segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Ecos do Mané Garrincha

Salve, Buteco! Sábado estive no Mané Garrincha para assistir ao clássico contra o Vasco da Gama e confesso que ainda estou tentando aplacar a minha fúria contra o time do Flamengo. A capacidade que os jogadores, o Departamento de Futebol e a Diretoria têm para frustrar os torcedores e dissipar o mínimo resquício de esperança é algo digno de estudo. Falando muito sério, o que foi aquele primeiro tempo? Aqueles vinte primeiros minutos? Todo adversário pressiona o Flamengo no começo da partida e da etapa final. Todo jogo o mesmo enredo se repete, com a postura letárgica nos primeiros minutos de jogo, o que já nos custou nada menos do que a eliminação na Libertadores da América, pois acredito que todo mundo se recorde do que foi o início da partida contra o Cruzeiro no Maracanã. O símbolo dessa postura foi a facilidade com que o Vasco da Gama penetrou no lado esquerdo da nossa grande área, encontrando generoso espaço para o cruzamento que resultou no gol.

Este vídeo postado do YouTube  é didático, a começar por ter apenas as imagens de mais de uma câmera e o áudio do estádio, porém não a costumeiramente desagradável narração de Luiz Carlos Jr. Revendo o lance é possível constatar: a) que Vitinho assiste à jogada vascaína sem oferecer o mínimo de resistência ou combatividade no setor esquerdo defensivo; b) o buraco defensivo leva o Réver a abandonar a marcação sobre Andrés Rios, que termina marcando o gol no final do lance; c) Pará consegue ser muito pior do que Rodinei na marcação, repetindo o mesmo erro vem cometendo há anos, postando-se estático e deixando fluir a jogada ofensiva adversária sem qualquer marcação, e, para piorar, d) Andrés Rios finaliza em posição de impedimento, como demonstra claramente a imagem do vídeo entre os segundos 10 e 13, que a narração não se preocupou em apontar. 

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Éverton Ribeiro, Diego, Lucas Paquetá e Vitinho. O que dizer da nossa "segunda linha de quatro"?  Começarei pelo nosso atual camisa 10. Diego vem sendo alvo de pesadas críticas da torcida, com as quais concordo em parte. É inegável (ao menos para mim) que o Ribas, ao contrário de Everton Ribeiro e de Lucas Paquetá, e até do que Vitinho, utiliza muito pouco o recurso do passe vertical, aquele que, no jargão atual, "quebra" a primeira linha adversária, permitindo que a bola seja recebida "nas costas" da zaga. Para quem executa com predominância a função de "buscar o jogo" e organizar o meio campo, de modo a fazer as jogadas "fluírem", cria muito pouco e torna o time lento com uma grande quantidade de passes burocráticos, sejam laterais ou diagonais. Muito embora seja perceptível que Diego é uma liderança muito forte dentro de campo e um dos que mais corre e se esforça, a lentidão e previsibilidade do time passam, e muito, por sua inoperância na função tática que o treinador lhe atribui e ele próprio chama para si.

As críticas a Diego são injustas quando apenas seus erros são apontados e não os de seus companheiros da segunda linha. A começar pela combatividade, que sobra em Diego. Os mais jovens, Vitinho e Lucas Paquetá, passam por períodos de sonolência ou hibernação durante grande parte do jogo. O primeiro tempo de ontem foi um bom exemplo. A frouxidão dos dois no combate no setor esquerdo defensivo do Flamengo facilitou a criação de várias jogadas de perigo do Vasco da Gama durante a partida, principalmente nos quarenta e cinco minutos iniciais. Aliás, como visto, foi assim que nasceu o gol cruzmaltino. Além disso, falta intensidade no confronto direto contra as zagas adversárias, e os dois, assim como Everton Ribeiro, vêm errando passes importantes e decisivos, o que sábado à noite poderia ter mudado a história da partida.

Todavia, ainda falando de sábado, fiquei com a impressão que o Flamengo teve seu melhor momento com dez em campo, sem Diego (após a expulsão), especialmente quando, após o gol de empate, Willian Arão substituiu Uribe, o que levou a um interessante "diálogo" entre Vitinho e Paquetá pelo setor esquerdo. Minha posição nas arquibancadas inferiores era privilegiada e por isso talvez para mim tenha ficado mais claro do que na transmissão ao vivo ou mesmo nos videotapes. Pareceu-me que o time ficou menos travado e mais agudo, efeito que, contudo, diminuiu de intensidade com a entrada de Berrío, visivelmente inferior a Vitinho em nível técnico.

