quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Alfarrábios do Melo


“Tecnocracia: modelo de governabilidade funcional fundado na supremacia dos técnicos.”

Saudações flamengas a todos,

Toda eleição, sem exceção, seja para o que for, é a principal ferramenta à disposição de um regime democrático para ouvir o que pensam e querem os respectivos votantes. É, no caso do Flamengo, onde se estabelece a comunicação entre o corpo dirigente e seus associados. Que indicam, de forma clara e insofismável, o que desejam do clube para os anos vindouros.

Em 2015, a Situação pleiteava a reeleição de Eduardo Bandeira de Mello, cujo mandato, até então, havia se notabilizado por protagonizar o mais espetacular e bem-sucedido resgate da viabilidade administrativa da Instituição desde o trabalho desenvolvido pela FAF no final dos anos 70. Acenava com a continuidade do projeto de restauração do protagonismo do Flamengo, agora com ênfase no campo esportivo, notadamente no futebol, onde os resultados ainda não refletiam a percepção de excelência auferida em outras áreas da gestão. Para tal, prometia a construção de um Centro de Treinamento de vanguarda, o aprimoramento de equipamentos e instalações, dotando o clube de uma estrutura de primeira linha, a contratação de empresas de consultoria reconhecidas mundialmente, e a montagem de um elenco de profissionais (jogadores e comissão técnica) de nível compatível com a dimensão e o porte de um clube como o CR Flamengo.

Em contraponto, uma Oposição, liderada pelo grupo que, em 2015, cindiu a dita Chapa Azul original por questões de divergência política, despendia tempo e energia repetindo ao eleitor uma triste história acerca de uma suposta “traição” a um acordo que previa um revezamento no cargo de Presidente. Negava a pecha de “oposição”, com uma mensagem confusa sobre a paternidade de acertos e erros da Diretoria. Criava factoides, “anunciando” o interesse em alguns profissionais, o que era rechaçado pelos mesmos. Notabilizava-se pelo uso de ferramentas controversas de disseminação de mensagens nas redes sociais. Não conseguia ser clara acerca do que queria. Carrancuda, abraçava-se em uma agenda negativa de rancor e ressentimento.

Diante desse quadro, não foi difícil escolher quem deveria seguir com o mandato de Presidente.

Passaram-se três anos. E, de fato, os avanços estruturais prometidos pela “Chapa Azul” foram, em grande parte, alcançados. O Flamengo hoje dispõe de dois Centros de Treinamento de bom/ótimo nível, a estrutura de equipamentos posta à disposição dos atletas é reputada como de excelência, o clube se cerca, de fato, de robustos trabalhos de consultoria que efetivamente trouxeram resultados (ao menos enquanto presentes no clube), o elenco realmente foi aprimorado, enfim, os principais pontos da plataforma da campanha “azul” estão aí. Com efeito, cenas como as entrevistas em containers improvisados em meio a lodaçais, ou jogadores sendo removidos de campo carregados em carrinhos de obras, fazem parte de um indesejado passado. O plantel, ao invés de sumidades como Thalysson, Bruninho, Val, Wallace e Feijão, agora conta com Éverton Ribeiro, Vitinho, Diego Alves, Cuellar, Diego e outros atletas de qualidade.

No entanto, a avaliação do segundo mandato de Eduardo Bandeira de Mello, em nível global, é a de um perfeito, clamoroso e retumbante fracasso. O que não é difícil constatar, uma vez que a cada jogo do Flamengo no Maracanã o mandatário é agraciado com toda a sorte de xingamentos e impropérios desferidos por quase todo o estádio. E, ao contrário do que sibila o Presidente, são 30, 40, 50 mil vozes espontâneas. Não remuneradas.

Mas o que deu errado?

A Chapa Azul, agora transmudada em Rosa, prega, em sua campanha, que pretende alçar o VP de Futebol Ricardo Lomba à Presidência, “Seguir Avançando”. A mensagem parece bastante didática. O clube está no caminho certo e, com a estrutura e os processos já implementados, encontra-se pronto para conseguir as vitórias. Em uma linguagem mais coloquial (que não pode ser estampada em folders e banners), a Diretoria irá se livrar da incômoda presença de Eduardo Bandeira de Mello e colocará, em seu lugar, alguém mais capaz de fazer funcionar todo esse aparato estrutural que já foi aportado no clube.

É certo que o segundo mandato do atual Presidente terá sido, utilizando uma palavra amena, frustrante. Porque, apesar de toda essa traquitana, dessa numeralha, desses processos e sistemas, o Flamengo não vence. Não “performa”, no linguajar tão caro à Diretoria. Não conquista. Diante da adversidade, soçobra. Perde sistematicamente e com inquietante regularidade todo e qualquer título de expressão que se propõe a disputar. Dizia-se, “jogar no Maracanã é um inferno”. Pois. Se, neste 2018, elaborarmos uma lista de uns nove ou dez jogos de caráter decisivo disputados no Maracanã, veremos que o estrelado elenco do Flamengo terá amealhado o triunfo em dois ou três deles. Uma cifra irrisória e absolutamente inaceitável. O Flamengo, de lema seminal “Tua Glória é Lutar”, transformou-se em um ajuntamento “limpo, recatado e do lar”. Burocrático. Frio. Resignado.

