria, então bicampeão nacional, que havia batido o Cádiz, anfitrião, na outra semifinal. Portanto, na verdade o adversário é que era húngaro. Na decisão, o Flamengo entrou em campo com Cantarele; Toninho, Manguito, Nélson e Júnior; Andrade (Adílio), Carpegiani e Zico; Tita, Cláudio Adão e Júlio César. No comando técnico, o saudoso, mas imortal na Memória Rubro-Negra, Cláudio Coutinho. Dois gols do Galinho de Quintino, o artilheiro do torneio, garantiram a taça.

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A final contra o Ujpest, por mais incrível e inusitada que pareça, não ficou marcada na história como o destaque da vitoriosa campanha rubro-negra no Ramón de Carranza/1979, e sim a semifinal contra o poderoso Barcelona, vencida pelo Mais Querido por 2x1 (gols de Zico e Júlio César). O time que iniciou a partida foi o mesmo da final e ainda teve as substituições de Andrade, Cláudio Adão e Júlio César por Adílio, Beijoca e Reinaldo.

Andrade e o nosso "Uri Geller" contaram como foi a semifinal ao canal Esporte Iterativo:


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Que as memórias de 1979 inspirem um triênio vitorioso, resgatando a essência vencedora do Clube de Regatas do Flamengo, o Mais Querido do Brasil.

Feliz Natal e SRN a tod@s.