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Já escrevi em vários posts que considero a formação com três meias e Vitinho bastante válida como alternativa tática, mas irreal como esquema único para uma sequência tão dura de jogos como a desse segundo semestre. Pois bem, o clássico de sábado à noite reforçou minha convicção de que Diego e Lucas Paquetá concorrem por uma vaga no time. O site Torcedores.com, nesta matéria do último 11.09, aponta Lucas Paquetá como maior finalizador do Campeonato Brasileiro em curso, ao lado de Ricardo Oliveira. Ressalvada a obviedade de que o rival é centroavante, Paquetá tem quatro gols a menos (6x10) e apenas um a mais do que Diego, que sempre teve na carreira, e no Flamengo, uma boa média de gols (para um meia). Minha dúvida é se Paquetá tem maior potencial para ser um excelente meia defensivo com boa capacidade de infiltração e finalização ou um meia ofensivo "rompedor" e artilheiro. 

A posição ideal do Paquetá é objeto de opiniões para todos os lados. Tenho para mim que, para ser um meia ofensivo de ponta, Paquetá pode e precisa melhorar no fundamento finalização; já como meia defensivo, precisa aprimorar o fundamento da marcação. Seja qual for a escolha, parece ainda ter muito chão para percorrer. Como meia "organizador" tem bem mais qualidades do que Diego, e na função ofensiva é um pouco mais efetivo. No Campeonato Brasileiro, Ribas marcou contra Ceará, Paraná, Bahia, Vitória e Chapecoense (pênalti), enquanto Lucas balançou as redes contra Vitória Internacional, Bahia, Botafogo, Sport e América/MG.

Minha preferência é pelo menino Lucas, que evidentemente tem um potencial bem maior a ser explorado, desde que consiga ser mais regular e volte a ter mais atitude dentro de campo. Enquanto estiver apático e avoado, sonhando com a Europa, será apenas um jogador de lampejos, justificando até se tornar apenas uma opção no banco de reservas, enquanto Diego, desde que jogue mais adiantado, por sua liderança e atitude dentro de campo tem importância que não pode ser negada. É como se fosse uma competição de quem toma o "semancol" primeiro.

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Mas por que Diego ou Lucas Paquetá e não Vitinho ou Éverton Ribeiro? Penso que, com muitas características opostas entre si e diferentes em relação aos outros dois, Vitinho e Éverton Ribeiro, também pelo desnível do restante do elenco, efetiva ou potencialmente executam funções únicas. Éverton Ribeiro, na minha opinião, vem sendo a melhor relação custo x benefício entre os quatro. Já Vitinho vem sendo alvo de várias críticas, mas seus lampejos me animam a ponto de confiar em uma subida de produção ainda esse ano, o que poderia ser muito facilitado por uma mudança tática cobrada tanto pela torcida, como pela crônica esportiva que acompanha o Mais Querido.

Embora ambos sejam atacantes velozes, habilidosos e tenham vários recursos, é preciso compreender as diferenças entre Vinícius Jr. e Vitinho, tarefa, pelo visto, demasiadamente complexa para o estagiário no poder. Vitinho pode jogar pelas pontas. Sábado mesmo foi bem em algumas jogadas de ultrapassagem, como em lances pontuais nas outras partidas. Contudo, como, ao contrário de Vinícius, não é "driblador", vale-se com bem menos frequência desse tipo de jogada durante os noventa minutos. Num 4-4-2 ou 4-2-3-1, a partir da entrada de um segundo jogador de marcação, outras características de Vitinho, como movimentação pelo ataque, velocidade, capacidade de infiltração na área e mesmo os chutes de longa distância poderiam ser melhor explorados, de acordo com o seu estilo.

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Qualquer mudança tática, contudo, levaria inevitavelmente à barração de um dos quatro ou a jogar sem centroavante, esta última solução duvidosa para um time que vem acusando tantos problemas ofensivos. Hoje, eu optaria entre Diego e Paquetá, com maiores chances para a joia da base. Contudo, o clube não parece pronto para tomar decisões difíceis. Ao contrário, mesmo com duvidosas possibilidades de reeleição, a atual Diretoria, com grandes competições em curso, dá como favas contadas a venda do menino Lucas, o que considero inoportuno, absurdo e ultrajante. Afinal de contas, qual é a finalidade da base? Será que também passa por dar retorno esportivo ou a prioridade absoluta é o lucro mediante a negociação dos maiores talentos na primeira oportunidade (ou pressão)?

Em um cenário de tanta indecisão e fraqueza, é difícil imaginar um elenco coeso em torno do objetivo de alcançar as maiores conquistas, ou seja, do Flamengo em primeiro lugar.

A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.