Pode-se, em uma abordagem superficial e cômoda (embora não necessariamente improcedente) reputar a responsabilidade desse fiasco ao desempenho de seu Presidente, que, com efeito, demonstrou, nesse segundo mandato, não reunir a mais remota condição de liderar qualquer agrupamento que se pretenda vencedor. Ensimesmado em convicções dogmáticas, munido de renhida, quase religiosa, necessidade de se arrogar o monopólio das verdades, impondo suas certezas a opositores e detratores, apondo ao âmbito pessoal toda e qualquer acepção crítica ao seu mandato, desenvolvendo uma relação promíscua com seus subordinados, demonstrando publicamente afeto e apreço por profissionais medíocres, enfim, toda sorte de inapeláveis e inescapáveis sinais de despreparo e falta de estatura compatível com o exercício da presidência de um clube da dimensão que ele mesmo ajudou a erigir no triênio anterior.

No entanto, em todo regime presidencialista existe uma base política que confere ao detentor da caneta o respaldo e o suporte às suas ações. E, em que pese certos pontos de divergência (alguns deles quase criando dissensões), existe, sim, uma defesa clara do que foi construído no triênio 2015-18. A falta de resultados é mascarada por argumentos digressionistas como “melhor campanha nos pontos corridos”, “participações recorrentes em Libertadores”, temperadas por adágios capazes de desafiar o mais paciente dos monges: “o dia que a bola entrar, ninguém segura”, “se fulano não tivesse perdido aquele gol”, subterfúgios que traduzem a tal “muleta do longo prazo”. Um dia, venceremos. Enquanto isso, vamos distribuindo bônus e premiações por derrotas.

Mais do que uma necessidade meramente eleitoral de defender suas ações, a Situação realmente reúne a crença de que a excelência de processos, a robustez de dados e estatísticas, a montagem de elencos qualificados e bem remunerados, e a entrega de toda essa estrutura ao comando de profissionais de bom nível, trará, por si só, os resultados desejados. A premissa é estruturar. A intervenção, caso necessária, tem que ser focada no aprimoramento dos meios. A energia está na melhora das condições. E os resultados virão. Um dia.

Como nas tecnocracias.

A candidatura de Rodolfo Landim, de uma Oposição que é formada fundamentalmente pelo mesmo grupo dissidente de 2015, mas agora amplificada pelo apoio de vários outros grupos e lideranças, desta vez acena com um tipo de mensagem mais propositiva e menos rancorosa, sugerindo outro tipo de abordagem para a administração do futebol. Transmite um diagnóstico bastante claro e direto: o Flamengo não vence porque não QUER vencer. Porque falta, aos seus Dirigentes, gerir com foco nos resultados. E propõe uma forma de administração mais intervencionista, que deixe menos “solta” a condução do dia-a-dia pelos profissionais da área. Uma administração que não marginalize o conhecimento gerado pela experiência prática da vivência dentro dos gramados. Que confira à expertise de campo valor tão alto quanto à das planilhas e análises teóricas/estatísticas. Que entenda o jogador, além de profissional de futebol, como um boleiro, susceptível a uma liderança típica de um clube de ponta.


É bem verdade que falta certa coesão à Chapa Verde que virou Roxa. Que a presença de alguns integrantes (que terão voz ativa no cotidiano do clube) inquieta e incomoda. Que mesmo a cúpula, o “núcleo duro” de seus membros dispõe de alguns quadros que, exercendo determinados cargos diretivos, exibiram cintilante incompetência. Que existe o risco real de alguns avanços, notadamente no que diz respeito ao Futebol de Base (o ponto onde a Situação realmente apresenta resultados reais, sólidos e concretos), serem mitigados. Tudo isso corresponde à verdade.

Mas uma eleição se propõe a mais do que “fulanizar” propostas (até porque a Situação também recebe alguns apoios controversos). O mais importante, o mais relevante, o fundamental, quando se coloca diante das urnas, é avaliar e sopesar qual a mensagem que cada uma das Chapas tem a transmitir para o eleitorado. E, diante de cada posicionamento, optar pela que reúne mais condições de seguir o caminho que se pensa para o clube.

Particularmente, acredito que o Flamengo ainda pode e deve evoluir, crescer, equipar-se, consolidar-se como ator relevante no nosso futebol. No entanto, penso que nenhum trabalho, nenhum projeto, nenhuma iniciativa em gestão esportiva sobrevive sem auferir RESULTADOS. E, em um clube como o Flamengo, o único resultado a ser perseguido são os TÍTULOS. A Instituição deverá se mover, de forma orgânica e obsessiva, na persecução de TÍTULOS. VITÓRIAS. A busca por TÍTULOS deve ser enérgica e incondicional. Se houver dez títulos a serem disputados, o Flamengo terá que tentar colher os dez. Não ganhará todos. Mas, dentre os eventuais motivos para uma derrota, jamais estará a falta de luta, de ardor, de denodo. Porque isso é o que somos. Nascemos para guerrear os grandes combates. Para os grandes palcos. Para o protagonismo e para a glória. A Glória de Lutar. Lutar, hoje e sempre, por vitórias. Recusar-se a perder. Está na nossa História. Está na nossa alma.

Não queremos mais esperar o amanhã. O amanhã é hoje. O hoje é agora.

E, diante disso, foi possível exercer minha escolha.

Boa semana e boa eleição a quem for votar,